Há dias, li sobre algum filme a crítica de que “tinha ideias demais”. “Repo Man” também tem. A sinopse do filme na Wikipedia descreve-o assim: «a 1984 American science fiction black comedy film (...). Set in Los Angeles, the plot concerns a young punk rock enthusiast who is recruited by a car repossession agency and gets caught up in the pursuit of a mysterious Chevrolet Malibu that might be connected to extraterrestrials». É muita coisa, cada uma mais inaudita do que a outra. Porém, por alguma razão, o filme funciona muito bem. Talvez seja o fato de tudo ser muito divertido e ter ótima música como fundo, mas eu acho que é porque ele deixa as ideias passarem sem se acumularem, transpondo o absurdo da sua premissa para a construção da sua própria narrativa. Às vezes, seria muito fácil dizer “isto não faz sentido algum”, mas isso seria cair na sua doce armadilha. É como se o filme nos dissesse “eu posso levar-me a sério – mas vocês não”. Não vejo a hora de o ver outra vez.
Documentário sobre a falecida juíza Ruth Bader Ginsburg, com um foco curioso na forma como, em anos recentes, ela ganhou fama online e se tornou ícone da cultura popular. Respeitoso, mas interessante.
Rever este filme provocou-me um movimento duplo da memória: o tempo que passou desde a sua estreia é mais ou menos o mesmo que o separava da “Madchester” dos anos 70-80 que retrata. Sempre fico um pouco melancólico quando me lembro dos cinemas Avenida em Coimbra, mas aqui a melancolia não dura muito, porque, mal começamos a ouvir Happy Mondays, a gente quer é dançar e ser tão feliz quanto o Bez.
Duas adaptações honestas de Stephen King. Veem-se bem, apesar de nenhuma ser perfeita. “Apt Pupil” é muito eficaz ao montar um jogo de gato e rato que nos faz duvidar constantemente sobre quem é herói e quem é vilão. “1408” parece uma espécie de exegese dos temas em “The Shining”, mas ainda dá para dar uns pulos de susto no sofá.
Mereceria um lugar na história da cinefilia apenas por ser o primeiro filme em que Matthew McConaughey diz “alright, alright, alright”. Porém, é muito mais do que isso. Enquanto retrato geracional, poderia formar um díptico com o “American Graffiti” de George Lucas, feito vinte anos antes e sobre uma noite vinte anos anterior à que vemos aqui. Se considerarmos o quanto Richard Linklater gosta de abordar a passagem do tempo enquanto tema (“Boyhood”, a trilogia “Before”), talvez isso não seja apenas pura coincidência.
Não sei se é por os últimos 40 anos de filmes terem mostrado prisões muito cruéis (“The Shawshank Redemption” vem-me imediatamente à mente só por mencionar o género), mas, sinceramente, não achei as prisões turcas assim tão más. O sistema jurídico, sim. De qualquer forma, pela forma como cria um Outro primitivo e incapaz de lidar com as suas próprias limitações, este é um filme modelo de olhar hegemónico norte-americano, não é?