(diário)

Há uma frase que não me sai da cabeça e ainda não consegui escrevê-la. Falta de tempo ou tempo de faltas. Queria que ela saísse bem, na máquina de escrever, da qual não se perde nada. Talvez seja só falta de coragem. Sem fazer, nada se perde.

Fui ouvir o Archie Shepp no SESC Pompeia É a segunda pessoa que tocou com o John Coltrane que vi ao vivo (há seis anos vi o McCoy Tyner na República, num palco da Virada). Jazz à moda antiga, solos, comunhões, entregas, aquele que traduz uma certa forma de ser humano: estar-se acompanhado e sozinho; o esforço é de todos, mas o valor é de cada um. Isso tudo porque achei o pianista pouco inspirado. Talvez por ser o mais jovem ali, sentir-se-ia intimidado. Pena ser solista.

Em casa, apeteceu-me reouvir a Richard Pryor Addresses a Tearful Nation, do Joe Henry. Agora escuto Leonard Cohen.

Cada vez me apetece menos compartilhar coisas. Ou dizê-las. Aqui ninguém, ou quase ninguém, me escuta. Falo só para mim, um pensamento.

A frase está pronta. É tarde. Será hoje?