I'M THINKING OF ENDING THINGS (2020)

Vi-o há algumas semanas, um dia depois da estreia. Nessa mesma ocasião, escrevi a anotação: "quem gosta de Charlie Kaufman vai adorar. Quem não gosta vai odiar. Quem não sabe se gosta ou não gosta, nunca viu Charlie Kaufman". É um filme que encanta e assombra e fica a pairar na alma, e acho que em breve o vou ver outra vez.

THE CRUCIBLE (1996)

Deu-me vontade de ver este filme escrito pelo Arthur Miller a partir da sua peça. Por alguma razão, uma história que mostra como o ardor religioso e a fofoca podem levar toda uma comunidade à chacina - principalmente se tiverem um tribunal disposto a fazer-lhe as vontades - pareceu-me adequada aos dias de hoje. E vocês, o que acham?

SUBMARINE (2010)

Conhecia Richard Ayoade como ator e comediante e não sabia que ele também realizador. Aqui, eu diria que ele até é mais do que isso: é o criador refinado de duas das melhores e mais complexas personagens adolescentes do cinema recente.

BLACK EARTH RISING (2018)

Eu já tinha visto o primeiro episódio desta série antes e ela não me agarrou, talvez porque me faltava um anzol que me prendesse mais seguro. Nesta segunda tentativa, esse anzol, claro, foi Michaela Coel, e ainda bem que assim aconteceu, porque bastou só um pouquinho de atenção a mais para confirmar que o autor Hugo Blick é hoje o grande criador de narrativas que mostram a interdependência entre o pessoal e o geopolítico no mundo globalizado.

I MAY DESTROY YOU (2020)

Saber que Michaela Coel sofreu o abuso aqui abordado enquanto escrevia a 2ª segunda temporada de "Chewing Gum" deixa um travo amargo. "I May Destroy You" impressiona, não só pela honestidade bruta com que aborda o tema, mas também pela forma (assumida) como, de história sobre consentimento, se transforma em história sobre o próprio ato de contar uma história, em tudo o que este tem a ver com a memória e a reconfiguração do tempo segundo a perspetiva humana. O seu episódio final é uma obra-prima.

EAT MY SHIT (2015) e PIELES (2017)

A curta-metragem "Eat My Shit" é uma mistura ultrajante de "body horror" com comédia ácida, "Pieles" é como se Douglas Sirk tivesse concebido um projeto de homenagem ao "Freaks" de Tod Browning que Almodóvar concluiu no século XXI, e eu espero muito filmes novos do realizador Eduardo Casanova.

FEMALE TROUBLE (1974)

Divine já era tão importante para a obra de John Waters e uma figura tão culturalmente marcante que o realizador fez-lhe a história de origem que ela merecia: absurda, e divertidíssima.

THE PINK PANTHER (1963)

Quando era miúdo, odiava os filmes da série "The Pink Panther", porque não conseguia acreditar que só tinham o desenho da pantera no início e depois se transformavam numa comédia policial que não interessava ninguém. Hoje, já penso diferente. Vê-se a Claudia Cardinale numa coprodução internacional gigante lançada no mesmo ano de "8½", vê-se o Peter Sellers a esbanjar brilhantismo e vê-se o Blake Edwards a dinamitar a estrutura teatral do policial clássico ("um hotel, cada pessoa no seu quarto, será que se vai descobrir quem é o criminoso?") com um ato final absolutamente delirante.

FORBRYDELSER (2004)

A estagnação do Dogma 95 não foi tão formal quanto foi temática. Os filmes do séc. XXI do movimento perdem a malícia agitadora de "Idioterne" e "Festen" (1998) e a "malaise" profunda de "Julien Donkey Boy" (1999). Parafraseando o manifesto do movimento, o cinema antiburguês tornou-se burguês ao preferir o melodrama amoroso ("Elsker dig for evigt", 2002) ou o neorrealismo ligeiro deste "Forbrydelser".

VARIAÇÕES (2019)

No ano passado, vi algumas polémicas na minha timeline do Facebook sobre este filme. Não entendo porquê. É um "biopic" musical bem escrito, bem realizado, bem interpretado. Ficaria bem na cinematografia de qualquer país. Porque não na de Portugal?