THE INVISIBLE MAN (2020)

Representou uma mudança de direção no universo cinemático dos monstros da Universal (menos efeitos especiais, mais história e personagem) e é uma absoluta vitória. Revisita a história do Homem Invisível fortalecendo a perspectiva da personagem feminina, revelando aquela como um conto sobre relacionamento abusivo e perseguição, em sintonia com os tempos e conseguindo grandes momentos de suspense.

ENGLAND IS MINE (2017)

Esta biografia ficcional e não-autorizada de Morrissey sofre com os defeitos do próprio: é muito difícil empatizar com uma personagem tão chata e com tamanhas ilusões de grandeza.. 

DARK WATERS (2019)

Na Amazon Prime. Acho que nunca vira um filme do Todd Haynes tão abertamente de denúncia. Fiquei boquiaberto por descobrir, não só como o uso e fabrico do Teflon são nocivos para a saúde, mas também a monumentalidade da ação jurídica que foi necessária para que as suas vítimas fossem compensadas. Depois desta, as minhas frigideiras estão com os dias contados.

ROOM 2806: THE ACCUSATION (2020)

Sinceramente, eu pensava que Dominique Strauss-Kahn estava preso e, se não fosse esta série da Netflix, ainda o pensaria hoje. Ao contrário de outros documentários de "true crime", ela não tenta desenterrar novos fatos e prefere fazer algo que, arrisco, talvez seja até mais interessante: ela revela o ex-dirigente do FMI como a prova cabal de que as brechas do sistema servem para os poderosos se abrigarem. As vítimas de Strauss-Kahn são muitas, mas as do sistema somos todos nós.

SMALL AXE (2020)

Acho que esta obra do Steve McQueen é das coisas mais incríveis que vi na televisão nos últimos tempos. Primeiro, por causa do seu formato inusitado: não é bem uma série, mas uma "série de filmes", o que tem levado à indefinição sobre qual a temporada de prémios a que ela deve concorrer. Ao que parece, o próprio McQueen esteve indeciso e, em algum momento durante os dez anos em que ele andou a desenvolver o projeto, ela assumiu a forma de uma série mais convencional. Porém, quando ele percebeu que tinha material muito rico nas mãos, decidiu que o melhor seria fazer cinco filmes, cada um contando uma história da comunidade afro-caribenha de Londres durante os anos 60 e 70. Alguns filmes contam histórias inspiradas em pessoas reais; outros inventam personagens ficcionais para retratar fatos ou ambientes. Eles também variam em estilo, mostrando as diversas facetas autorais de McQueen: "Mangrove" e "Alex Wheatle" lembram "Hunger" no seu retrato da pessoa contra um Estado opressivo, "Red, White and Blue" e "Education" focam na importância da consciência individual na luta contra a injustiça. Para mim, o mais extraordinário é "Lovers Rock", em que McQueen parece voltar às suas raízes de "video artist" para nos apresentar um baile num "sound system". Enredo fino, extremamente visual e, simultaneamente, totalmente realista, com momentos que me deixaram de queixo caído e completamente preso na tela. Com um elenco extraordinário, quase todo negro, e histórias que tocam em feridas profundas do colonialismo, não consigo entender porque a Amazon Prime ainda não estreou esta série no Brasil.

STUART: A LIFE BACKWARDS (2007)

Um telefilme com uns jovens Tom Hardy e Benedict Cumberbatch que, no fundo, serve como veículo para eles se mostrarem e anunciarem os estilos de representação que ainda hoje os caracterizam: o sutil, "posh" e pontualmente arrogante Cumberbatch em contraste com o excesso de Hardy que o leva tanto à genialidade quanto à caricatura.

HARD EIGHT (1996)

Que grande personagem é o Sydney de Philip Baker Hall, e como a rapaziada independente americana dos anos 90 sabia subverter as expectativas e surpreender com grandes filmes. Esperei tempo demais para revê-lo. Juro que a próxima não demorará tanto.

I, TONYA (2017)

Foi realizado por Craig Gillespie, o mesmo de "Lars and the Real Girl", e confirma o apreço do cineasta por figuras da América escondida atrás das luzes e da purpurina. Nos cursos de guião, ensina-se muito que é necessário respeitar as personagens, os seus caminhos. Este filme é o exemplo claro de que isso não significa deixar-se enganar por elas: ele é povoado por pessoas desprezíveis e não esconde a ironia (até o humor) com que olha para elas. A honestidade só lhe fica bem.

REQUIEM FOR A DREAM (2000)

20 anos depois, apeteceu-me revisitar esta descida aos infernos. Envelheceu muito bem, com a sua montagem sensorial, o uso narrativo do som e da música do Kronos Quartet e o pensamento sobre as imagens enquanto espelhos, que levaria a coisas como "Black Mirror", por exemplo. Uma fraqueza: a ocasional concessão em demasia à estética MTV, explorando a materialidade da imagem (interferências, saturação, etc.) de forma um pouco inconsequente. Mesmo assim, não dá para desviar o olhar em nenhum momento.

BELUSHI (2020)

Excelente documentário sobre esse meteoro de comédia que foi John Belushi. Além da pesquisa notável, que qualquer "comedy buff" apreciará, chama a atenção o formato de "oral history". Sem mostrar os entrevistados e recorrendo ao material de arquivo para ilustrar as suas falas, concentra-se completamente no esforço biográfico, e as contradições nos testemunhos parecem revelar mais do que apareceria se se tivesse escolhido uma visão predominante.