THE HAUNTING (1963)

É incrível o quão prolífica foi a carreira de Robert Wise e como ele se movimentava tão bem entre géneros. Entre a realização dos eternos musicais "West Side Story" e "The Sound of Music", ele fez este filme a preto e branco, com tão poucas personagens e cenários que poderia ser uma peça de teatro. O que torna "The Haunting" uma das obras fundamentais do terror psicológico tem muito a ver com a sua atriz principal, Julie Harris, a interpretar uma protagonista que é talvez das mais fascinantes que o Cinema viu: uma mulher de meia idade cheia de invejinhas e irritações e frustrada com a sua vida banal. É uma personagem tão pequena que é grandiosa na sua pequenez — e como ela cresce aos nossos olhos, e como toda a dor da sua vida comezinha aflora ao longo do filme! Por entre o estilo eminentemente clássico de Wise rompem os ecos da modernidade subjetiva que logo viria. Um filme fascinante.

INDIANA JONES AND THE LAST CRUSADE (1989)

Porque a morte de Sean Connery me deixou melancólico e porque o "tatarata" do tema do Indiana Jones sempre dá aquele calorzinho na alma.

ALTERED STATES (1980)

Filme do Ken Russell, esse grande cineasta dos excessos da década de 70. Foi o primeiro papel de William Hurt no cinema, e cai-lhe como uma luva a personagem de um professor universitário que se submete a experiências com alucinógenos em busca de uma conexão primordial entre espírito, mente e corpo. Uma mistura de ficção científica com misticismo "new age" e a boa e velha viagem psicotrópica. Muito divertido.

THE PARTY (1968)

A minha memória tem uns caprichos curiosos, e às vezes ela retém pormenores banais sem qualquer razão aparente. Por exemplo, lembro-me perfeitamente de ter visto a cena final deste filme numa sessão da tarde da televisão portuguesa. Nunca mais me esqueci, apesar de ela estar muito longe de ser a mais memorável dele. Blake Edwards era um cineasta extremamente elegante e aqui ele conseguiu juntar o humor físico de Jacques Tati, a crítica à futilidade da burguesia de Buñuel e o maravilhoso excesso visual de Fellini. O "brown face" de Peter Sellers ainda será controverso hoje em dia, mas há um aspecto que não pode ser desconsiderado: o seu indiano Hrundi V. Bakshi é a personagem mais simpática de todas e é com ela que o público acaba por se identificar, caindo o peso da sátira sobre todas as demais. Isto terá que contar para alguma coisa.

RAMY S02 (2020)

A forma como explico "Ramy" rapidamente para quem não a conhece é «uma espécie de "Master of None", mas em que a personagem principal é um jovem muçulmano». Sendo uma definição rápida, é também insuficiente, mas continuo a defendê-la. A busca pela identidade em "Master of None" passa pela posição do filho de imigrantes e pela experiência moderna do amor, tal como aqui. Porém, Ramy complica a equação juntando-lhe o questionamento permanente sobre a religião e o encontro com o sagrado. Tenho ainda um prazer especial: os episódios isolados centrados na personagem da mãe, interpretada pela maravilhosa Hiam Abbass.

BILL AND TED'S BOGUS JOURNEY (1991)

Ser divertido já não é pouco, mas acho que os filmes da franquia "Bill and Ted" têm um encanto especial porque, como os seus protagonistas, eles aparentam ser bem mais burros do que realmente são. De qualquer forma, se só quiserem ver uma comédia para rir um pouco, as citações de Bergman não vos vão distrair.

THE THIRD DAY (2020)

Esta série intrigou-me mais do que me fascinou. Ainda assim, intrigou-me tanto que a vi até ao fim, o que é mais do que se pode dizer sobre muita coisa. Apreciadores de "folk horror" vão ter interesse especial.

LA 92 (2017)

Documentário monumental sobre os motins em Los Angeles que se seguiram ao julgamento dos polícias que espancaram Rodney King. Composto só por material gravado e transmitido na época, o seu gigantesco trabalho de pesquisa mostra como as tensões sociais e a desigualdade são barris de pólvora sempre prestes a explodir. Depois de 2020, vê-lo é obrigatório.

SOCIETY (1989)

O filho adotado de uma família rica sofre de alucinações psicóticas e, das duas, uma: ou está tudo normal ou os seus pais e irmã entregam-se a orgias incestuosas e satânicas. "Body horror" trash com jeito de luta de classes: como não gostar?

YOU'VE BEEN TRUMPED TOO (2016)

Depois que obtivemos o resultado das eleições nos EUA, encontrei na Amazon Prime este documentário que conta como, para fazer o seu campo de golfe na Escócia, Trump e filho cortaram o acesso à água duma senhora de 90 anos e nunca mais o repuseram. Mostra aquilo que já todos sabíamos: que a nação mais poderosa do mundo, durante quatro anos, foi comandada por escória.