Roberto Freire e a ignomínia


Roberto Freire é um político de carreira, que já foi candidato à Presidência da República em 1989 e que em 1992 fundou o Partido Popular Socialista, de Terceira Via e opositor dos governos do PT. Hoje ele leu um artigo no site G17, que dizia Dilma pede e Banco Central coloca em circulação notas com a frase "Lula seja louvado" e, sem saber que o site publica notícias satíricas, ele postou isso no seu Twitter, classificando a ação de "ignomínia".

Até aí tudo bem. Por muito que nos custe acreditar que políticos também podem cometer erros, a verdade é que os fazem de vez em quando. Agora, o que não se entende é a insistente amargura que sai dos tweets posteriores de Freire. Apesar de décadas de vida pública, ele parece empenhado em responder a toda e qualquer provocação de todo e qualquer tweetador, bloqueando seguidores, "insistindo para poder responder aos que pertencem ao mundo digital" e pedindo desculpas porque, segundo ele, "nos tempos imorais lulodilmistas tudo é possivel".

Entre isto e o caso da Carolina Dieckmann, há por aí alguma síndrome esta semana que impede as pessoas de perceberem a real importância do que fizeram, cagarem de alto e deixarem os cães ladrar enquanto a caravana passa? É impressão minha ou anda tudo muito preocupado com aquilo que os fait-divers da vida fazem os outros pensar?

A poética dos dedos de Tony Iommi


Tony Iommi é o guitarrista dos Black Sabbath e, como saberá qualquer um que fazia parte das gentes que faziam rodas de violão e tinham cabelo comprido, ele perdeu duas falangetas da mão direita enquanto trabalhava numa fábrica. Ele pensou que isso o impediria para sempre de tocar, mas ele colocou umas próteses plásticas, o que acabou por definir a guitarra dos Sabbath: riffs grandiosos e lentos (já que ele não conseguia tocar muito depressa), e um som pesado, que as novas pontas postiças dos dedos facilitavam, porque, sendo canhoto, conseguia bater as cordas com muito mais força do que qualquer outro guitarrista.

Agora, pensemos: os Black Sabbath são de Birmingham, cidade fortemente industrializada, onde as opções eram ser operário de fábrica, patrão de fábrica, dono de fábrica - e para os membros da banda só a primeira era viável. O som deles é repetitivo e grande, tal como o barulho de máquinas industriais produzindo sem parar, e esta influência não é só deles. Já ouvi o James Hetfield dos Metallica, que trabalhou numa fábrica quando era puto, dizer exatamente a mesma coisa e até a expressão "heavy metal" foi criada, ao que parece, quando um crítico disse que a música do Jimi Hendrix era como "heavy metal falling from the sky".

Ou seja, há uma ligação direta entre o metal da indústria e o da música, como se este fosse a consequência musical no século XX da Revolução Industrial do século XIX. E nada incorpora tanto essa ligação como os dedos de Tony Iommi. O acidente que ele sofreu e o que ele conseguiu fazer com ele transformaram-no em História feita em corpo. E isso é bem bonito.

As fotos íntimas de Carolina Dieckmann


A atriz Carolina Dieckmann apareceu nua em fotos que supostamente foram tiradas com o seu celular. Golpe de marketing ou não, não consigo deixar de pensar: porque é que achamos isto interessante? Reparem, isto não é uma crítica, é mesmo uma pergunta. Nós já vimos Dieckmann nua, ela já fez fotos sem roupa, não é nem por sombras a pessoa mais coberta do mundo. Então: mais do que o que diz sobre ela que se divirta a tirar fotos sem roupa, o que diz sobre nós que queiramos tanto ver e falar sobre isto?

Eu acho que diz que já acreditamos em muito pouca coisa. Nós somos pessoas, temos impulsos e um deles é gostar de ver gente boa sem roupa. Mas há no meio disto tudo uma espécie de cheiro a desespero. Nada do que vemos na tv, no cinema, na Internet ou nas revistas é verídico. Tudo é fabricado, até os corpos. E nós sabemos disso. É por isso que corremos para o Google depois de sabermos que estas fotos existem. Não tanto para ver Carolina nua, mas para perceber que uma pessoa de um universo que nos está sempre a querer vender tipos de beleza e de comportamento e de consumo, que nos está sempre a dizer "estas pessoas são melhores do que tu porque são ricas, compram estas marcas, fazem estas coisas caras e são bonitas e educadas, e tu vais acreditar porque nós dizemos", é igual a nós. Carolina Dieckmann é o que menos importa no meio disto tudo. A verdade é que, sem estes escapes no meio da farsa das imagens, não poderíamos continuar a participar dela e sentirmo-nos humanos ao mesmo tempo.

Meu amor artificial de plástico

Como há dias escrevi sobre música e uma desgraça nunca vem só, vou fazê-lo mais um pouco. Deu-se o caso de na 2a feira ter ido ao Studio SP ver os Radiolarians, de André Frateschi, uma banda que parece ter um pouco de receio de admitir que é uma banda cover de Radiohead, o que é desnecessário, porque, não só são uma belíssima banda, como fazem belíssimos covers. Já mais para o final, eles fizeram-me o favor de tocar isto.

httpv://youtu.be/4B0KfEGNKDw

Foi tipo biscoito do Proust. Recuei para Novembro de 2011. Estava em Londres, numa cafetaria de Camden com vista para o canal. O Jorge estava a mostrar-me a cidade. A dada altura, ele foi à casa de banho e eu fiquei a olhar pela janela. Havia pouca gente e estava a tocar uma compilação de Radiohead. De repente, essa canção começou.

Sabes aquele tipo de momentos bem, bem simples, que poderiam acontecer a qualquer hora, mas por qualquer razão, são tão perfeitos, tão perfeitos, que nada poderá estragar a lembrança que deles tens? Aqueles em que parece que não há merdas dentro de ti, que não há merdas no mundo e o tempo faz um parênteses? Foi um desses momentos. Pensei "estou em Londres, à beira do canal. Está tudo calmo, a água corre no escuro, ainda tenho um pouco de café. Estou sozinho. E está a tocar Radiohead. Estou em Londres e está a tocar Radiohead. Foda-se".

Como conheci Fernando Lopes

Estive com Fernando Lopes duas vezes. A primeira foi há 13 anos, no festival dos Caminhos do Cinema Português, em Coimbra. Ele tinha 63 e parecia ter 50. Foi lá para ser homenageado pela carreira. Houve uma retrospectiva, que passou todos os filmes dele até então. Eu era da organização, por isso deveria era ter estado na organização a organizar coisas, mas caguei. E não me arrependi, porque, se não o tivesse feito, não teria visto "Uma Abelha na Chuva", que é o melhor filme português de sempre juntamente com o "Belarmino" (também dele) e "Noite Escura" (do Canijo) e que tem esta discussão, das mais bem filmadas que alguma vez vi.

httpv://www.youtube.com/watch?v=CAgBCiCyt-o

Lembro-me que ele gostava que nós, putos, o tratássemos por "tu". Perguntei-lhe porque é que ele punha a "Sabor a Mi" em todos os filmes. Ele olhou-me, sorriu semicerrando os olhos e disse "aaah, isso é um fetiche, pá..."

A segunda vez que estive com ele foi em 2007, quando gravei este vídeo para a iniciativa das PF Os 50 Melhores Programas de Sempre.

http://rd.pftv.sapo.pt/play?file=http://rd.pftv.sapo.pt/ND0Edm7rKoe7zA29y08U/mov/1

Gravamos em casa dele e ele foi o mais simpático e afável que se pode ser. Já não parecia ter dez anos a menos. O peso da idade já tomara conta dele, mas ainda tinha toda a majestade de quem, depois de décadas de prática, domina todas as ferramentas da sua arte. Um verdadeiro mestre. Era suposto ter ido ao colóquio que finalizava a iniciativa, mas depois não pôde. Nunca mais estive com ele.

Fernando Lopes, falecido ontem, foi o realizador do Cinema Novo com quem mais senti empatia, quer pelas influências anglosaxónicas, quer pela obra em que as verteu. Ele nunca me iria reconhecer, mas gosto de acreditar que tinha lembrança de, um dia, em Coimbra, um fascinado miúdo de 18 anos lhe ter perguntado o porquê do Sabor a Mi. As probabilidades são pequenas. Mas é nisso que gosto de acreditar.

O Pingo Doce e as doces hipocrisias

Admito, eu sou uma pessoa de esquerda. Naturalmente, vim-me a considerar assim. Nunca fui doutrinado para acreditar em nada, mas, ao longo da vida, acabei por perceber que partilho as coisas que me parecem de bom senso e razoáveis mais com pessoas de esquerda do que de direita. Então, tudo bem, serei de esquerda. Mas eu não tenho saudosismos de uma época que não vivi e acredito numa economia livre regulada pelo Estado. Então, fico com algumas perguntas sobre os tumultos que aconteceram no Pingo Doce por este ter feito um desconto de 50% no 1º de Maio a quem fizesse compras de mais de 100 euros.

httpv://www.youtube.com/watch?v=NY-jf86ODt0&feature=player_embedded#!

Primeiro, houve produtos vendidos abaixo do custo? Se não, não há nada a dizer, tirando o fato de, se for assim, pela lógica o Pingo Doce estar a vender produtos com margem de lucro acima dos 50%, o que não será ilegal, mas não muito inteligente em tempos de crise. Eles não se parecem queixar de falta de compradores, por isso... Se sim, isso é dumping, mas será preciso perceber até que ponto é que a lei permite contornar essa regra numa promoção, o que foi o caso. Alguém pode explicar o que aconteceu e o que a lei diz sobre isto?

Segundo, os trabalhadores foram obrigados a trabalhar num feriado? Se sim, isso é terrorismo laboral e deve ser condenado. Se não, os trabalhadores foram voluntariamente fazer horas extraordinárias e não há nada a dizer. Alguém pode explicar o que aconteceu?

Terceiro, os trabalhadores foram compensados por terem feito horas extraordinárias? Se sim, é assim mesmo que tinha de ser. Se não, eles foram roubados e a empresa deve ser submetida à Justiça. Alguém pode dizer o que realmente aconteceu?

Em 2004, por um acaso, passei o 1º de Maio em França e surpreendeu-me o fato de estar tanta coisa fechada. Supermercados, lojas, tudo, até bares, o que era quase doloroso na cidade universitária onde estava. Mas não havia nenhuma razão honrosa e etérea para esse fecho. Simplesmente, em França as empresas têm que pagar três salários diários a quem for trabalhar no 1º de Maio (em qualquer outro feriado pagam dois) e isso não compensa para a maioria dos estabelecimentos.

O curioso neste caso do Pingo Doce é que tudo se trata de uma encantadora cadeia de hipocrisias. Os partidos de esquerda vêm pedir às grandes superfícias para respeitarem o 1º de Maio, mas aos olhos da lei este não é um feriado diferente dos outros. Porque é que elas têm que ter uma obrigação especial perante ele? Só porque sim? O Governo, que é esperto e anda à cata de dinheiro, invoca um moralismo semelhante para propor uma nova lei sobre promoções especiais, mas eu aposto que vão é querer criar uma taxa especial sobre os lucros assim conseguidos. Já a Jerónimo Martins, dona do Pingo Doce, vem dizer que fez a promoção para ser boazinha para as paupérrimas famílias portuguesas, o que também é um monte de tretas, porque ela não tem nenhuma obrigação de ser boazinha. Ela é uma empresa de comércio. Uma empresa de comércio quer vender para ganhar lucro. A questão é: as leis que regulam a prática foram cumpridas, sim ou não?

Seria agradável que alguém, de preferência sóbrio, viesse explicar melhor isto em vez de se andar para aí a fazer dramas e choradinhos sobre a educação e a angústia do povo português e não sei mais o quê.

O sorriso de Alex James


Para quem não sabe, Alex James é o baixista dos Blur. Sempre foi das figuras rock que mais me chamou a atenção, e o fato de ser um músico ótimo não tem muito a ver com o caso. Às vezes interessa-me mais a personagem que cada um é do que o virtuosismo com que toca. James é alto e no tempo da guerra Blur/Oasis, quando eu os conheci, o cabelo caía-lhe para a frente, tapando-lhe os olhos, enquanto ele dava à cabeça um abano dandy, completamente desfrutando todo o prazer que a vida do artista enquanto jovem estrela de rock lhe poderia proporcionar. Enquanto personagem, portanto, era ótimo.

A caraterística mais marcante de Alex James sempre foi o sorriso. Quando ele era novo e no crescendo da fama, este era irónico e afiado, como se não se importasse com nada do que estava a acontecer à volta. Era um sorriso arrogante, mas tão bon vivant que era impossível não sorrir também enquanto pensava "tu é que curtes, pá".

Agora, eu quero que entendam que houve sempre canções de Blur na minha vida, mas eu nunca fui um conhecedor profundo. Na verdade, o único álbum que eu tenho deles é o The Great Escape, precisamente porque era um puto com espinhas que queria saber mais sobre essa confusão toda do Britpop. Mas há um ano, numa altura em que estava muito triste, ouvi esta canção na casa de uma amiga.

httpv://www.youtube.com/watch?v=dgA_DlR8WsM&ob=av3n

Quando a música subiu na sala, com aquela espécie de slide miraculoso do Graham Coxon, perguntei-lhe "Isto é Blur. É novo?" e ela disse que eu era maluco e que a canção já tinha uns 12 anos. Desde então, ouço No Distance Left To Run sempre que preciso de consolo. Há uns dias, percebi que uma outra amiga estava muito triste e quis mandar-lha. Enquanto procurava a canção no YouTube, descobri que havia um documentário com o mesmo nome sobre o regresso da banda em 2009.

De novo, a primeira coisa que reparei em Alex James foi no sorriso. Mas agora, mais velho, mais tranquilo, o sorriso é diferente. Para além de aparecer com mais raridade, a arrogância e o hedonismo sumiram. Alex James, no fundo, sorri agora não como um rapaz convencido, mas como um homem, alguém que se feriu, cicatrizou e está mais tranquilo e mais conhecedor daquilo que o mundo é. E, enquanto ouvia as histórias sobre as zangas, o afastamento e a conciliação dos quatro, percebi algo que nunca tinha percebido antes: o regresso de uma banda não é só um reencontro entre eles, mas é também um reencontro de nós, que os escutamos, com eles, com aquilo que fomos quando os conhecemos e com aquilo que somos nesse momento.

É um lugar comum em poesia dizer-se que o leitor é também poeta, porque o significado final do poema só surge com aquilo que ele lhe acrescenta enquanto novo criador. Os Blur estão velhos e com as marcas da vida de músico no corpo, na cara, nos olhos. Mas, quando tocaram em Glastonbury e aquela multidão inacreditável que enchia o festival cantou Tender em coro e continuou a cantar depois de os instrumentos já terem parado de tocar, eles ficaram a olhá-la, pasmados.

Aquele coro estava cheio de vida: das vidas dos compositores que criaram a canção, mas também das vidas que aquelas centenas de milhares de pessoas tinham quando a ouviram e tiveram ao longo dos anos que a canção as acompanhou. No final, a banda agradeceu chegando-se à frente e levantando os braços. Todos os espetadores a aplaudiram por se ter reunido e se aplaudiram também por de certa forma reconhecerem que cantarmos as mesmas canções é saber que somos todos mais iguais e próximos uns dos outros do que poderíamos pensar.

No meio disto tudo, Alex James sorria.

O documentário que deveria passar nas escolas

Graças à Internet, podemos ver várias coisas do nosso país natal quando estamos fora, como jogos de futebol, noticiários e concorrentes de reality shows dizendo que não sabem onde é África. E, felizmente, podemos ver também o documentário Os Donos de Portugal, que, num extraordinário ato de interesse público, a RTP passou no 25 de Abril. Adaptação do livro do mesmo nome, trata da hegemonia secular de algumas famílias na posse de Portugal e de como essa hegemonia foi mantida em estreita relação com todos os regimes, partidos e governantes que lideraram a política portuguesa desde o final do século XIX.
"Para quem contrata, a influência política é o ativo mais desejado. A promiscuidade torna-se um problema colateral. Quem dirigiu a privatização, passa a dirigir o que privatizou. Quem adjudicou a obra pública, passa a liderar a construtora escolhida. Quem negociou pelo Estado a parceria público/privado, passa a gerir a renda que antes atribuiu. Ou vice versa."

httpv://www.youtube.com/watch?v=jg_gd9aUWJQ

Para os meus amigos brasileiros

Gostaria que vocês entendessem que hoje faz 38 anos que Portugal se tornou uma democracia com uma das revoluções mais bonitas que já houve. Desculpem-me dizer isto assim, eu sei que parece presunçoso e uma espécie de patriotismo babaca. Mas eu acho isso mesmo. Foi uma revolução linda, porque teve flores, canções, quase nenhum sangue derramado. Os militares, em vez de fazerem uma nova ditadura, derrubaram a que lá estava e vigiaram todo o processo que levou até à democracia. As senhas para eles saberem quando avançar foram dadas pela rádio, com duas canções, "E Depois do Adeus" e "Grândola Vila Morena". Eu tenho orgulho disso. Eu tenho orgulho que a revolução do meu país, um país que começou então a descobrir quem realmente é, tenha começado nas palavras "quis saber quem sou, o que faço aqui, quem me abandonou, de quem me esqueci" e "dentro de ti, ó cidade, o povo é quem mais ordena" sendo cantadas na rádio. Não choradas, não só faladas: cantadas, por uma voz que rompeu a noite como se rompesse o breu onde até aí tinha vivido. Os presos políticos regressaram às famílias. Todos os jovens souberam que deixariam de ir ter de matar pessoas para África. E, acima de tudo, o mais belo, o mais pungente, é que todo um povo estava unido em volta da mesma esperança. O mais extraordinário sobre o 25 de Abril é isso. Os portugueses podem ser quezilentos, problemáticos, reclamões e, ao mesmo tempo, conformados com a situação e incapazes de mudar seja o que for. Mas no 25 de Abril todos nós nos unimos por sabermos que todos somos iguais enquanto donos do nosso país e do nosso destino. Que Portugal, ao fim e ao cabo, não é de um primeiro-ministro, da Igreja ou dos grandes grupos económicos - ele é nosso. Ainda hoje, o 25 de Abril é o dia em que os portugueses se lembram disso. Por isso, eu não digo que não é por eu estar no Brasil que Portugal deixa de ser meu. Eu digo que não é por eu estar no Brasil que Portugal deixa de ser nosso.
httpv://www.youtube.com/watch?v=uMiAYRRp-cE

Contenta-te com o que tens

Quando tinha 90 anos, Billy Wilder recebeu um prémio de carreira e começou o discurso de agradecimento com uma história. Um homem de 90 anos vai ao médico e diz "doutor, não consigo mijar". O médico pergunta "qual a sua idade?". O homem diz "90 anos". O médico responde "já mijou o suficiente".