Retrospectiva, 1 de 2: dez coisas que escrevi online em 2012

Já que estamos em tempo de olhar para trás antes de olhar para a frente e tal, decidi também entrar em modo de reciclagem. Hoje seguem os 10 posts deste ano de que, por uma razão ou por outra, gostaria de me lembrar que escrevi. E não se preocupem, amanhã há coisas mais à séria, ok?

Escrever: 5 anos, 10 regras
Notei há umas semanas que ando a trabalhar exclusivamente nisto de escrever prosa há já cinco anos. Por isso, lembrei-me de escrever uma série de regras que aprendi na prática ao longo desse tempo.

O que eu quero que o livro que vou escrever tenha
O livro tem que me pôr em causa. E eu vou ter que saber defendê-lo. Defendendo aquilo que me põe em causa, conseguirei, não sei como nem porquê, defender-me a mim também.

Para os meus amigos brasileiros
Os portugueses podem ser quezilentos, problemáticos, reclamões e, ao mesmo tempo, conformados com a situação e incapazes de mudar seja o que for. Mas no 25 de Abril todos nós nos unimos por sabermos que todos somos iguais enquanto donos do nosso país e do nosso destino.

Perícia sobre Patrícia
Seria bom viver num mundo em que se começa no chopp e em poucos anos se acaba a dar na coca até morrer. Num mundo assim, saberíamos com o que podemos contar. Mas o mundo não é assim.

Noturno
É noite e o morcego sai do castelinho da Rua Apa. Vejo-o da janela da minha casa, descrevendo círculos intermináveis em volta da árvore que está mesmo em frente.

Salvador no Brasil: a série que gravei com o Salvador Martinha
Espero que esta série ajude a mudar a imagem que alguns portugueses têm sobre os brasileiros e a que alguns brasileiros têm sobre os portugueses. E, acima de tudo, espero que ela ajude a mudar a imagem que a generalidade do público tem sobre a profissão de humorista.

Sobre o Bloco do Eu Sozinho de Los Hermanos
Pensamentos e observações enquanto ouvia um disco completo de Los Hermanos pela primeira vez.

Tudo é iluminado? O cara**o. Tudo é bem escuro.
Não sei bem como, mas eu sei que estas coisas estão ligadas. Eu sei, eu sei, eu sei, eu sei, eu sei.

Todos os Cus
Olhem bem as duas imagens. Não há uma diferença óbvia entre as anatomias fotografadas?

Um gajo, emigrante e tudo, a pensar a crise
E vocês perguntam: o que sabes tu de economia para dizer estas coisas? Eu respondo: nada, mas parece que os senhores que diz que sabem também não lhe mandam muito jeito para a coisa. E agora, o que fazemos?

As maravilhas de uma casa que não tem número


A casa onde cresci não tem número. Fica num lugar, numa freguesia, e é só.

O carteiro sabe ligar o nome nas cartas às pessoas que aqui moram e quem antes vinha de fora não tinha grande dificuldade de encontrar o lugar, porque a casa estava mais sozinha. Porém, como nos últimos anos se têm construído casas e mais casas e prédios e o c*****o aqui dos lados, a minha fica cada vez mais difícil de achar por forasteiros.

Ontem, incomodado com o livro que encomendei de Espanha nunca mais chegar (as conversas do Cameron Crowe com o Billy Wilder, aaaah...), mandei um mail à transportadora do Porto que o devia trazer. Responderam-me a dizer que o traziam hoje. Agradeci e, já prevendo a dificuldade dos moços, mandei o número de telefone fixo e as coordenadas do Google Maps.

E o que me aconteceu hoje, o que me aconteceu hoje? Ora, acordei com o rapaz da transportadora a ligar-me para o telemóvel e a perguntar como aqui chegava. Perceberam? Tinha mandado o telefone de casa e as coordenadas. E ele liga-me para o telemóvel a perguntar onde é. Acordando-me.

FML!!!

Sonho de Outono Numero Trinta e Nove


Em 2004, inspirado pela leitura de "Lipstick Traces" de Greil Marcus, fiz este filme. A música é uma trilha clássica qualquer em reverse e os vídeos foram feitos com a Olympus C-5050 que tinha na altura. Concorri com ele a um concurso do Fantasporto. Não me perguntem qual, até porque, mesmo na altura, só percebi que era um concurso de votação popular um dia antes de ela terminar. Também não me perguntem porque decidi partilhá-lo com vocês agora.

A movida de Monção: Killer Mustang e Mau Amigo

Não é comum chegar à terra natal e ver dois concertos seguidos de bandas de amigos. Ainda menos comum é que elas sejam também bandas ótimas, uma seguindo no trilho de Mike Patton e a outra uma digna representante do mais puro pós-rock. Mas foi isso mesmo que me aconteceu estes dias. Invejem-me, e apreciem os Killer Mustang e os Mau Amigo.


http://bandcamp.com/EmbeddedPlayer/v=2/album=1549188197/size=venti/bgcol=FFFFFF/linkcol=4285BB/

Enquanto a TVI...

...passa uma espécie de programa em que os apresentadores todos se embebedam enquanto uns coitados de uns músicos fazem versões fatelas de canções conhecidas, eu estou todo entretido a ver isto.
httpv://youtu.be/WiDgeNBsMEA

O cultural

Aqui ou no Brasil, o João Lopes é das vozes mais coerentes que conheço falando sobre cinema, televisão e cultura em geral. Nunca me canso de o ler.
Há um penoso equívoco em defender seja o que for porque é “cultural”, opondo-o àquilo que não é “cultural”: temos um défice imenso de reflexão sobre a mediocridade galopante da “reality TV” (Big Brother e afins) e o poder normativo de algumas ficções (telenovela e seus derivados), já que quase todos consideram que tudo isso... já não é “cultura”. A clivagem que está em jogo passa por aí (e não tenho dúvidas sobre o carácter minoritário do meu discurso). A meu ver, não há nada mais cultural que as monstruosidades televisivas todos os dias injectadas na imaginação e no imaginário dos portugueses. Porquê? Porque através delas se impõem valores sobre a forma como nos representamos, as histórias que partilhamos e os modelos de relação (profissional, conjugal, sexual) que estabelecemos. A cultura envolve uma permanente guerra de valores, não é um território apaziguado em que “consumimos” uma bondade redentora, superior às convulsões do mundo à nossa volta.

Sobre o fim do mundo

Não sei se viram. Viram? Era 1h21 em Portugal. Por acaso, estava lá fora a fumar um cigarro e vi. As nuvens do céu abriram-se e deu para notar as estrelas brilharem. Geladas, definitivas, como sempre. Dei um trago do cigarro. Uma mancha rosa ocupou a estratosfera e cobriu as estrelas, como se as visse através de uma cortina. E, de um momento para o outro, desapareceu. Não a mancha rosa - ou não só a mancha rosa. As estrelas, as nuvens, a lua. Tudo sumiu. O céu esvaziou-se, perdeu o sentido, deixou de ser. E eu, que estava por baixo dele, perdi-me do que fui.

A brasa chegou ao filtro e queimou-me o dedo. Eu gemi de dor, baixei o olhar, soltei o cigarro. E, quando olhei de novo, tudo estava normal: as estrelas nos seus lugares, a mortiçar o mundo com luz triste. As nuvens, prestes a avançar contra elas. E a lua, grande e intata, sendo lua, como sempre.

Não sei se viram o mundo acabar ontem. Viram? Ele acabou. E depois voltou ao que era. Um palco, um campo, uma casa. E, ao mesmo tempo, nenhuma dessas coisas.

O Pequeno Livro Sagrado do Menor Slam do Mundo



Uma das variações mais divertidas que eu já experimentei do slam foi posta em prática em São Paulo pelo grande Daniel Minchoni. Chama-se Menor Slam do Mundo, é mensal e os poemas estão limitados, não aos 3 minutos normais, mas a 10 segundos...

Há uns dias, na final anual - vencida pelo não menos grande Victor Rodrigues - foi lançado O Pequeno Livro Sagrado do Menor Slam do Mundo. O formato dele está mesmo a calhar para um flipbook, daqueles que se folheiam as páginas e fazem um filminho. Quando eu disse isso, o Minchoni falou algo sobre pornografia. Portanto, a edição do ano que vem promete. A deste ano, seja como for, já está online! É só clicar na imagem aí em cima para ler alguns poemas dos melhores (e menores) poetas do futuro. E, já agora, três meus também.

Django vazou?


Hoje anda tudo contente porque o roteiro do Django Unchained caiu na Internet (para ler, clique na imagem acima). Mas deve ser excitaçãozinha barata de ladrão digital, porque na verdade o roteiro foi posto online pela própria The Weinstein Company. E nem o pôs à socapa nalgum site só para criar sururu, não - pô-lo no próprio site, na página de divulgação do filme. Por isso, hoje talvez seja dia para metade da Internet tomar um grande comprimido de "menos!".

Muito respeito pela televisão portuguesa

Como se o fato de estar a passar um remake português de Dancin' Days já não fosse imponente, bastou um minuto a assisti-lo para ouvir
"E tu, minha vaca, sai daqui! Sai antes que te faça engolir os implantes!"

Muito respeito por esta televisão. E não estou a ser irónico.