Tempos Modernos, rolezinhos e o fim de Carlitos
[gallery ids="3364,3365" type="slideshow" link="none"]
Comparado com os giallo jovens e intensos do Argento, os de Mario Bava parecem adaptações classiconas de histórias da Agatha Christie. Mas que fotografia, que direção de arte! Um Visconti do terror.
***
No restaurante, disse ao garçom que tentei uma adaptação caseira de uma sobremesa deles, mas troquei o requeijão de corte por queijo coalho e, em vez de uma chapa simples, coloquei manteiga para conseguir a casquinha crocante. Ele riu e soltou um "a gente vai inventando". Lembrei-me de Michael Pollan contar, no Cooked, que há quem opine que a humanidade não começou a cultivar cereais para comer, mas porque queria embebedar-se com cerveja. Associamos "civilização" com seres sábios e precavidos; talvez a devamos começar a associar com bêbedos epicuristas que foram inventando, sempre inventando.
***
Na rua, uma mulher contava uma história a outra. Aí ela falou 'Eu me mudei para essa casa e quem deu ela foi Deus!'. E eu falei 'Duvido!!!'.
***
Gente demais para a exposição na Pinacoteca. Fomos então passear no parque, e tirei uma foto com o Garibaldi.
Depois ouvi: If you slip going under/ Slip over my shoulder/ So just pull on your face / Just pull on your feet/ And let's hit opening time/ Down on Fascination Street.
Durante a Segunda Guerra Mundial, a filha de Freud foi detida e interrogada pelo regime nazista. Forçado a assinar um documento declarando que ela não havia sido maltratada, Freud adicionou a ironia: "Recomendo encarecidamente a Gestapo a todos".
Na Itália, durante trinta anos, tiveram os Bórgia, guerra civil e terror. Mataram por nada, mas produziram Miguel Ângelo, Leonardo da Vinci e o Renascimento ... Enquanto na Suíça, praticavam a fraternidade: durante 500 anos conheceram a democracia e a paz, e produziram um relógio que faz cucu!
Eu afirmo que o medo de ser tocado, de se aproximar das pessoas, é o medo da morte. Porquê? Porque é o medo da comunhão. Sempre que vocês trocam de lugar no ônibus para evitar contato, sempre que evitam pôr o dedo na ferida da um paciente, isso é o medo da comunhão, dessa comunhão maior. Todos em que aqui trabalhamos aceitaram o seu lugar na comunhão.... Um cadáver não tem exigências. Com generosidade sublime, ele entrega o seu corpo à ciência que pertence a todos nós.
No primeiro Rambo, tudo acontecia na cabeça da personagem; nos seguintes, tudo acontecia na cabeça do público.
Estamos sós, sem desculpas. É o que posso expressar dizendo que o homem está condenado a ser livre. Condenado, porque não se criou a si mesmo, e como, no entanto, é livre, uma vez que foi lançado no mundo, é responsável por tudo o que faz.
A miséria mostrada nesse filme tem remédio. Em outras regiões da Espanha, os montanheses, camponeses e operários conseguiram melhorar suas condições de vida, associando-se, ajudando-se mutuamente e fazendo reivindicações aos Poderes Públicos. Esta tendência que orientava o Povo para uma vida melhor orientou as últimas eleições e deu lugar ao nascimento de um governo de Frente Popular. A rebelião dos generais, ajudados por Hitler e Mussolini, iria restabelecer o privilégio dos grandes proprietários, mas Operários e Camponeses da Espanha vencerão Franco. Com a ajuda de antifascistas de todo o mundo, a calma, o trabalho e a felicidade ocuparão o lugar da guerra civil e farão desaparecer para sempre os lugares miseráveis que este filme mostrou.
Essas sombras cinzentas ou sépias, fantasmagóricas, quase ilegíveis, já deixaram de ser tradicionais retratos de família para se tornarem inquietante presença de vidas paralisadas em suas durações, libertas de seus destinos, não pelo sortilégio da arte, mas em virtude de uma mecânica impassível; pois a fotografia não cria, como a arte, eternidade, ela embalsama o tempo, simplesmente o subtrai à sua própria corrupção.
O senhor Saint-Jour, como que querendo desafiar os seus passageiros americanos, perguntou, com o seu forte sotaque da Gironda, se algum de nós queria experimentar uma ostra.
Os meus pais hesitaram. Duvido que eles tivessem pensado comer uma das coisas cruas e viscosas sobre as quais flutuávamos. O meu irmão mais novo recuou, horrorizado.
Mas, no momento mais orgulhoso da minha jovem vida, eu me levantei, sorrindo, desafiador, e me voluntariei para ser o primeiro.
E, nesse inesquecível e doce momento da minha história, que ainda é mais vivo para mim do que tantos outros "primeiros momentos" que se seguiram - primeira buceta, primeiro baseado, primeiro dia no colégio, primeiro livro publicado, tantas coisas - eu conquistei a glória. O senhor Saint-Jour fez-me ir até à amurada, onde ele se inclinou e debruçou até que a sua cabeça quase desaparecesse por baixo de água, e emergiu segurando, no seu pulso bruto e em forma de garra, uma única ostra, coberta de lodo, enorme e irregular.
(...)
Eu segurei-a, inclinei a concha na minha boca como me instruíra o agora radiante senhor Saint-Jour, e, com uma mordida e uma sorvida, engoli-a. Tinha sabor de água do mar... de salmoura e carne viva... e, de alguma forma, de futuro.
Tudo era diferente agora. Tudo.
Eu não tinha só sobrevivido - eu tinha apreciado.
Esta, eu sabia, era a magia da qual, até agora, só tinha uma noção vaga e despeitosa. Estava viciado. Os arrepios dos meus pais e a expressão de repulsa e surpresa ilimitadas do meu irmão só reforçaram a noção de que, de alguma forma, eu me tornara um homem. Tivera uma aventura, provado o fruto proibido, e tudo o que se seguiria na minha vida - a comida, a corrida longa e tantas vezes estúpida e autodestrutiva pela próxima coisa grande, fosse drogas, sexo ou qualquer outra nova sensação - teria a sua raiz nesse momento.