A Nova Política no Brasil e em Portugal

Hoje olhei a TV Alesp. No Dia do Professor, os deputados estaduais ocupavam-se a homenagear a classe. Douglas Garcia, o famoso gay transfóbico do PSL, tomou o palanque e começou calmo, dizendo que ontem tinha estado num debate na USP que decorrera tranquilamente exceto por uma briga no final, em que algumas pessoas supostamente terão atacado um sujeito que se declarava favorável à Escola sem Partido. O deputado então mostrou uma foto do atacado, despido e ferido, e exclamou "é isto que é preciso sofrer só por ser conservador?!". É curioso como a mesma pessoa que há alguns meses queria expulsar transsexuais à porrada de banheiros femininos ("vou tirar primeiro no tapa e depois chamar a polícia") subitamente se vitimiza tanto quando a sua retórica de violência se vira contra o seu lado ideológico. Porém, à medida que os dias passam, fica cada vez mais claro que essa é a característica principal desta Nova Política: implementar uma agenda odiosa não lhe parece tão importante quanto ganhar apoios e visibilidade investindo num registo de tabloide, mesa de botequim ou grupo revoltado de rede social. Tudo começa no presidente, claro está, ultimamente mais interessado em sequestrar os fundos partidários e eleitorais do seu partido e em colocar os parentes em cargos públicos do que em resolver o vazamento de petróleo nas praias do Nordeste ou apresentar um projeto de reforma tributária ao Congresso. Na verdade, deixar a governação para o Congresso não deixa de ser uma conquista para o presidente e a sua facção. Governar não parece interessar-lhes tanto quanto quanto chegar à governação e aparelhar o sistema governativo, o que talvez seja bom, pois não parece que a sua capacidade de pensamento consiga ir além da satisfação da sua base. A grande corrupção dos desvios de fundos para os partidos deu lugar à pequena corrupção do nepotismo e proselitismo encoberta pela névoa de afirmações e decisões bombásticas e incompetentes. Portugal já está a experimentar isto, pois não parece pura coincidência que, após dar lugar a um deputado de extrema direita no Parlamento, tenha surgido uma petição pública online pelo impedimento da tomada de posse de uma deputada negra eleita com grande repercussão. Não duvido: como acontece no Brasil, este tipo de manobras sensacionalistas vai infetar o diálogo público nos próximos 4 anos no meu país natal e empobrecer a política e todos nós. Daqui a algumas décadas, olharemos para trás e chamaremos a estes anos os da Grande Estupidificação Geral.