Casa nova

Nos últimos meses, o mundo sofreu muitas incertezas e apenas uma coisa se tem afigurado segura: a minha necessidade de concentrar num único sítio as páginas, conteúdos, blogs futuros e passados e quejandos que tenho vindo a acumular ao longo do tempo. A necessidade de transformar o jvnande.com, que já existia, mas só redireccionava para um espaço ainda muito estático, impôs-se assim, de mansinho, como um milhão de euros a sair de uma conta estatal.

Este novo espaço - e o à-vontade com que digo isto leva-me a pensar que ainda há uma bela carreira de agente imobiliário à minha espera - tem várias novidades, principalmente as secções Imprensa, onde juntarei os artigos (online ou não), reportagens e entrevistas onde vou aparecendo, e Ver/Ler/Comprar, onde porei o maior número possível de filmes, textos e restantes produtos da minha autoria. Enfim, uma espécie de baú para guardar coisas, ao contrário da categoria "textos" que podem ver aqui ao lado, para onde irão as publicações correntes.

Os geeks de entre vós já terão percebido que, depois de muitos anos com o Blogger, rendi-me ao Wordpress como plataforma. A razão principal é simples: páginas estáticas. E mais não digo. Não porque não queira, mas porque não sei. Algumas secções ainda se encontram em construção e é razoável esperar que os próximos tempos ainda sejam de trabalhar no código, de limpar e polir e pôr bonitinho, para a minha mãe não passar vergonhas por causa do rapaz. Mas também é razoável esperar exactamente o oposto. Por isso, vão passando por cá e, olhem, tenham esperança.

Tradução de um poema de Allen Ginsberg

UNDER THE WORLD THERE'S A LOT OF ASS A LOT OF CUNT

Dois textos de Daniil Harms

Algo sobre Pushkin e A Conferência.

Divine Comedy

Divine Comedy, de Julian Gough, um dos melhores ensaios sobre Comédia que já li.

Yau e Drummond

Tradução de In the Kingdom of Poetry, de John Yau, em referência a Carlos Drummond de Andrade.

Duas traduções de Bob Dylan

It's Alright, Ma (I'm Only Bleedin') e Ballad of a Thin Man.

e.e. cummings

Tradução de um texto de um dos meus autores preferidos.

The Other Mexico: Critique of the Pyramid

Tradução de um excerto do livro de Octavio Paz.

Numa sala cheia

Talvez poema, talvez não.

já não consigo digo

Menti. O poema é meu.

O poema

Sim, eu perdi. A partir de Manuel de Freitas, Jorge Melícias e João Luís Barreto Guimarães.

Os poemas antigos

Para recordar tempos de masoquismo.

5 microcontos sobre o desejo

Escritos para o número 11 da revista Minguante.

O Parênteses

Um pequeno conto escrito para os leitores do meu antigo blog. Joaquim Nando ainda teve continuação.

Um microconto de Natal

A minha primeira incursão pelos terrenos da micronarrativa.

People try to put us down

Não consigo concordar com Samuel Úria, com quem partilho geração. Não seremos progressistas no futuro porque não o somos agora e metade dos adultos que conheço, à frentex para o seu tempo e parceiros de revoluções ou movidas e coisas parecidas, queixam-se dos filhos que se querem casar, perguntando quem é que se casa. Sim, quem é que se casa, a não ser um exército que cresceu a ouvir contos de fadas? Olho à volta e não vejo progresso. Nos olhos há medo, nos ânimos confusão. We know not what tomorrow will bring e, sim, pode sempre arguir-se que a necessidade aguça o engenho e, entregues a nós próprios, menos dependentes do conforto da vida persistiremos. Mas a minha geração não vai ter velhos jarretas, nem censores do restelo, nem reaccionários quadrados? Achas mesmo, Samuel? Fechamos os olhos ao presente ou devemos contar com um futuro que nos regenere?

It's just a restless feeling by my side

Fala-se de melancolia, mas perfeição é esta, a da ainda-manhã de domingo, com o lastro desarrumado da semana à minha volta e as pernas frias a sofrerem da preguiça do dono. Há dias escrevi algures a nota "começamos a entrar na idade em que as coisas se vão perdendo", mas não sei exactamente o que isso queria dizer. Isto, porém, nunca se perde: o silêncio, o prazer de um tipo se sentir solidamente consigo no meio de uma desarrumação reversível. A solidão, insuportável à noite, é apetitosa agora.

A meio, o fim

Quanto tempo demora até que tudo fique igual, ouço perguntar dentro da minha mente (o que não quer dizer, atenção, que a pergunta seja minha). De outro modo, poder-se-ia dizer que é precisamente por estes meados de Janeiro que se descobre que resoluções de ano novo valem ou caem por completo. Eu, por mim, fiz uma. Tem-se aguentado, com algum sacrifício. Se assim não fosse, o falhanço seria total. É o problema de se ser pelo fatalismo no mundo e achar que não há nada de muito sólido, ou que se desmanche no ar, ou que se chame poder transformador da mente. Quanto tempo demora até que tudo fique igual? Resposta rápida: nenhum.

O regresso

Entre viagens planeadas e viagens feitas, um tipo começa a perguntar qual é o sentido disto tudo, o que ajuda a compreender porque é que a assistência das igrejas é de faixa etária mais avançada. Aí ainda não cheguei, mas tenho de me sentar nalgum lado a esquecer-me da vida, por isso fui ao cinema comer pipocas. O Avatar do Cameron não é tão fascinante como o Avatar do Carnivale. O eyeware, ainda assim, é mais à maneira. Ainda me lembro de uma transmissão muito anunciada d'O Monstro da Lagoa Negra na televisão, aí para 1986. Até a TV Guia andara na distribuição de óculos de armações de cartolina com lentes de acetato vermelho e azul e depois não deu em nada, já não sei porquê. Ora, os do Avatar não só funcionam como são de armação de plástico de massa com lentes escurecidas. Durante aquelas horinhas, podemos fantasiar a gosto que somos o Woody Allen ou o Pinochet e optar por soprar no clarinete ou mandar entrar a caravana da morte. O problema é que o filme acaba, a Michelle Rodriguez não se dá bem e um tipo pergunta-se qual é o sentido daquilo tudo, o que implica outra viagem e, claro, um sítio diferente para se sentar.

Um clássico

Na casa natal, vi passar na televisão um Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Viena. Chamou-me a atenção a valsa "Vinho, Mulheres e Canções", que não consigo de pensar como eufemismo de Strauss para se referir a huren und grüne wein na Viena novecentista. O meu avô é sempre o grande responsável por se deixar ficar no canal com música clássica e também descobri porquê: foi amigo do maestro Miguel de Oliveira, líder da banda musical durante vinte anos. Compôs De Cádiz a Tanger e teve um primo do meu avô na trompa. Este primo, curiosamente, chamava-se Fausto.