O cheiro nocturno

Ontem foi mais um concerto dos Social Smokers, o último que dei em Portugal com a banda completa antes de voltar a São Paulo - o que não quer dizer que possam perder a performance que eu, o Silva o Sentinela e o Biru vamos dar amanhã no Clube da Palavra Ao Vivo, no Teatro São Luiz. Seja como for, como estas coisas cansam (ao contrário do que poderão pensar as minhas amigas que vêm do Brasil com a pica toda de rainhas da noite e que me mandam mensagens às 4h e meia perguntando porque não estou no Musicbox). Portanto, era tranquilamente que subia a rua para o meu prédio quando ouço uma voz atrás de mim dizendo "olhe, por favor!".

Viro-me. Dois polícias subiam a rua a correr. Ao lado, na estrada, um carro com um colega deles subia também. Na rua vazia, a visão daqueles dois latagões a correrem era, no mínimo, caricata. Cordial, perguntei "sim, senhor guarda?" e o polícia que me tinha chamado disse "deixe-me ver uma coisa, por favor". "Com certeza", e abri os braços, pronto para, pela primeira vez na minha vida ser revistado na rua - o que não teria sido problemático, já que sempre que vou aos Smokers não levo o revólver.

Mas ele não me queria revistar. Só me queria cheirar as mãos. Cheirou uma, cheirou a outra, disse "obrigado e desculpe". O carro deu meia volta e ele e o colega também e começaram a descer. E eu, cheirado por um polícia em plena rua às 3h da manhã, senti-me usado como nunca me tinha sentido na vida. No entanto, se algum dia aquele agente quiser ascender à posição de perdigueiro, estou disposto a escrever uma recomendação. Só faltou ele ter adivinhado o que eu tinha jantado. Se o tivesse feito, até o convidava para actuar connosco no Sábado.