ATTACK THE BLOCK (2011)

Um bando de delinquentes adolescentes que moram em um prédio de habitação social no Sul de Londres tem que lidar com uma invasão alienígena e, ao mesmo tempo, fugir da polícia. Poderia ser o mote para um filme chato ou moralizante, mas ele não é nem uma coisa nem outra: é uma grande história sobre privilégios raciais, com personagens riquíssimas. Assumo o chavão: "La Haine meets War of the Worlds".. 

KILL BILL VOL. 2 (2004)

Já perdi a conta às vezes que vi a primeira parte de Kill Bill (só no ano em que estreou, foram três), mas só vira a segunda parte uma vez. Continuo a achar o que achei: mais calmo e menos surpreendente do que o primeiro e um pouco anticlimático..

UNE FEMME MARIÉE (1964)

Nunca tinha visto este Godard, e é notório como a câmera e a edição agitadas dos primeiros anos evoluíram para um estilo em que cada plano parece extremamente ponderado, como se o tema da impossibilidade de comunicação não passasse mais para o olhar que a olha. Além disso, nota-se que, sendo sempre possível que as personagens de Godard sejam espelhos uma das outras, com traços repetidos de filme para filme, as suas mulheres denunciam um pensamento muito mais complexo do que os homens. Logo no início, Charlotte conta ao seu amante a história de uma cicatriz, e ele diz que é "como uma casa onde nunca se entrou". Fala em abstrato, sobre corpos ou intimidades, ou sobre a própria mulher na sua frente, que resiste às propostas de engravidar? Talvez fale sobre tudo, e esse parece-me o grande triunfo da Charlotte de Macha Méril. Mais do que Karina, e mais até do que Bardot, ela representa uma mulher através do seu corpo, um corpo que está em risco permanente de ser alienado, não só pelos homens com quem ela se relaciona, mas pela publicidade e pela Moda, que dizem como ele deve ser adornado e moldado, e, claro, por nós, os espectadores que têm o poder de lhe produzir o sentido quando ele nos aparece. Charlotte não é nenhuma heroína. Ela é uma mulher acomodada à sua posição social, que adora comprar roupa, se orgulha dos pequenos luxos do seu apartamento e cujo desejo é definido principalmente pelo desejo alheio. O seu drama é pequeno, de classe média, mas com ele se fez este filme absolutamente maravilhoso.

PREDESTINATION (2014)

É comum ver a identidade como tema central em histórias de viagem no tempo, mas o enfoque por que Predestination a aborda pareceu-me absurdamente original: a transição de género. Havia tempo para o último ato ser mais desenvolvido, mas, ainda assim, um belo filme.

BACK TO THE BEACH (1987)

Descobri este filme por causa do clipe da versão de "Pipeline" tocada pelo Dick Dale e o Stevie Ray Vaughan. É uma sátira dos filmes de praia dos anos 50 e 60 interpretada por duas estrelas destes, Frankie Avalon e Annette Funicello. É como se a Xuxa e o Sérgio Mallandro hoje fizessem um filme satirizando Lua de Cristal. O distanciamento cultural fez-se sentir aqui. Sem ter visto Beach Blanket Bingo ou sem saber que a senhora Anette fez muitos comerciais para manteiga de amendoim, não percebi algumas das piadas, que passaram como simples comédia "nonsense". A auto-sátira e o absurdo fizeram dele uma comédia boa para a sua época e para os EUA, tanto que ganhou dois "thumbs up" de Ebert e Siskel. Porém, 33 anos depois, perdido do seu contexto na "americana", é pouco mais do que um filme com graça por nitidamente não se levar nada a sério..