Sobre American Horror Story (aviso: contém spoilers)

A quarta temporada de American Horror Story terminou e só serviu para me confundir mais em relação à série. De todas as que sigo, é a que me deixa mais indeciso quando alguém me pergunta "Gostas?".

Os criadores e showrunners são o Ryan Murphy e o Brad Falchuk, autores do Glee.

O piloto da série era confuso e com um ritmo nervoso que não favorecia a série em nada. Foi dirigido pelo próprio Murphy, e ainda bem que depois vieram outros diretores e, quem sabe, outros roteiristas, com visões que acrescentaram valor à original.

A série ganhou mais suspense e menos choque, mais gestão da tensão e menos explosões de adrenalina, mais atenção ao subtexto (uma família disfuncional) e menos ao "supertexto" (uma casa assombrada).

A primeira temporada terminou ok, e a segunda, no manicômio, foi a melhor de todas, com um ambiente tensíssimo, uma curva muito bem amarrada e a clarificação de um dos elementos que mais me divertiu na série: um delírio sobre as convenções do gênero, misturando serial killers, médicos doentios, nazis, zumbis, et's e possessão satânica numa única história.

Quando a segunda temporada terminou, tinha AHS lá no alto. Mas, com a terceira, tudo se desmoronou.

Ela começou como a jornada de uma menina, uma "coming of age story".

Depois, a Jessica Lange, e a sua batalha com Angela Basset, tomou a dianteira.

Mas aí aconteceu a disputa entre as bruxas novinhas sobre quem viria a ser a nova bruxa mega master blaster, e as personagens principais começaram a matar-se e a voltar à vida e a morrer outra vez a tal velocidade que eu deixei de me importar. Queria mesmo era que aquilo acabasse o mais depressa possível.

No meio daquela salganhada, tudo podia acontecer. E não de um modo entusiasmante, como aconteceu na s02 de Twin Peaks antes de sabermos quem matara Laura Palmer, mas como aconteceu depois de sabermos, ou seja, um sentimento de "qualquer coisa pode tanto acontecer que me estou a cagar para o que acontece".

Para mim, o último episódio não foi uma conclusão. Foi uma eutanásia.

Esperei a quarta temporada com curiosidade. Ela seria a que viria clarificar todas as minhas opiniões, facilitar a minha decisão e juízo sobre a AHS. Mas não foi isso que aconteceu.

Ela começou bem. Apesar de ter dado muito foco nas gêmeas siamesas no primeiro episódio (parecia que ia ser a história da relação entre elas e a Jessica Lange), isso acabou por se perder. Como acabámos por entrar num coletivo, com mais personagens boas e fortes, acabei por não dar muita importância, mas isso começa a parecer um traço do AHS: entrar no universo e abstrair-se de uma linha principal.

Ou seja, como se os criadores estivessem a insistir no que foi o erro da terceira temporada para transformá-lo em marca estilística, com a correção de expandirem o universo e não fecharem simplesmente as personagens dentro de um casarão a matarem-se umas às outras.

Houve coisas ótimas.

Ambientar o freak show nos anos 50, em puro conflito com o mainstream americano de classe média suburbial.

Os pseudo clips de músicas que só apareceram depois do período de tempo retratado, como David Bowie ou Fiona Apple.

O igualmente atraente e repelente Dandy, que deu à série o melhor monólogo que ela já teve:
This body is America. Strong, violent, and full of limitless potential. My arms will hold them down when they struggle. My legs will run them down when they flee. I will be the US steel of murder. My body holds a heart that cannot love. When Dora died she looked right into my eyes and I felt nothing. The clown was put on Earth to show me the way. To introduce me to the sweet language of murder. But I am no clown. I am perfection. I am greatness. I am the future, and the future starts tonight.

E houve coisas terríveis.

A canção dos Nirvana que parece ter levado os autores a dizerem "fomos longe demais, isto não é Glee", porque os momentos musicais sumiram depois disso.

As surpresas sobre a moralidade das personagens, que cheiram mais a preguiça de as pensar do que à criação de uma ambiguidade que nos deixe na expectativa.

E, de novo, tantas personagens a ganharem protagonismo e a morrerem pouco depois (o que foi aquele ventríloco do Neil Patrick Harris?) que eu fui para o episódio final de novo sem grande entusiasmo e prontinho para desistir de AHS.

E a verdade é que duas coisas aconteceram nele que me desconcertaram.

A performance final da Jessica Lange, cantando Heroes do Bowie, fechou a curva da personagem dela na perfeição.

Ela mesma já não era o freak recém chegado do Life on Mars, mas a conquistadora vitoriosa da psique americana, que invadia semanalmente através da televisão.

Aí AHS reclamou de novo, e sem hesitar, o seu lugar como comentador da cultura popular dos EUA.

Mais importante, o massacre a sangue frio de Dandy no freak show parece quase auto-satírico, como se os próprios autores nos estivessem a dizer "as nossas personagens morrem do nada, porque a América mata a sua cultura do nada quando já não precisa dela".

Se o corpo de Dandy é a América, o vazio moral que o espetador sente quando vê uma personagem morrer é semelhante, não só ao vazio moral dele quando mata, mas também ao de quem apaga do mapa aquilo de que já não precisa em vez de construir a partir dele.

Uma coisa eu consigo dizer: o que falta a AHS é coerência.

Tem-lhe sido muito difícil concentrar-se numa linha narrativa, e sofre com isso.

No melhor, as suas digressões são extraordinárias; no pior, causam-nos indiferença.

Mas - e esta é a minha grande dúvida - e se suscitar essa indiferença perante o aleatório das vidas e mortes das suas personagens for a forma de a série nos acusar a todos de sermos cúmplices de uma cultura que banaliza a vida e a morte como mais um fait-divers, mais uma nota de rodapé no jornal, mais um minuto de televisão preenchido?

Se assim for, essa será a ironia máxima.

A série que começou por assumir os clichês do horror e que depois os misturou com prazer e humor acaba por dizer que a verdadeira "história de horror americana" não é a da violência ou da morte, mas a da sua redução ao zero e ao absurdo.

Mas será que é isso?

Os seis "Mas" do Charlie Hebdo

O massacre na redação do Charlie Hebdo revoltou-me.

Primeiro, porque eu entendo o que é sofrer pressão por algo que se escreveu, produziu, lançou para o mundo.

Acreditem ou não, sofro-a quando os realities que roteirizo têm um vencedor e todos os apoiantes do perdedor mandam à merda e insultam o canal e todos os que produziram o programa.

Sofri-a quando quis dizer o meu poema crítico sobre o Durão Barroso num evento que só por acaso aconteceu nas instalações da Comissão Europeia em Lisboa.

E sei que a posso sofrer em tudo o que fizer.

O princípio por trás disto é o mesmo do que aconteceu em Paris: alguém te vai sempre lembrar que há coisas que não se podem dizer.

Mas, para poder trabalhar, eu tenho que dizer coisas.

Se me pudesse dar ao luxo de pensar em toda a gente que pode ficar incomodada com o que escrevo, não conseguiria escrever nada.

Ou seja, não poderia trabalhar.

Segundo, eu sou um cidadão e, como tal, tenho uma consciência muito forte - decidam se é errada ou não - dos direitos que eu e todos temos para fazer e para dizer.

Por tudo isso, houve reações ao atentado que eu simplesmente não engulo.

1- "Estou chocado, mas a culpa é do Islão".

Uma vez, estava a almoçar em Paris.

Reparei num homem, sentado numa mesa próxima, em silêncio total.

Tinha uns 50 anos, bigode, um ar banal de quem saiu do trabalho e foi almoçar.

Estava tão quieto que pensei que tivesse adormecido à mesa.

Mas, de repente, ele levantou os olhos, pousou o livrinho que tinha na mão, esperou o que tinha de esperar pelo almoço, comeu e foi-se embora.

O livrinho era o Corão.

E aquele era o jeito possível de ele cumprir a sua oração a Meca.

Há 1.6 bilhões de muçulmanos no mundo.

Considerar que os seguidores de uma religião são responsáveis pelos atos criminosos de três dos seus integrantes é absurdo.

Eu nem sei quem eles representam. Alguém sabe quem eles representam, além deles mesmos?

Os irmãos Kouachi são muçulmanos que nasceram e cresceram em França.

E a política europeia de integração de imigrantes falha, sim, e tem que ser repensada e balizada pela tolerância e respeito mútuo, sim.

Mas quantos muçulmanos há em França que sofreram com a política de integração e não pegaram em armas para invadir um jornal?

Isto não foi um caso de imigrantes resistirem a polícias que entraram no bairro onde moram e os trataram, inocentes, como criminosos.

Isto foi um caso de fanáticos assassinarem a sangue frio pessoas que estavam numa sala a trabalhar só porque não gostavam do trabalho delas.

Confundir estes assassinos com o homem que eu vi almoçar em Paris é um insulto a ele, ao bom senso e à inteligência de todos nós.

2- "Estou chocado, mas a culpa é da globalização/geopolítica ocidental/EUA".

Houve quem dissesse que a culpa é do Bush filho e Bush pai. Da invasão do Iraque. Do apoio a Israel. Da ingerência ocidental no Médio Oriente.

Talvez tenham razão. Mas a Segurança Social também já teve ingerências bem chatas na minha vida e não foi por isso que entrei numa repartição e abri fogo.

Este argumento é vicioso, porque não responde a nada. E não responde a nada porque a ingerência não tem fim.

"Vocês desenharam Maomé", "Mas vocês explodiram o metro de Londres", "Mas o Bush invadiu-nos", "Mas vocês fizeram o 11 de Setembro", "Mas vocês estão feitos com Israel", mas vocês, mas vocês, mas vocês.

Quem define onde parar?

No Lawrence da Arábia? Na invasão do leste europeu pelo Império Otomano? Na expulsão dos mouros da Península Ibérica, que foi árabe quase 600 anos? Na invasão do Médio Oriente por Alexandre o Grande?

A culpa é de quem matou quem está morto, e ponto.

3- "Estou chocado, mas parte da culpa é dos cartunistas, porque atacavam o Islão".

Este argumento implica que se deve regrar o discurso pelo conteúdo.

E esquece que a democracia não foi construída para albergar respeitinhos ou consensinhos.

Ela foi construída para albergar choques.

Esses choques, numa sociedade democrática, dão-se nos tribunais. Nos órgãos representativos. No voto. Nas ruas, nos cafés, na internet. E na imprensa, claro.

O Charlie Hebdo satirizava quem precisasse de satirizar. Religiões, partidos políticos, chefes de Estado, a França.

E também satirizava muçulmanos. Porque não satirizar muçulmanos, afinal? Se satirizava judeus e cristãos, não o fazer seria, de certa forma, uma verdadeira discriminação.

Para quem não gosta, há um bom remédio.

Esse remédio é os tribunais com que se pode processar um jornal, a imprensa em que se pode responder ao jornal, a legislatura que pode criar leis que protejam quem se sentir vítima de um jornal.

E não precisa de Ak-47s.

4- "Estou chocado, mas ironia e sátira não são construtivas".

Este argumento quer regrar o discurso, não pelo conteúdo, mas pelo tipo.

Ele implica que a ironia e a sátira são um discurso de dentro para dentro, que não potencia o diálogo e que o nosso mundo só poderá melhorar se pudermos dialogar com o diferente.

Ele pretende ignorar que a sátira e a ironia geram o riso, mas também o desconforto. Que a provocação gera o pensamento. E que o pensamento gera a discussão.

Por isso é que o humor não é apreciado por ditaduras. Ou por fundamentalistas. Ou por terroristas.

Como se dialoga com terroristas, humoristicamente ou não?

E, além do mais, quem tem autoridade para dizer que tipo de discurso é mais ou menos válido? Eu? Tu? Ele?

Aceitar a liberdade de expressão é aceitar, simplesmente, que a expressão é livre. Que expressar o desacordo é livre. Que uma sociedade esclarecida é mais completa do que a que não o é.

Alguém pode perguntar "E se a sociedade não estiver pronta?".

E eu respondo: com toda a gente calada, ela nunca vai estar.

Não existem discursos mais ou menos meritosos. Só mais e menos arriscados.

5- "Estou chocado, mas ninguém se lembra dos outros jornalistas que morrem por aí e das pessoas todas assassinadas em conflitos pelo mundo".

Assim se diz como quem não quer a coisa que as pessoas são indignas de se indignarem.

Na pior perspectiva, isto é sentimentalista e baixo.

Na melhor, isto passa por cima de uma diferença fundamental do que aconteceu em Paris.

Quem escreve, grava, difunde, ou opina numa sociedade livre, jornalista ou não, sente-se posto em causa mais pelo que aconteceu no Charlie Hebdo. Porquê?

Porque isto não foi um jornalista atingido por uma bala perdida, assassinado numa esquadra ou que aparece furtivamente enforcado em casa no momento em que se preparava para lançar uma notícia sobre um político corrupto.

Essas pessoas merecem o nosso respeito e memória e a sua morte não vale menos do que a de ninguém.

Tal como não vale menos do que a sua morte a de polícias. Ou a de soldados. Ou a de civis. Ou a de qualquer pessoa que morre injustamente.

Mas pensem que os assassinos não gritaram "Matamos o Charb", ou o Cabu, ou o Wolinski, ou o Tignous.

Eles gritaram "Matamos o Charlie Hebdo".

Eles não queriam apenas eliminar uma voz incômoda, mas dizer "este lugar já não é seguro para fazer o que faz". E, como tal, mais nenhum o é.

Em vez de um jornal, poderia ter sido uma igreja. Uma sinagoga. Uma mesquita. Ou uma escola.

Poderia ser qualquer representante de qualquer bastião que consideramos necessários para a nossa sociedade democrática funcionar.

Portanto, isto foi um ataque à nossa ideia de democracia, sim, e por isso mais espantoso, e por isso mais memorável.

6- "Estou chocado, mas há muitos hipócritas que agora dizem 'Je Suis Charlie'".

É verdade, há gente hipócrita.

E eu só tenho a dizer que espero que não o estejam a ser quando dizem isso.

Afinal, diferentes valores juntam-nos a pessoas diferentes.

Se pessoas de quem não gosto se chocaram com o que aconteceu, pelo menos sei que temos isso em comum.

Se assim for, espero que isso lhes tenha servido para pensar na vida e serem menos hipócritas no futuro.

Se não forem, pelo menos saberão que não podem mandar ninguém calar-se.

Resposta no Facebook a um amigo brasileiro que não gosta de Breaking Bad

Olha, cara, você tem razão, chega de jogo social.

Eu adorei Breaking Bad. Assisti em série os 62 episódios em 2 semanas. Tive crise de abstinência depois do final e fiquei catando documentário e making of durante um mês para continuar sobrevivendo.

Por isso, seria de esperar que eu tentasse convencer quem não gostou, como você, de que a série é ótima, que o equilíbrio na composição das personagens é incrível, que o longo e frágil processo de aprendizagem para o mal achou nela o formato perfeito para ser contado, que o Walter White é um anti-herói tão bom que até o espectador fica em contradição moral, que o arco da série está mais fechado do que puteiro de mafia coreana, que os episódios Fly e Ozymandias foram das melhores horas de televisão que eu vi na minha vida.

Eu poderia falar isso tudo, mas, sabe que mais? Eu realmente não quero saber. Sério, tô nem aí. Caguei. Tem tanta coisa para assistir aí que, se você não gosta, você não gosta. Eu adoro Mad Men, eu adorei Six Feet Under, e eu sei lá se são melhores ou piores. Qual é o critério para dizer se é pior ou melhor? Afinal, todos são produtos da mentalidade americana de virada de milênio, encabeçados por uma personagem masculina com dificuldades de conjugação entre aquilo que é e aquilo que os outros vêem nela. Qualidade menor ou maior? Não compro esse papo. A partir de um determinado nível, parece que estamos discutindo qualidade quando na verdade estamos discutindo empatia, e arrumando argumentos e pagando de douto para justificar afetos. Uns seriados põem mais peso na caraterização de personagem, outros no enredo, outros na arte - lembra de Pushing Daisies?, lembra de Carnivale? -, e aí?, vai falar para a única pessoa que você conhece que adorou Pushing Daisies ou Carnivale que isso não é legítimo porque as personagens não são credíveis? Ou eu vou falar para você sobre Deadwood, dizer que, tudo bem, a série tem seus méritos claros, mas que a ambiguidade moral do Walter White é melhor elaborada que a do Al Swearengen, que o Seth Bullock é um babaca que deveria ser coadjuvante e olha lá, que a série fica derrapando sem saber para onde ir durante 3 episódios depois da morte do Wild Bill Hickock, que cocksucking isto e cocksucking aquilo poderia ter chegado há 10 anos mas não chega mais? Que importa eu dizer isso tudo, se a tua brisa nunca vai ser a minha brisa e, por mais que você fala elogiando e eu deselogiando, nunca vamos conseguir trocar de brisas?

Talvez eu tenha pena que você não tenha sentido o mesmo que eu quando assisti o negócio, aquela excitação prévia de trocar de mundos, a sensação de que sou um escolhido por viver numa época em que posso desfrutar dessa história, como se ela tivesse sido feita só para mim. Mas, pensando bem, não tenho nem um pouco. Tudo bem, você acaba sendo menos uma pessoa com quem posso conversar sobre a série, mas também, quê, 30 minutos de conversa descrevendo cenas que nem dois tontinhos? Quem precisa disso mais, né. Já acho estúpido ficar discutindo que time brasileiro é melhor (porque o meu Benfica é melhor que todos juntos, claro), agora vou ficar discutindo que série é melhor. Sei que Black Mirror é inquietante. Sei que Sherlock é muito divertida. Sei que Louie é encantadora. Agora, melhor, não sei.

UMA SEMANA COM JACK NOHAYBANDA: o final

Hoje termina UMA SEMANA COM JACK NOHAYBANDA.

Isso não significa que o livro vai deixar de ser vendido, mas apenas que o preço promocional terminou. Ou seja, se ele custava o equivalente a um maço de cigarros, agora vai custar o equivalente a dois maços de cigarros. Se não conseguiram comprá-lo antes, podem fazê-lo agora, tanto no Brasil como no resto do mundo.

Lancei este meu primeiro ebook quase como uma experiência. No final, as minhas expectativas foram largamente ultrapassadas, quer na atenção que recebi nas redes sociais como nas compras!

Agradeço a todos que compraram, que leram, que viram os vídeos e que, de uma forma ou de outra, se interessaram pelo projeto. O futuro trará novidades, por isso fiquem ligados na página do livro no Facebook.

A todos, um grande abraço e até já.

UMA SEMANA COM JACK NOHAYBANDA: Capítulo 1

UMA SEMANA COM JACK NOHAYBANDA é um livro de Jorge Vaz Nande. Para informações, atualizações diárias, vídeos exclusivos e material de produção, curtam a página do livro no Facebook.

Este é o primeiro capítulo:
1. o homem e o seu compromisso
A cabeça de Jonas doía. O aeroporto, as caras flutuantes, a neblina fria da manhã, os olhos pesados. O sono aquecia-lhe a testa, a saliva fermentava de preguiça nos cantos interiores da boca, nos intervalos côncavos entre a gengiva e a bochecha. Jonas pensava nunca mais chegam, e olhava para os casacos coloridos das mulheres.

Havia ausência, mas também inveja: Jonas nunca tinha ido a um lugar e desconhecia o cheiro de um avião. Aquela gente, a outra, estava para além dele. Jonas era-lhes menor.

Jonas segurava uma folha de cartolina onde estava escrito “JACK NOHAYBANDA”. As letras, grandes, mas sem escândalo. A situação era simples. Jonas não conduzia limusinas, não representava uma grande empresa, era só o faz-tudo de outro homem; Nohaybanda era um cowboy milionário interessado em comprar a Lagoa; e a Lagoa estava arrumada há muito tempo na última pasta da última gaveta do arquivo. Era algo a despachar, rapidamente.

Na memória, a voz fria do patrão. O medo. Jonas devia temer Nohaybanda, porque Nohaybanda era-lhe maior e porque não sabia o que esperar de Nohaybanda e de si próprio, Jonas, quanto a Nohaybanda. Jonas temia Nohaybanda e, naquele momento, pensava em aproveitar a desculpa de não o conhecer para ainda mais o temer. Jonas, portanto, apenas se permitia sentir sob o pretexto de licenças. Estas podiam ser as que ele atribuísse a si próprio e, como resultado, era normal que os fins dos dias lhe doessem de infelicidade.

Ouviam-se aviões de vez em quando. Jonas não sabia se descolavam ou aterravam, mas tinha sensações, e Jonas não gostava de sensações sobre acontecimentos cujas verdadeiras implicações lhe falhavam. Por isso, tentava ignorá-los, observando sem cessar as outras pessoas que tinham atravessado a manhã fria para estarem ali, a seu lado, na coincidência vã de por ele serem observadas sem cessar. Jonas gostava de seguir mulheres com o olhar e gostava de seguir os olhares dos homens que seguiam mulheres com os olhares, porque, maior diversão do que a de olhar para uma mulher tentando que ela não percebesse que ele a olhava, era a de vigiar vinte homens hipnotizados nesse acto. Mas, a bem dizer, aquela manhã era fria, o nevoeiro enchia de chatice as coisas e o aeroporto estava vazio de mulheres que merecessem olhar-se para elas. Enfim, havia gordas coradas na fila dos táxis e duas adolescentes louras de mochilas às costas e calções curtos que tresandavam a engano de quem esperava país quente; nada de realmente interessante. Por outro lado, Jonas sentia as pessoas na nuca, sentia-as a julgá-lo e à sua folha de cartolina com “JACK NOHAYBANDA” escrito, a ditarem-lhe passado, presente e futuro em pensamento, a adivinhar-lhe a baixeza de salário, e Jonas pensava

um homem sem compromisso, com uma mala na mão, está comprometido com o destino da mala

e tentava descobrir se conhecera a frase num filme ou num livro ou dita por alguém, mas não conseguiu alcançar solução e teve de continuar a existir na dúvida.

Jonas passou a mão pela cabeça: o gel que usava, em quantidades que o satisfaziam, mas também faziam temer pela iminência da calvície – parte dele ficou-lhe na mão, lembrando-o de repente que havia um corpo para além das lembranças e dos jogos mentais. Que não fiques prisioneiro de ti próprio, tinha-lhe dito Susana (e disso, sim, lembrava-se), que esse é o melhor passo para a loucura, tinha ela continuado, que estou farta de todos os doidos na rua que me cumprimentam sem nunca me terem visto e que me chamam mãe apesar de terem o dobro da minha idade, não quero que te tornes num deles, não quero um dia destes tropeçar em algo que deveria estar morto e olhar para baixo e encontrar-te a pedir uma esmola, ouviste, e ele acenava, acenava então no aeroporto também, acenava com os olhos quase a fecharam-se-lhe, a folha de cartolina suspensa nas mãos como um rosário, e só parou de acenar e abriu os olhos quando alguém lhe perguntou alguma coisa em inglês e à sua frente estava Jack Nohaybanda, cowboy americano.
És o Jonas,
sim, pensou Jonas, sou quem você diz que sou, aquele que o vai guiar por esta terra de viúvas de homens vivos e de sonhos de ouro francês, que lhe vai mostrar a merda que os cães vadios foram fazendo nas margens enlameadas da Lagoa, sou eu, sim, sou o seu chaperone, escolhido por saber o inglês, escolhido por ser letrado, eu, que nunca fui a um lugar, que sonho com mulheres que não terei, que me divirto com os pecadilhos dos homens, que desprezo os pecadilhos dos homens.

Jonas tentou espertar os olhos. Soltou a mão direita da folha de cartolina, cumprimentou Nohaybanda, que era alto e cowboy, com chapéu de cowboy, olhos esmeraldinos de cowboy, casaco comprado com dinheiro de petróleo de cowboy, e Jonas desviou a cabeça quando se apercebeu do sorriso escarninho da boca dele.
Esperemos pela minha mulher, O.K.,
mas Jonas não sabia deste pormenor e isso não o deixava muito bem disposto. Ele não queria assumir responsabilidades pela estadia de uma mulher, pois isso significava que depois viria a ser avaliado à luz de dois critérios, o do homem, que ele entendia, e o da mulher, que lhe era estranho. Com que então há uma mulher, pensava Jonas, e será que a mulher que há é aquela de casaco de peles branco mesmo a pedir um activista que lhe atire com um balde de tinta vermelha, e que anda através das pessoas e dos homens como se conhecesse o caminho desde o momento em que veio ao mundo, e que no seu andar de gata assenhorada rompe as ondas dos olhares como o Moisés fez com as águas do Mar Vermelho, será aquela morena que ali vem de enormes óculos escuros e lábios finos pintados de vermelho escuro, a mesma que se aproxima de Nohaybanda e o beija no pescoço e estende a mão na minha direcção e diz
Sou Paola,
sim, deve ser essa a mulher, porque ela nunca me diria o seu nome se assim não fosse e, mesmo que o fizesse, eu não teria coragem para lhe responder,
Jonas, encantado,
espantoso,
pensava Jonas, espantoso, e pegou-lhe nas malas. Nohaybanda, claro, sorria, porque já conhecia todas as variações nas reacções dos homens ao conhecimento de Paola, e, de repente, Jonas apercebeu-se: tudo tinha mudado, a neblina tinha-se dissipado e o dia, frio como um túmulo, deixava no entanto o sol nascer e iluminar as pessoas com raios de ferro.

Paola e o marido seguiam Jonas. Andavam lentos, mas constantes, cautelosos, atentos. Estrangeiros. Jonas envergonhava-se e sentia-se limitado naquilo que podia dizer e na coreografia que deveria dar aos seus movimentos, mas apercebia-se: os seus olhos tinham-se finalmente aberto e expulsado o sono, porque uma mulher bela dependia dele. Também é verdade que este era pensamento que lhe dava para pouco, e no segundo seguinte, depois de um tique de cabeça e uma espreitadela rápida ao corpo de Paola, Jonas pensou que ela não tinha nenhum interesse nele e que era irrazoável ocupar a imaginação com mentiras. Mas, ultrapassadas as portas de vidro que se abriam sozinhas à saída do aeroporto e postas as malas do casal no porta-bagagens, já Jonas tinha virado a cabeça para Paola mais vezes do que o zelo de anfitrião podia justificar.

Jonas abriu a porta a Nohaybanda, o milionário, e a Paola, sua mulher. A saia dela levantou-se ligeiramente quando entrou, mas Jonas foi discreto no espreitar. Fechou a porta e olhou para a linha parda, negra e verde de táxis que, ao fundo, esperava por clientes para ganhar a vida. Eram carros sujos, quase mortos. Jonas entrou e arrancou. Depois, recomeçou o processo de se lembrar da frase em que tinha pensado durante toda a manhã de neblina: nunca mais chegam, nunca mais chegam. Perdeu-se das palavras quando Nohaybanda lhe perguntou algo sem importância e nunca mais na vida voltaria a pensar no assunto.

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Terça feira começa

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Manuel Luís Goucha: "viado" ou "veado"?

Manuel Luís Goucha recebeu uma mensagem insultuosa no Facebook. Ele respondeu com classe - mas errou num ponto.
https://www.youtube.com/watch?v=3W39frklQEI
"Panuleiro" é claramente um erro no insulto português "paneleiro", mas cabe dizer que "viado", com "i" mesmo, é um insulto usado contra os homossexuais no Brasil. E ele não vem do animal "veado", se bem que a semelhança fônica tenha levado às derivações "bambi" ou "24" (número do veado no jogo do bicho).

Citando o site GLS Dois Perdidos Na Noite: "viado vem de "desviado" (na acepção religiosa) ou de "transviado" (na acepção moral), termos que eram usados para se referir ao homossexual.". O site dá como exemplo uma canção do Ney Matogrosso e eu acrescento a famosa marchinha de Carnaval "Cabeleira do Zezé":
Será que ele é bossa nova?
Será que ele é Maomé?
Parece que é transviado
Mas isso eu não sei se ele é

Portanto, "viado", na acepção usada, está correto e Manuel Luís Goucha errou. O homem que o insultou gratuitamente no Facebook poderia retorquir dessa forma. Isto, claro, se ele não fosse um imbecil.

Atualização

oespelhodentrodoespelho

A espada partida de D. Afonso Henriques

Isto foi o que se disse primeiro: Tiago Freitas embebedou-se, partiu a espada da estátua de D. Afonso Henriques e gritou "eu é que sou o rei".

Havia algo estranhamente simbólico nisto, não havia? Um homem jovem, num país que se sente torturado e manietado há tanto tempo, tomando a espada do seu fundador e reclamando ser rei. Como se, mesmo que por acidente, a juventude esquecesse o respeitinho ao passado para reconquistar o rumo do país. Que importa que estivesse bêbedo? Como Nietzsche disse sobre a embriaguez:
O homem que se encontra nesse estado transforma as coisas até elas refletirem sua potência: até elas serem o reflexo de sua perfeição.

Tiago agora deu a sua versão: não estava embrigado, só queria tirar uma fotografia lá em cima, desequilibrou-se e segurou a espada, que acabou por se partir. E foi a polícia, não ele, que disse que agora ele é que era rei.

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=ViSrsaCA2zo&w=640&h=360]

Acho plausível. E fico triste. A história poderia ser de um país arrancando a espada do seu passado e tomando de volta o seu futuro. Afinal, parece que é o contrário: o soldado fundador largou a sua espada.

Neste e a este presente, ele rendeu-se.

A vida depois da morte

Em momentos dolorosos, quando perco um familiar ou uma pessoa próxima, eu gostaria de acreditar que ela foi para um lugar bom. O fato de ter sido criado católico faz-me querer que ela esteja com as pessoas que ela amava falecidas antes dela, e que eu poderei encontrar todas à minha espera um dia. Essa imagem conforta-me e ajuda-me a superar o luto.

Mas eu não sei se será assim mesmo.

Eu penso que não existe um céu ou um inferno. Mas eu também penso que não se acaba tudo no momento em que expiramos pela última vez. Isso por duas razões.

A primeira é que nós deixamos algo. A história de escrever um livro, ter um filho, plantar uma árvore, por exemplo. Querendo ou não, esses são os três únicos jeitos em que conseguimos adicionar algo ao mundo. Principalmente nos dois primeiros: um que vai do imaterial ao material (um livro apela ao pensamento, que apela, de uma forma ou outra, à ação concreta) e outro que vai do material ao imaterial (gerar um novo corpo que incorporará um espírito). A nossa presença não se extingue no momento em que morremos e vai mudar o futuro por consequência.

A segunda razão é que o nosso corpo é material orgânico e, como todo o material orgânico, ele faz parte da Natureza. E como na Natureza nada se perde e tudo se transforma, ele também se vai transformar e alimentar o mundo. As células do nosso organismo perecido vão fermentar, carregar a atmosfera, transformar-se em árvores, em plantas. Estas vão alimentar animais, e estes vão alimentar outros animais, E estes um dia também vão deixar a vida e alimentar o círculo uma e outra vez, até ao infinito.

Por isto, nós acessamos a transcendência e a plenitude. Nós mesmos somos presente, passado e futuro. Existimos agora, incorporando tudo o que já viveu antes e em nós está aquilo que enformará o que vai existir depois.

Se isto não é vida eterna, eu não sei o que é.

Dito isto, acho que a verdadeira pergunta que se faz quando nos perguntamos sobre se há vida depois da morte é "até que ponto é que a consciência persiste depois da morte". Ou seja, se nós continuamos a ter uma noção de nós mesmos depois que a nossa carne se extingue. Esta pergunta eu não sei responder.

De qualquer forma, acho que o envelope que aparece nesta cena é bem mais sério do que pode parecer.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=qBArMmngVH4&w=560&h=315]

Deus

Eu acho que deus é o acaso. Mas o acaso não é uma aleatoriedade solta, se pensarmos bem. Ele também obedece a regras.

Pensemos numa situação em que diríamos que o acaso funciona. Apanhamos um avião e por acaso encontramos um amigo no mesmo avião. O fato foi completamente aleatório, mas, ao mesmo tempo, ele obedece a regras. Há um número definido de aviões circulando no mundo e temos um número definido de amigos. Todos podemos viajar de avião. Temos interesses em comum, incluindo destinos que achamos interessantes. Se quisermos subir um degrau no que essas regras podem ser, nenhum de nós pode abrir asas e voar, por isso dependemos de aviões se quisermos percorrer uma distância longa. E não podemos estar e não estar num lugar ao mesmo tempo, por isso, se ambos estamos num avião, nenhum de nós pode, ao mesmo tempo, não estar nele e evitar encontrar o outro.

É risível ser tão específico, mas só quero dizer que a nossa existência no mundo físico está limitada pelas regras físicas desse mesmo mundo. O meu movimento, e o do meu amigo, têm um número incalculável, mas previsivelmente limitado, de variáveis.

Isto não serve para dizer que tudo está escrito e é incontornável. Mas, mesmo que nem tudo seja possível, muita coisa é possível.

Um exemplo nem tão esdrúxulo: uma vez um amigo disse-me "Nande, descobri uma coisa que vais achar interessante". Só para ser jocoso, disse o pensamento mais estranho de que me lembrei: "Por acaso tem a ver com o princípio de incerteza de Werner Heisenberg?". O meu amigo ficou parado, perplexo, e, antes de romper à gargalhada, disse "Tem. Merda!".

Foi uma das trocas de palavras mais estranhas que tive na vida, mas houve razões aleatórias para ela. Ambos nos interessávamos por coisas enviesadas; ambos ouvíramos por acaso falar de Heinseberg recentemente, eu por um filme e ele por um site; ele conhecia os meus interesses; eu queria fazer palhaçada. Se algum destes fatos não tivesse acontecido, a conversa não teria acontecido. Estava escrito que teríamos essa conversa? Não. Mas havia uma probabilidade remota dela acontecer no reino das probabilidades.

Uma série de ciências poderiam contribuir para analisar a probabilidade desta conversa. A psicologia poderia analisar nossas psiques. A neuromedicina, como os nossos cérebros processam o interesse e o conhecimento. A antropologia, a sociologia, a biologia social poderiam debruçar-se sobre a nossa vida em sociedade e como o nosso contato nos levou a esse momento.

E a religião - não enquanto organização que inventa estratégias para garantir a sua sobrevivência (isso não me interessa mesmo nada), mas enquanto um conjunto de crenças e doutrinas - também poderia dar-nos uma resposta, ou melhor, uma finalidade, dizendo que nada acontece por acaso e tudo faz sentido no grande desígnio e vontade de Deus. E eu acho que isso seria verdade, mas provavelmente não pelos motivos que a religião me daria. Não acho que haja um homenzinho barbudo numa nuvem a apontar o dedo aqui para baixo e a ditar o que acontece, apesar de essa metáfora facilitar muito a explicação, algo em que as religiões foram muitas vezes geniais.

O que eu acho que isso realmente quer dizer é que tudo faria sentido se considerássemos o conjunto de mecânicas do mundo. A totalidade delas é-nos vedada, porque elas são muitas e as possibilidades que elas abrem são inúmeras. Mas muitos ditames religiosos que conheço parecem-me explanações do mesmo princípio. "Não questionarás os desígnios de deus" é um. "Deus é omnipotente, omnipresente e omniciente" é outro. Se pensarmos que deus é as mecânicas do mundo, as enésimas normas conhecidas e desconhecidas que regem a existência de tudo o que existe, desde a gravidade até ao magnetismo, desde a formatação do corpo pelo espírito e do espírito pelo corpo, dos efeitos do comportamento nas outras pessoas e em nós mesmos - se Deus for tudo isso, é claro que ele é omnipotente, omnipresente e omnisciente, porque ele realmente é tudo. Ou melhor: tudo é ele.

Não acreditar numa criatura superior faz de mim ateu? Eu acho que não, porque eu acredito numa transcendência, que é comum a todos nós, às ciências, às religiões, a tudo. Nós nunca vamos realmente entender todas as razões porque as coisas acontecem como acontecem, mas essas razões existem e definem um padrão tão complexo que nenhum sistema de conhecimento isolado as poderia abarcar, e isso inclui a religião. Acho que, pensando assim, posso recusar as metáforas ou representações de Deus das religiões que conheço, mas chego perto do significado delas. Mais do que eu não ter religião, acho mais certo dizer que não há religião que me tenha.

Um português olhando a campanha brasileira

Primeira impressão: a campanha dura muito. Muito MESMO. Em Portugal, são 12 dias de campanha oficial. No Brasil, são 3 meses. Sim, oficialmente a campanha começou em 6 de Julho e as eleições são em 5 de Outubro. Eu sei que são muitos candidatos e muitas eleições ao mesmo tempo, mas 3 meses?...

Eu diria que diminuir a duração da campanha serviria também para diminuir o número de dinheiro irregular desviado durante a campanha. Só uma ideia.

Segunda impressão: não entendo como funcionam as propagandas eleitorais. Nem falo dos anúncios de candidatos engraçados, que o mundo se acostumou a considerar uma coisa bem brasileira e que levava sorrisos a muitas pessoas sentadas à sua mesa de trabalho por esse mundo todo. Reparo que há bem menos destes. Falta de criatividade ou profissionalização geral?

De qualquer jeito, continuam a haver umas propagandas que me deixam intrigado. Ontem vi uma contra o Skaf. Era só isso mesmo: contra o Skaf. Dizia que ele escondia o Kassab, o Maluf, o Fleury, mas não propunha nada em alternativa. Uma busca na internet fez-me saber que é um anúncio da campanha do Alckmin e que ele o suspendeu há 6 dias. Nem vou perguntar então porque o vi ontem antes de estrear o Masterchef.

Terceira impressão: desde 2010, é proibido fazer humor sobre os candidatos durante o período de campanha. E não tenho vergonha de dizer que é uma das regras mais retrógadas, absurdas e revoltantes que pode existir no mundo civilizado. É vergonhoso que uma lei digna da Rússia de Putin esteja no currículo de um país como o Brasil, que sempre gosta de estar na linha de frente em tudo (menos na inflação, claro).

Quarta impressão: é impressionante a velocidade com que um candidato passa de São Jorge a dragão. Depois da morte de Eduardo Campos, Marina ia pegar de onde tinha saído na eleição de 2010. Em dois dias, os evangélicos cobraram-na, ela deixou cair o apoio ao casamento de homossexuais do programa eleitoral e tudo mudou. De sustentada pelos jovens esperançados num novo futuro, ela passou a ser a candidata da moralidade conservadora e dos apoios incômodo. Ou seja, de uma eleição para a outra, a sua base eleitoral provavelmente transformou-se bastante. Ela está à frente da Dilma no Rio e em SP, mas, a um mês da eleição, se ela não tiver cuidado, ainda vai ser tão presidente como Russomanno é prefeito de SP.

Quinta impressão: até Marina aparecer, Aécio era o grande obstáculo de Dilma para a reeleição. Mas ninguém mais fala de Aécio, e ele caiu nas sondagens. Ou seja, ao centrar a disputa nela e Dilma, Marina pode ter feito um favor a esta última.

Sexta impressão: um debate eleitoral como se faz no Brasil, em que todos os candidatos falam no seu tempo designado, seria impossível em Portugal. Exemplo: o pastor Everaldo faz uma pergunta a Aécio, este responde com uma crítica a Dilma no meio, Pastor Everaldo faz réplica, Aécio tréplica.

Em Portugal, Dilma interromperia logo depois da primeira resposta só para dizer "não, não, ele falou mal de mim, então eu tenho que responder".

Construir histórias

Em geral, aprendemos a pensar na história como uma sucessão de fatos ou afirmações: X anda pela rua, Y mata alguém, X vê o homicídio, Y foge, X enterra o corpo.

Isto não é uma crítica a esse jeito de fazer as coisas (todos o fazemos!), mas uma proposta para ver as coisas de um outro modo.

Enquanto vemos um filme, uma série, lemos um livro, estamos sempre a fazer PERGUNTAS. Quem é esta pessoa, o que ela vai fazer, como ela vai fazer, como o mundo em volta dela vai reagir, como isso vai influenciá-la, como ela vai mudar com isso, etc, etc.

O que realmente está a acontecer quando criamos uma história é um jogo de criar uma dúvida, ou uma possibilidade, e depois respondê-la: X anda pela rua (vai para onde?), Y mata alguém (quem? porquê?), X vê o homicídio (como reage?), Y foge (para onde?), X enterra o corpo (porquê??).

Para a história se fechar, estas perguntas têm que ser respondidas nalgum momento. Gênero, tom e outros elementos são definidos quando decidimos que perguntas escolhemos fazer, quando elas são respondidas e de que forma.

Tenhamos isso em conta.

suzy num filme com máscara

Escrevi isto há muito tempo. Encontrei-o por acaso aqui no computador. Sempre me fez sentir bem.

suzy

Nota para mim mesmo sobre o David Bowie

Isto é mais para mim do que para qualquer outra pessoa, sinto dizer. Mas, quem sabe, talvez achem interesse. Tenho revisto a série de documentários Seven Ages of Rock, de 2007, da BBC, e eu sabia que já tinha visto aquele conteúdo antes. Mais, eu sabia que já tinha visto aquele conteúdo com mais coisas, no antigo People & Arts, quando andava na universidade. Lembrava-me especialmente de um plano em que a câmara flutuava até encontrar o Mick Ronson a tocar sozinho a intro da Ziggy Stardust. Isto não está nas Seven Ages of Rock. Mas onde, onde eu tinha visto isso?

Depois de fuçar online, descobri o que aconteceu. A BBC2 fez uma série em 10 partes sobre rock em 1996, chamada Dancing In the Street, de onde acabou por retirar conteúdo para as Seven Ages of Rock. A série original parece meio esquecida no site do canal e só alguns pedaços dela foram parar ao Youtube, mas, felizmente, a minha paranóia acabou. Aqui está a câmara planante do Mick Ronson. E toda a parte do Bowie começa aqui.
[youtube https://www.youtube.com/watch?v=-yY6t4ncfAM&w=420&h=315]

Cara Isilda Pegado,

Quando foi a primeira vez que ouvi falar de ti? No referendo para o aborto, que perdeste? No do casamento gay, que perdeste também? Não me lembro já. Desculpa, aconteceu muita coisa e muita gente na minha vida nos últimos tempos e alguns inícios perderam-se. Mudei de país, mas não como quem muda de equipa, se é que me entendes, por isso, continuo atento ao que se passa por aí.

Percebo que muitas pessoas te odeiam, mas eu não te odeio. Na verdade, tu fascinas-me. Fico sempre a pensar no que te motiva a correr atrás de tantas causas, apesar de perderes tantas. Não digo isto com desdém, a sério, não penses que escrevo com ácido nas véias. Não vemos o mundo da mesma forma e frequentemente acho que distorces os fatos a favor dos teus argumentos, mas o empenho quixotesco com que o fazes intriga-me. Pergunto-me o que te leva a fazer isso, que histórias tens que te levam a ser assim. Não te vou mentir, eu acho que a tua visão do mundo é retrógada e, às vezes, completamente irrealista. Mas porque tanto ardor, Isilda?

Eu acho que tu és sincera. Queres intervir na sociedade para a deixar de um jeito que tu consideras melhor. Quando acredito que a intimidade de cada um é assunto seu, de certa forma estou a ser egoísta. Para ti, a intimidade define uma posição social e, como tal, a sociedade deve participar da forma como ela aparece. Talvez sejas melhor pessoa do que eu. À tua maneira, tu importas-te mais com os outros.

Há uns dias li este artigo teu e voltaste-me à mente. Estás igual ao que me lembro de ti, com um raciocínio labiríntico que serve a tua visão moral.

Dizes que agora uma "mãe decide que quer ter um filho, só seu, cujo pai fique incógnito (dador anónimo) e faz inseminação artificial a partir do banco de esperma para poder gerar a criança que é “só sua”. Só se for escondida na Espanha, não é, Isilda, porque na lei portuguesa, que citas, (ainda) não pode.

Dizes com reprovação que "a co-adopção vem reconhecer e legalizar práticas que estão proibidas por lei", mas isso é muito normal quando uma lei é mudada, certo, Isilda? Foi assim com a IVG, com o casamento homossexual e também terá de ser assim se, como tu reclamas, um dia houver um revogação destas. Se novas leis não legalizassem "práticas que estão proibidas por lei", a lei nunca seria mudada e o mundo não evoluiria.

Tu sabes disso. E também sabes que a comparação que fazes entre os pais incógnitos do Estado Novo e os "filhos sem pai" que a co-adoção geraria é desonesta. A filiação tem sobretudo a ver com uma coisa - a capacidade de herdar. Os filhos legítimos dos senhores do Estado Novo ficavam protegidos de terem de partilhar o seu património aquando da morte destes; estavam salvaguardados os bolsos dos filhos e a fornicação do pai.

Mudar essa lei, acima de tudo, garantiu o direito de sucessão dos filhos ilegítimos. E a lei da co-adoção, irá ter o mesmo efeito. Vou-te dar um exemplo. Imagina que a Helena, solteira, tem um filho, o Diogo. A Helena trabalha, paga os seus impostos e cria o Diogo com amor. Entretanto, a Helena assume a sua homossexualidade e casa-se com a Márcia, que, naturalmente, vai criar uma relação parental com o Diogo. Segundo tu, a Márcia nunca poderá tratar o Diogo como filho; e, caso a Márcia morra, o Diogo nunca vai, por lei, poder herdar dela.

Ou seja, para salvaguardar os direitos do Diogo da mesma forma que os direitos dos filhos ilegítimos foram salvaguardados revogando a lei da ditadura, a co-adoção é o caminho mais lógico. Eu sei que tentaste impor a tua visão moral do que a sociedade deve ser - crianças nascidas e criadas no seio de uma família devidamente casada e heterossexual -, mas esqueceste do resto. O Diogo e a Márcia vão ser filho e mãe, mas, na tua visão, eles nunca poderão realmente sê-lo. A Márcia não poderá assinar as fichas da escola do Diogo, autorizar uma cirurgia, sei lá mais o quê que tem de ser um pai a fazer. A lei estará constantemente a lembrá-los de que não são realmente mãe e filho. E eu acho que o Estado não tem o direito de humilhar os seus cidadãos assim. Se queres mesmo defender o Diogo, tu tens que defender esta mudança legal, Isilda.

Eu sei que nunca vais aceitar isto, porque, para ti, "casal do mesmo sexo" já é uma expressão contraditória. Imagino que, para ti, o amor de uma homossexual para com o filho sempre será de segunda categoria, porque, na tua visão, ela será um ser desequilibrado e incapaz de afeto verdadeiro. Tenho muita pena. Espero continuar a ouvir-te, Isilda, e a ver-te defender com convicção aquilo em que acreditas. Espero que, como sempre, continues a remar contra a maré de pessoas bem mais razoáveis que discordam de ti. E espero que, um dia, percebas que estás errada em opor a moral ao amor. Até lá, um grande abraço.

As vítimas do Meco e a praxe

Vi esta notícia ("Vítimas do Meco vistas a rastejar com pedras nos tornozelos") no Facebook.
"Isto é uma praxe. Uma experiência de vida. Não se meta." Terá sido desta forma que os alunos da Lusófona, que integravam o grupo estudantes que foram arrastados por uma onda na praia do Meco, se dirigiram aos moradores de Aiana de Cima que os abordaram na tarde de sábado, horas antes da tragédia, indignados com os contornos de humilhação a que se estavam a sujeitar.


Os comentários no Facebook seguiram-se. Condenações da praxe, elogios da praxe, de tudo um pouco.

Vamos pensar sobre isto. Uma hierarquia de poder existe porque alguém aceita submeter-se a ela. É um contrato social como outro qualquer, desde a família até ao Estado. Se ninguém se submetesse a ela, esse poder seria esvaziado e a hierarquia, consequentemente, deixaria de existir.

Então, primeira pergunta: o que leva alguém a submeter-se à hierarquia de poder "praxe"? O medo, diria. Medo de ficar excluído, de recusar um grupo possível de amigos, de passar por cima de uma experiência, etc. Mas, na verdade, a praxe, como surgiu em Coimbra e como ainda se pode ver no código, é um sistema que regulava as relações entre estudantes e dos estudantes com o resto da cidade. Não esqueçamos que aqui, pelo século XIX, havia uma segregação entre a parte futrica e a parte estudante da cidade. Era um equilíbrio social complicado, e o código da praxe surgiu como uma espécie de auto-regulamentação, que impedia que as pessoas fizessem merda e fossem parar aos calabouços da guarda universitária. Ainda hoje existem. Passem pela FDUC, vão até às escadas de Minerva e peçam a um bedel que vos mostrem. Não são bonitos.

Ou seja: essa coisa da praxe servir para integrar os caloiros na vida universitária não é a razão que está no seu âmago. A razão é a permanência de uma estrutura social do século XIX. Tradição? É o argumento mais falso que existe na coisa toda. Se o mundo que envolve a praxe mudou, o papel que ela ocupa no mundo muda também, portanto, não existe qualquer possibilidade de manter tradição. O pessoal conhecer-se e criar amizade sempre foi uma consequência, não a causa.

Segunda pergunta: essa consequência vale o esforço? Os defensores da praxe usam o seu efeito de integração para justificar todo e qualquer abuso e toda e qualquer patetice. Isso não se conseguiria convidando o pessoal novo para uma cerveja e batendo uma conversa e pronto? Para que pintar-lhes a cara e obrigá-los a fazer coisas burras?

O problema é que nós somos pessoas. Não tenho grande fé nas pessoas. Nós não fazemos atos de aproximação gratuitos; na generalidade, precisamos de uma justificação banal para eles acontecerem. Essas cerimónias patetas são essa justificação. Mas, ainda assim, há pessoas e pessoas.

Eu fui praxado em Coimbra. O que é que eu fiz? Nada que não faça hoje numa noite bem bebida, suponho. Jogar à apanhada com pessoal que não conheço. Simular um jogo de bilhar, em que uns gajos eram bola, outro era taco, etc. Enrolarem-me uma capa na cintura para fazer de saia, porque era o único gajo com cabelo comprido e tive de fazer de conta que era uma gaja numa discoteca a ser engatada. Subir para uma cadeira num café e fingir que era o João Baião no Big Show Sic. Ninguém me pintou a cara, foi uma bela manhã de 5a feira, ri-me muito, realmente comecei grandes amizades aí e não me senti nem um pouco humilhado. O pessoal que me praxava era porreiro. Depois disso, a minha "praxe" durante o ano era querer estar em casa na 6a feira à noite e ligarem-me com uma ameaçazinha pateta qualquer a dizer que tinha de sair com eles. No fundo, apenas uma forma de dizer "gostamos de ti e queremos que nos venhas encontrar". Nada que um amigo meu não me vá fazer hoje mesmo. Se, no meio desses desfiles gigantes que Coimbra tinha, algum idiota me vinha chatear e queria que eu fizesse alguma coisa burra, eu dizia-lhe que não. Os meus "padrinhos de praxe" eram, e continuam, meus amigos. Que se fodessem os idiotas.

Eu sei que sempre se pode dizer "mas tu tinhas uma boa estrutura e confiança para dizer isso. há quem não tenha, e essas pessoas tem que ser protegidas". Eu sei. Eu tive amigos que tiveram que ficar numa varanda numa noite gelada porque o gajo que os praxava era um idiota em tons nazis. Para essas idiotices, existem tribunais. Nenhum juiz se vai virar para uma mulher e dizer "a sua violação repetida e sangrenta durante toda uma noite por um grupo de 15 homens não é crime, porque você aceitou ser praxada meses antes". Nenhum pode, pelo menos.

Qual a alternativa para isto? Um artigo no Código Penal a proibir toda e qualquer praxe? É preferível a este estado de coisas aquele que legitima um polícia vir e dizer "vocês estão presos por obrigarem este homem a imitar o João Baião"? Ainda assim, parece-me preferível a possibilidade de qualquer pessoa que seja vítima de violência injustificada poder julgar por si mesma se o foi e poder recorrer à justiça. Nós ainda temos uma responsabilidade por nós mesmos.

Se entendo bem, o que está em causa aqui é que os putos foram levados pela onda porque estavam a ser praxados. Mas e se não estivessem a ser praxados? Se estivessem só a tomar umas latas de cerveja e fossem apanhados igualmente, iríamos proibir as latas de cerveja? E se a "praxe", em vez de consistir em se arrastarem pela areia com pedras nos tornozelos, fosse ensaiar uma mega coreografia tipo Glee - depois de a onda vir, iríamos proibir o Glee?

Não gosto de gente idiota nem de atos idiotas. Também não gosto nada da falta de liberdade. Se este pessoal morreu por causa da negligência ignorante de quem os mandou para lá, quem os mandou para lá tem que se submeter à justiça. Histórias tristes acontecem, porque a vida é uma merda. Pelo menos, que isto sirva para os idiotas pensarem que talvez valha mais a pena ser porreiro.

Elegia a Albert Camus

Perguntaram-lhe se era um intelectual de esquerda, e ele respondeu, “Não sei se sou um intelectual. Quanto ao resto, sou de esquerda, apesar de mim e apesar da esquerda.”
(...)
Durante a guerra de 1954 a 1962 na Argélia, Camus recusou escolher entre os árabes argelinos, cujos direitos ele defendia com frequência, e a sua própria gente, os pieds noirs europeus. (...) Depois da cerimônia do prémio Nobel na Suécia, ele foi abordado por um jovem argelino a quem respondeu, num ataque de indignação "Eu acredito na justiça, mas defendo a minha mãe antes da justiça".
The Irish Times


Por acaso, há dois dias comecei a reler coisas sobre Camus e, numa daquelas coincidências boas (para não dizer incríveis), reparei que 7 de Novembro - amanhã! - é o centenário do nascimento dele.

Albert Camus foi provavelmente o autor que me marcou mais na vida. Li "O Estrangeiro" na idade certa, aos 16 ou 17 anos, na esplanada do antigo café das Termas em Monção. Enquanto os emigrantes temporariamente retornados aproveitavam as férias de Verão nas mesas ao lado, eu enchia o livro de notas, sublinhados e dobras (e, claro, espreitava-lhes as filhas). Como disse aqui, no primeiro e mais duradouro blog que tive, batizado com o título de outra obra dele:

Nunca tão claramente (ou mesmo nunca mais) um livro me transformou (...), no sentido de que o meu pensamento, a minha ética, tornaram-se outros depois de o ter lido. (...) Eu fui para a universidade para ser um homem absurdo - ou seja, tentei reflectir na minha vida o que tinha lido (...) e por isso é que "O Estrangeiro" é o livro da minha vida. Apropriei-me dele quando tentei aplicar o seu "programa" a ela e isso nunca mais voltou a acontecer com outro livro, por falta de disposição e porque, se calhar, a própria vida só nos dá uma tentativa para que isso aconteça.


Não sei se estava a sucumbir a um resto de entusiasmo adolescente há dez anos quando escrevi isto. Por outro lado, entusiasmo nunca deixa de ser uma coisa boa. Acontece-me com Camus uma daquelas coisas mágicas e difíceis de acontecer com qualquer autor: uma identificação imediata com o que leio e com a pessoa por trás daquele texto, desconfiado de totalitarismos, defensor do justo, um pensador livre. Parece que ele me tira da cabeça pensamentos que não pensei, mas que estão lá, prontos para serem pensados. Todas as frases estão no lugar certo e escritas do jeito que devem ser escritas, sem nada a mais e sem nada a menos. E, depois, parece que ele está a escrever só para mim, como se os romances dele fossem cartas que só encontraram o destinatário quando eu as encontrei. A personagem Joseph Grand, d'A Peste, um homem cujo trabalho de vida é reescrever constantemente uma frase até ela ficar perfeita ("Por uma bela manhã do mês de Maio, uma elegante amazona percorria, numa soberba égua alazã, as áleas floridas do Bosque de Bolonha"), marcou-me tanto que passei a usar esse nome em fóruns de Internet, nicknames em sites, emails, etc. Às vezes havia quem pensasse que eu me estava a referir ao tamanho do meu membro sexual, mas, quando o mundo real acontecia, só o Camus me restava.

Nos teus 100 anos, Camus, eu agradeço-te, honro a tua memória e declaro a minha admiração. Espero um dia produzir alguma coisa que marque alguém tanto quanto o que tu escreveste me marcou a mim. Por enquanto, releio-te, agora e sempre.

A história da minha dívida à Segurança Social

O Hugo Gonçalves escreveu no Facebook:
Prezado Estado português - em 15 anos de trabalho fui apenas dois anos efectivo. Escolhi este caminho de free lancer e nunca te pedi nada além do básico (escola, transportes, polícia) nunca tive subsídios, nem 13 ou 14 mês. Nunca tive um tacho ou fui assessor do assessor. Nunca escolhi o lado seguro e conivente dos yes man. Mas sempre paguei os meus impostos e agora, quando tento regularizar um pequena dívida à segurança social, és tão lento e inábil que me penhoras apesar da minha vontade em pagar. É por isso que vou cessar actividade em Portugal e, tão cedo, não vais ver um tostão nem um minuto do meu trabalho.

Isto lembrou-me a história da minha dívida à Segurança Social. E esta não é uma história de redenção e cheia de esperança no final, mas é bom contá-la, no mínimo para que a sua memória não se desvaneça.

Era Dezembro de 2011 e eu já estava no Brasil. Enquanto esperava o réveillon numa praia de Santa Catarina, a minha mãe mandou-me uma mensagem dizendo que tinha recebido uma carta estranha do banco. Ela digitalizou a carta e mandou-ma. A Segurança Social tinha-me penhorado 1.500 euros da minha conta a prazo da Caixa. Sem avisos, notificações, nada. O número do processo, que eu não sabia que existia, estava lá na carta, enorme, misterioso, o mais kafkiano que algo pode ser.

Eu adivinhava do que se tratava. Em 2010, quando cheguei ao Brasil, suspendi a atividade nas Finanças na loja do cidadão. Passei logo pelas SS e perguntei se era preciso fazer alguma coisa. A senhora, muito simpática, disse-me que não, que depois cruzavam os dados e pronto. Tudo bem, lá vim para o Brasil descansado.

Março de 2011. Voltei a Portugal e fui às SS por um assunto que não tinha nada a ver com isto. Pelo meio, a mulher disse-me "você tem uma dívida aqui". Eu resmunguei que não tinha dívida nenhuma, que sempre pagara todas as contribuições e nunca fiquei a dever nada a ninguém. Ela disse-me os meses das contribuições que supostamente não pagara. Eram os meses posteriores a ter encerrado a atividade nas Finanças. Pelos vistos, não tinham sido cruzados dados nenhuns com as Finanças. No que às SS dizia respeito, eu continuara a trabalhar tranquilamente e, um belo dia, decidira não lhes pagar mais nada.

A mulher bloqueou a dívida, para não render juros. Ela ficaria lá na base de dados deles por uma questão meramente formal e desapareceria do sistema assim que eu apresentasse o comprovativo do encerramento de atividade. Só que eu ia viajar para o Brasil uns dias depois e não conseguiria fazer isso. "Há um prazo?", perguntei. "Não", ela respondeu. Fiquei descansado.

Outubro de 2011. As SS nunca mais me disseram nada, mas, como estava em Portugal outra vez, fui à repartição entregar o comprovativo de encerramento da atividade. Pelo que me dizia respeito, o assunto estava encerrado.

Até que, em Dezembro, quando eu já estou no Brasil outra vez, a minha mãe me diz que as SS me penhoraram 1.500 euros da minha conta a prazo por conta de um processo que eu nunca vira, do qual nunca fora notificado e, consequentemente, nunca me fora dada oportunidade de fazer contraditório.

Seguiu-se uma série de e-mails e telefonemas para tentar descobrir que processo era este e o que se deveria fazer para o resolver. Por sorte, a minha mãe professora tem uns 20 anos de sindicalismo nas costas e conhece todas as subtilezas do diálogo com órgãos públicos. Depois de muito blablablá com as SS, lá acabou por ir à repartição entregar não só o comprovativo do encerramento da atividade nas Finanças como também o comprovativo de que já tinha entregue nas SS o comprovativo do encerramento da atividade nas Finanças. Em Janeiro, o dinheiro que me fora penhorado voltou à minha conta.

A minha veia conspirativa sussurra-me ainda hoje que, num ano em que todo o discurso político já se fazia à volta da crise, houve uma corrida para injetar todo o dinheiro possível na máquina do Estado. Por isso me tiraram o dinheiro em Dezembro, por isso mo devolveram em Janeiro. Os números oficiais mostrariam que as cobranças por dívídas às SS aumentariam em 2011 - mas não se veriam os números dizendo quantas dessas cobranças foram devolvidas em 2012.

Como disse, isso é o que a minha veia conspirativa me sussura, e ela pode estar errada. A culpa não foi dos funcionários públicos que me atenderam, que, ao longo desta história toda, foram sempre prestativos e educados. A culpa também não foi minha, porque fiz tudo o que precisava ter feito. A culpa nem foi da minha mãe (lamento, Freud). A culpa foi toda de um sistema burocrático que deveria existir para servir as pessoas, mas do qual é mais fácil sair do que suportar. E é uma pena que isso seja assim.

As lágrimas do chuveiro elétrico

O meu chuveiro elétrico
É que sofre no entretanto.
"É inverno ou verão?!",
Pergunta ele chorando.

Mas, meu querido chuveiro,
Não adianta chorar
Porque moras em São Paulo
Tens mais é que trabalhar.

O piropo e o sexo

Li a resenha da sessão sobre o piropo no Fórum Socialismo 2013 que está a agitar o meu Facebook há uns dias. Comentários:

"[O piropo é] mais uma demonstração da relação de poder que a sociedade patriarcal estabelece."
Se aceitarmos que a sociedade é patriarcal, sim. Não me parece que a sociedade seja tão patriarcal como já foi, mas, se o piropo existe e alguém se incomoda, isso deve ser falado. Afinal, estes fóruns não são para isso mesmo?

"A rua pertence de maneira diferente aos homens do que às mulheres, às quais lhe é reservado o espaço privado, o da casa, os filhos , as comidas."
Quem sinceramente dá crédito a algum homem ou mulher que pense assim? A sério, quem, desta ou de outra geração? Uma vez, no elétrico 28, um velho taradote fez um comentário menos próprio sobre a parte posterior de uma jovem moça que estava à frente dele. Sem desculpar o mau gosto, as velhas que lá estavam trucidaram-no ao ponto que cheguei a temer pela segurança física do homem.

"O homem é ensinado desde pequeno a ser sujeito sexual (...). Pelo contrário à mulher lhe é reservada apenas a possibilidade de ser objeto sexual."
Claramente, alguém se esqueceu de dizer isso a várias mulheres que conheci. E ainda bem.

"O corpo da mulher está presente nas fantasias masculinas heterossexuais e na sua realidade, como algo que ele utiliza ao seu gosto e conveniência."
Er... não podemos dizer também que o corpo do homem está presente nas fantasias femininas heterossexuais e na sua realidade, como algo que ela utiliza ao seu gosto e conveniência? Não é isso a base da fantasia?

Eu acho muito bem que estas palestrantes exponham os seus pontos de vista e a sua indignação, que só quer transformar o mundo num lugar melhor. Mas eu espero que, quando o fizerem, queiram transformar este mundo - e não aquele sobre que as feministas do século XX escreviam. Não esqueçamos que, se "a banalização [do piropo] reflete a normalização da ideia da mulher enquanto ser que está aí para cumprir o seu papel, ser vista e avaliada, tocada", o direito da mulher se virar para o homem e dizer "vai apanhar no cu, cabrão filho da puta" também já foi conquistado há algum tempo.

Justice: uma grande aula

http://www.youtube.com/watch?v=8I8e8oJpoII&list=SP5FAA509E4E51B654

O que me chamou mais a atenção há uns meses na primeira vez que vi Justice foi que, logo no primeiro episódio, Michael Sandel confronta os seus alunos com um caso que me lembrava de ter lido no manual de Direito Penal do Eduardo Correia, onde ele defendia haver uma coisa chamada "espaço livre de Direito". Isso tem-me servido em conversas desde então para mascarar o fato de recordar muito pouco do que estudei durante 5 anos.

Assistir Justice é um reencontro com um tempo em que ouvia um grande professor, Gomes Canotilho, falar de temas complexos a mentes ansiosas com a consciência de que a reflexão sobre a resposta é mais importante do que a própria resposta. É um reconhecimento nas caras dos alunos, desde os mais tímidos até aos mais interventivos, da minha e das dos meus colegas, fervilhando enquanto tentávamos fazer sentido do que estavamos a ouvir. E, claro, não deixa de haver uma certa vaidade intelectual de estarmos a assistir uma aula de Harvard...

Felizmente, a UNIVESP TV disponibiliza todos os episódios legendados de forma gratuita no seu canal do YouTube. Se quiserem vê-los de seguida, é só dar um play no vídeo aqui em cima.

O que é ver Deolinda em São Paulo

É ir ao SESC Santana, ver uma sala cheia e ficar surpreendido por a esmagadora maioria ser brasileira, e não portuguesa.

É lembrar tê-los ouvido na internet por acaso, ir ao lançamento do primeiro disco deles na FNAC do Chiado, onde estavam umas 20 pessoas, e ganhar o bilhete para ir ao São Jorge uma semana depois, que estava cheio, e pensar que esta não era uma banda qualquer.

É ouvir as guitarras tocar e lembrar Lisboa, o sol, as praças, as casinhas da Graça, o elétrico 28 que me levava até ao trabalho na Estrela, os velhos castiços, as ginjinhas no Rossio.

É ouvir "Parva que sou" e me passarem pela cabeça as manifestações a que não pude ir e as caras das minhas pessoas a descer a Avenida da Liberdade.

É chorar um pouco também.

"A adoção de crianças por casais homossexuais põe em risco a família"


Assim diz uma vereadora do Recife, Michele Collins. É uma das minhas lógicas preferidas nos tempos que correm. Apliquemos o argumento a outras dimensões da realidade.

A adoção de iPhone por quem tem PC põe em risco a tecnologia.
Claro.

A adoção de um carro por quem dirige bicicleta põe em risco o transporte.
É muito certo.

A adoção de cachorro por quem tem gato põe em risco a vida animal.
Porque não se fala isso mais vezes?

A adoção de vegetais por quem come carne põe em risco a comida.
Com certeza.

A adoção de panelas por chapeiros põe em risco a culinária.
Surpreende-me que ninguém tenha pensado nisso antes.

A adoção de regras por quem é desregrado põe em risco a ética.
Faz todo o sentido.

E por aí poderíamos ir. Agora, só fico muito curioso por saber o que Michele Collins diria sobre esta piada sobre a cidade que ela administra. Aposto que seria um comentário muito inteligente.

A Lei Maria da Penha deveria ter sido aplicada no caso da agressão a Luana Piovani?

Primeiro, achava que não.

A decisão de não aplicar a lei Maria da Penha foi baseada pelo relator do TJRJ no fato de que "a indicada vítima (...) não pode ser considerada uma mulher hipossuficiente ou em situação de vulnerabilidade".

Portanto, eu, estrangeiro, desconhecedor, pensei que a Lei Maria da Penha precisava das condições "relação afetiva estável", "hipossuficiência" ou "vulnerabilidade" para ser aplicada.

Cabe dizer que não aplicar a lei Maria da Penha não significa que a agressão não seja punida. Simplesmente, sê-lo-á pelas leis gerais sobre agressão, sem os agravamentos previstos por aquela.

Portanto, se a lei Maria da Penha é especial, é preciso ver em que situações especiais ela deve ser aplicada.

Fui lê-la.

Pesquisei "estável": nada.

Pesquisei "hipossuficiência": nada.

Pesquisei "vulnerabilidade": nada.

"Raio", pensei, "vou ter mesmo de ler isto". Fico sempre relutante por voltar aos meus tempos de jurista, mas lá foi.

E então reparei no artigo 5º.
Art. 5o Para os efeitos desta Lei, configura violência doméstica e familiar contra a mulher qualquer ação ou omissão baseada no gênero que lhe cause morte, lesão, sofrimento físico, sexual ou psicológico e dano moral ou patrimonial:
(...)
III - em qualquer relação íntima de afeto, na qual o agressor conviva ou tenha convivido com a ofendida, independentemente de coabitação.

Ou seja, "estabilidade", "hipossuficiência" e "vulnerabilidade" não são critérios necessários para a sua aplicação.

Não é necessário filhos, não é necessário um casamento, não é necessário coabitar, não é necessário dependência económica.

O que é necessário é convívio e uma relação íntima de afeto.

O art. 5º/III é claro, e esquecê-lo só pode revelar uma incompetência grave e uma argumentação desnecessária e circular. O TJRJ, como mostra o acórdão, incorreu nesses dois defeitos ao ir buscar a justificação numa ratio legis meio inventada ("violência intra-familiar, levando em conta a relação de gênero, diante da desigualdade socialmente constituída") quando a lei contem uma norma concreta claríssima.

Porque o tribunal fez isso, eu não sei. Mas, no caso de Luana Piovani, a sua decisão foi errada.

Memória

Um gajo trabalha tanto que é fácil esquecer-se de ter saudades. Porque não é só saudade que é lembrança: é preciso lembrarmo-nos de ter saudade. Mas um dia por acaso ouvimos coisas assim, que nos arrancam do presente e nos atiram com força, nos esmagam a cara, contra o que somos. Fora de Portugal, ouvindo coisas assim, pareço-me mais português do que nunca.

Um poema de Marcial (séc. I)

Pergunto-te: quem pode suportar esse afã?
Lês para mim quando estou de pé,
Lês para mim quando estou sentado,
Lês para mim quando estou correndo,
Lês para mim quando estou cagando.

As duas máquinas

São Paulo teve manifestações brutais esta semana que estão a ser alvo de muita atenção pelo mundo fora. A causa delas foi o aumento da tarifa dos ônibus e metro de R$3 para R$3,20, ou seja, um aumento de 15%. Mas elas representam um pouco mais do que isso.

Para que quem não é daqui entenda, o sistema de transporte público de São Paulo funciona de uma forma um pouco esquizofrénica. Nunca vi um metro que tivesse uma rotação de trens tão rápida, mas, por outro lado, o tamanho da rede é minúsculo em relação ao tamanho da cidade. SP é uma das cidades mais congestionadas do mundo e os ônibus sofrem nos engarrafamentos, se bem que desconfio que uma cidade como Lisboa arranja às vezes complicações maiores com um volume de trânsito muito menor. O metro e os ônibus, apesar de muito cheios nas horas de rush, são relativamente confortáveis, mas não existe integração entre viagens - ou seja, uma viagem que implique metro e ônibus implica o pagamento de duas tarifas (ainda que uma acabe diminuída, mas implica).

Ou seja, num estado em que o salário mínimo é de 755 reais e num país que discute a distribuição dos lucros do pré-sal e os biliões gastos nos estádios da Copa do Mundo, custa a engolir que seja a classe menos endinheirada a suportar o aumento da inflação no transporte público.

Claro, o Governador diz que a subida foi menor do que a inflação e o prefeito Haddad sempre admitiu que as tarifas iriam aumentar (e iriam aumentar mais do que o costume porque o anterior prefeito, Kassab, não quis ajustá-las em ano de eleição). Por outro lado, Haddad criou a primeira encarnação de passe mensal e ilimitado. Mas esta subida acabou por servir como a gota de água que fez transbordar o copo. O poder brasileiro tem frequentemente desvios de autoritarismo e, pior, é um autoritarismo que acontece sem muitas vezes ter uma razão aparente. A polícia acaba servindo como um braço visível desse impulso repressivo.

Entre muitas coisas, uma manifestação é um símbolo, em que duas máquinas se confrontam: uma máquina de manifestar e uma máquina de controlar. Essas máquinas são bem complexas e bem maiores do que as pessoas que as representam no momento e espaço concreto. Trata-se de manifestantes e policiais, sim, mas também de opinion makers das duas facções, anarquistas e comerciantes preocupados com as suas lojas, cidadãos comuns e políticos.

A polícia justifica-se com a radicalidade de alguns manifestantes, agressões contra PM's e atos de vandalismo para justificar a carga. Argumentos que perdem um pouco a razão quando a polícia é encontrada a partir as janelas dos seus próprios carros para culpar terceiros.

httpv://www.youtube.com/watch?v=kxPNQDFcR0U

Além de achar que balas de borracha e bombas de lacrimogéneo disparadas a rodo contra protestantes pacíficos não são uma solução proporcional para lidar com pedradas ou sprays para pichar paredes, tenho uma pergunta a martelar-me a cabeça: quem transformou ao longo do tempo uma manifestação num evento violento? Foram os manifestantes? A carga policial de ontem está a justificar maiores mecanismos de defesa - e de agressão - para a próxima manifestação na segunda feira. Portanto, a violência da máquina de controlar justifica a violência da máquina de manifestar e vice-versa. A polícia impediu os manifestantes de entrarem na Paulista, limitando sem razão o seu direito de se manifestar. A polícia prendeu pessoas por terem, não gasolina ou granadas, mas simples vinagre (usado para suportar o gás lacrimogéneo). A polícia fez ontem os atos que os meus amigos Cícero Oliveira e Ana Reber, bem descreveram.
"A tropa de choque avançou pelas laterais do cortejo, que subia pacificamente em direção à Avenida Paulista. Na altura do Mackenzie, ela fez um bloqueio e, entre gritos de "Sem violência!" e "Não reajam", começou a atirar bombas de gás lacrimogêneo. A multidão recuou, concentrando-se, então, na Praça Roosevelt. A tropa de choque (que havia se dividido e encurralado dos dois lados – Avenida Ipiranga e Consolação – os manifestantes) jogava bombas, balas de borracha, a cavalaria. De repente só havia gente correndo desesperada, gente, aliás, que nunca tinha participado de nenhuma manifestação (a média de idade ali era claramente de 20, 25 anos), que não sabia que gás lacrimogêneo fazia arder a garganta e chorar."

"Os manifestantes gritavam e pediam paz. Estudantes com olhos cheios de lágrimas, gente machucada...foi muito triste e me lembrou aquele discurso, de que as pessoas que lutavam contra a ditadura eram terroristas. Por que protestos em qualquer outro lugar do mundo são legítimos e aqui são taxados de baderna?"

A violência ontem levou a mídia a mudar o discurso: depois de focar no vandalismo de terríveis pichadores, centrou-se hoje na malvadeza da terrível polícia. Ontem, a Folha de São Paulo pedia fotografias de vandalismo; hoje pediu relatos de violência policial. Haddad, sentindo o seu eleitorado desertar, já veio condenar a violência. Vejamos o que as máquinas vão dizer na segunda feira. Por agora, até uma dança mereceu rojão.

httpv://www.youtube.com/watch?v=LmcLqlFk6Ac

Uma daquelas coisas que dá gosto ler quando se é roteirista

https://twitter.com/Juliadidit/status/339160343647498240

A primeira vez

São quase 3h da manhã e eu devia estar a dormir, mas acabei de fazer uma coisa pela primeira vez e quero registá-la aqui. Não, relaxem, não foi encher sacos plásticos com os pedacinhos milimétricos de uma mulher que passeava na rua à noite (até porque só faço isso com gatinhos de até 2 semanas de idade).

Eu já vi dois (ou mais) filmes, uns atrás dos outros, várias vezes. Eu já vi dois (ou mais) episódios de série, uns atrás dos outros, várias vezes. Mas eu nunca vira um episódio de série e, no final, voltado a vê-lo todo de novo por puro e absoluto deleite. E foi isso que me aconteceu com o 8º episódio da 6ª temporada de Mad Men.

Eu sei que vou merecer escárnio eterno pelo que vou dizer, mas houve um momento que fez os meus olhos marejarem-se de lágrimas, não pelos fatos que aconteciam, mas pelo modo como estavam a ser contados. Uma estrutura perfeita, dolorosa de tão boa, um exemplo de como inteligência na planificação da história previne o overacting do ator. Para entender o que estou a dizer, vejam como aquelas elipses são feitas e como Jon Hamm não precisa de cambalear para mostrar que... enfim, vejam e irão entender.

Aproveitando, antes que alguém ache que estou hipersensível e me pergunte se está tudo bem, já deixo aqui a resposta.

ifeelgreatimonadeadline

Entre os dois exércitos

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=M6ftVCjmn6c&w=420&h=315]
Então, parece que o fait-divers do dia em Portugal é este vídeo com este rapaz a responder à Raquel Varela (a partir dos 4 minutos). Entretanto, ela já respondeu à viralização do vídeo, deixando seu ponto de vista claro. E, como não podia deixar de ser, a coisa está a entrar no domínio da abstração argumentativa. Os mais liberais estão a usar o vídeo para rir-se da falta de sentido de realidade de quem defende os direitos laborais e a insuficiência do salário mínimo e estes estão a usá-lo para mostrar que os primeiros só pensam no lucro e não se preocupam com os direitos laborais e a insuficiência do salário mínimo.

Por um lado, Raquel Varela é apelidada de não ter noção do ridículo. Por outro, Martim, que tem 16 anos e criou uma marca de roupa, é acusado de ser socialmente insensível por ter dito que é melhor que os trabalhadores das fábricas que lhe vendem a roupa ganhem o salário mínimo do que estarem desempregados.

Esta discussão está, ao mesmo tempo, dentro do mundo e fora do mundo. Está dentro do mundo, porque tenta definir um caminho para aquilo que ele deve ser. E está fora, porque não entende como ele funciona. Sim, os trabalhadores merecem mais, e nunca menos. E, sim, isso pode acontecer no âmbito de um mercado. A criação de uma marca de sucesso significa exigência por parte dos seus compradores e distribuidores: veja-se a Apple, que não se pode arriscar a ser vista como exploradora e, por isso, é cobrada de cuidado com os seus fornecedores. Veja-se a Foxconn, que trabalha para a Apple, a Microsoft e a Sony, e que, "ocidentalizando" a sua cadeia de produção, "ocidentalizou" as exigências dos seus trabalhadores. É isto que leva a que uma classe média apareça na China e, com ela, as suas exigências naturais em termos de qualidade de vida ("the availability of safe food, fair access to good education and health care, and, more and more, safe air").

Acreditar que o mercado deve ser regulado e corrigido pelo Estado não significa que não se possa acreditar que o mercado também tem um balanço intrínseco. Quem produz merece o seu pagamento, mas ele não virá sem que o seu produto seja vendido. Goste-se ou não, todos dependemos uns dos outros.

Benficas

jorgejesusajoelhado
1.
Tudo está bem. Daqui a minutos a tua vida vai avançar mais um pouco e tu poderás descansar. Quaisquer erros que cometeste serão ultrapassados, porque nunca mais ninguém se lembrará deles, e onde podem eles viver a não ser na memória dos outros? Tu sabes que mereces o que há-de vir de bom, como uma criança que se portou bem o ano todo e espera ser reconhecido no Natal. Tudo está quase a acabar, e a acabar bem, e a acabar bem...

2.
...mas o que não podia acontecer acontece e a tua mente para esse instante, porque nem tu consegues acreditar. Já não concebias essa hipótese, ela estava fora do campo das coisas possíveis e, de repente, tens que repensar tudo de novo. O momento dura um segundo, mas tu sente-lo como um dia. Antes querias descansar a cabeça, agora mil soluções te passam por ela. E pode ser que uma delas seja a certa, a milagrosa, a que resolve todos os teus problemas...

3.
...mas tu não tens tempo para nada. Foste apanhado de surpresa: não há nada a fazer. As pernas ficam-te sem força, tu cais. Baixas o rosto. Estejas lá onde estiveres, essa dor é só tua. Já muita coisa te atingiu, já sentiste muita dor, e o resultado é sempre o mesmo. Tu lembras-te do que teimas em esquecer: a vida não foi feita de encomenda para tu venceres. A vida é só esta merda em que te ocupas a cair e a levantares-te de novo, vezes e vezes sem conta, até um dia acabar quando nunca mais te conseguires levantar...

4.
...mas este não é esse dia, porque tu sabes que o que importa não é o instante em que tudo se perdeu, mas o que fizeste até lá chegar. É o caminho que te move. Tu vives para te levantares de novo, e essa é a aventura, afinal. Tu não podes desistir, porque isso é coisa de cobarde. Ergues o rosto, olhas em volta. Engoliste a dor e agora és mais forte do que eras antes disto tudo acontecer. Todos ou nenhuns olhos estão postos em ti. Talvez não saibas ainda o que vais fazer, talvez. Mas isso não importa agora. Levantas-te de novo e começas a andar. Em frente.

Perseguindo o Anão Chinês - escrever o Desafio da Beleza

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Escrevi este texto sobre a primeira temporada do Desafio da Beleza para uma revista portuguesa. Como hoje estreia a segunda temporada, no canal GNT, faz todo o sentido publicá-lo aqui. Será que foi desta que o anão chinês entrou?

Em 2012, a produtora Moonshot, onde trabalho, teve dois projetos a serem escritos, gravados e editados simultaneamente. Um é a série de ficção "Sessão de Terapia", versão brasileira de "In Treatment", ou, mais precisamente, da israelita "Be'tipul". Outro é o reality show sobre maquiagem "Desafio da Beleza". A ficção tinha 45 episódios. O reality tinha 13. 13. Como as séries da HBO ou da AMC.

O "Desafio" adapta um formato que um produtor francês fizera para a China. Tivemos total liberdade na nossa versão, mas, depois de uma primeira entrega de espelhos, ou "outlines", a reação foi pronta: eu e os meus colegas Edson Fukuda e Fabio Farias fôramos demasiado bem educados. Não com os concorrentes, com quem fizemos questão de ser mauzinhos, inventando provas, vantagens e castigos bem ruins, mas com o formato. Este programa, disse então o meu chefe, tem que ter algo inovador em todos os episódios.

Isto não foi surpreendente. Na verdade, foi uma benção. Hoje em dia o termo "reality" define mais um modelo de produção do que propriamente um compromisso absoluto com a realidade. A experiência Big Brother provou que as novelas da vida real têm um grande problema: são da vida real, e a vida real é chata. A longevidade do BBB aqui, afinal, explica-se pela forma como tem integrado com sucesso soluções de programas de variedades (concertos, visitas de celebridades, etc). Para satisfazer o pedido do meu chefe, tínhamos que recorrer a técnicas de ficção.

Séries como ER, House ou Mad Men acompanham dois universos temáticos diferentes, mas naturalmente próximos: a profissão das personagens e a sua vida pessoal, e a forma como as duas se relacionam. Da mesma forma, um reality de competição integra a participação de concorrentes num concurso, a sua vida pessoal enquanto ele progride e, claro, a forma como as duas se relacionam. Se pensarmos na vida real como material narrativo, isto é drama na pureza máxima da definição de David Mamet: "a missão do herói para ultrapassar aquelas coisas que o impedem de alcançar um objetivo específico e premente".

A tarefa, ao início, era assustadora. Como ser original com um formato que é tão conhecido? Mas a solução estava no próprio problema: toda a gente sabe como um reality de competição é e o que nele acontece e segundo quais regras. Então, estas podem ser esticadas e moldadas e, ainda assim, permanecer compreensíveis para o público.

Partimos então para os roteiros de pré, que são a bomba que se atira à água para pegar o que vem à tona e criar a história final. O 1º episódio era original por si mesmo, porque era um casting enorme do qual sairiam os 12 selecionados. Deixamos o 2º redondo, só para mostrar que sabemos fazer isto e não somos doidos nenhuns.

No resto, pirámos. No episódio que decorre num teatro, pusemos as luzes a apagarem-se sobre o eliminado como se fosse um ator cujo espetáculo desiste dele. Incluímos mensagens vídeo secretas dos apresentadores. Acordamos os concorrentes de surpresa, a meio da noite, para maquiarem num fashion shoot ao nascer do sol no Rio de Janeiro. Incluímos uma sequência de sonho. Arquitetamos uma prova dentro de um táxi em split screen. Fizemos um episódio sobre noivas em formato de fábula Altmaniana sobre estas que, POR ACASO, são maquiadas por nossos concorrentes. E assim por diante. Mas nada me deixou tão contente como o 4º episódio.

O brainstorming nesse dia estava já longo e o ar nas nossas cabeças saturara. Chegáramos àquele ponto do cansaço em que não apetece pensar mais. Mas era preciso dar a volta ao episódio. Nele, os maquiadores tinham de rejuvenescer mulheres com idade mais avançada.

Fiquei a matutar nisso. Tempo. Voltar atrás. Tempo. Voltar atrás. E o McKee saltou-me da lembrança. Essa seria a "controlling idea" do episódio: tempo voltando atrás.

Gostaria que tivessem estado lá para verem a cara dos meus colegas quando eu disse "vamos contar esse episódio de trás para a frente".

Claro que não fizemos um simples rewind, mas montámos uma série de flashbacks e flashforwards, começando com o tom geral da avaliação final dos jurados, sem revelar a decisão, para depois partir para o início do dia dos concorrentes, e assim por diante. Sabíamos que o público entenderia: como disse antes, as regras do formato são conhecidas. Mas tivemos sempre um roteiro linear de reserva, e duas versões do episódio chegaram a ser editadas. Um dos editores jurou que, se a versão que idealizáramos passasse, ele correria nu em volta do estádio do Pacaembu. Ele não cumpriu a promessa, mas o episódio passou. No final, até alguns concorrentes chegaram a mandar-nos mensagens de felicitações no Facebook.

Ainda assim, houve uma coisa que faltou no "Desafio". Enquanto estávamos ainda na fase de soltar m**das para o ar, pensámos num anão chinês que em todos os episódios faria uma aparição. Foi a única ideia louca que não conseguimos encaixar, em grande parte porque não sabíamos onde arranjar um anão chinês em São Paulo. Mas vai haver sempre um outro reality no futuro, não?

Aparando Relvas


Pode ser porque estou no Brasil e não estou a ver bem as coisas, mas comicham-me umas perguntas quando vejo as reações ao fato de os ministros portugueses, principalmente Miguel Relvas, estarem a ter os seus discursos calados por pessoas cantando o "Grândola Vila Morena".

Uma dessas ocasiões foi numa conferência no ISCTE, instituição que depois afirmou cultivar "as liberdades individuais e a participação democrática” e lamentar "que a liberdade de expressão não tenha podido ser exercida” por Miguel Relvas. O líder parlamentar do partido do Governo disse até que “a democracia foi abalroada”.

Primeira pergunta: porque é que cidadãos se manifestarem de uma forma que perturba um governante é antidemocrático?

Se reprovarmos a perturbação, estaremos a assumir que uma manifestação não deve perturbar um governante. Que ela só deve ser feita segundo moldes e padrões de comportamento pré-combinados e bem educadamente, reduzindo a desobediência cívil, ainda que pacífica, ao mínimo. Ora, não sei se sou só eu, mas isso não parece lá muito democrático. Estou enganado?

Segunda pergunta: claramente tem havido um choque entre o direito de expressão do ministro e o direito de manifestação dos cidadãos. Mas, se assumirmos que o primeiro vale mais que o segundo e os cidadãos se tem que calar quando um ministro fala, não estamos a assumir algo, digamos, antidemocrático? Eu acho que ser cidadão ainda é, ou deve ser, mais do que só ir de 4 em 4 anos à urna. É um erro assumir isto? Se for, digam-me, hã.

Terceira pergunta: um ministro exerce um poder soberano que lhe é entregue pelos eleitores. Se o desencontro de opiniões entre eles chega ao ponto de ninguém o querer ouvir, não será hora de o ministro concluir que o seu poder está esvaziado e se demitir - ou, no mínimo, ficar calado?

Ao longo destes dias, vi comentários no Facebook e no Twitter que discordavam das minhas suposições e não viam nenhum problema em fazerem-no. Um post expressivo dizia até que "o Zeca não merecia que transformassem o "Grândola, Vila Morena" num fenómeno viral".

Quarta pergunta: os atenienses que inventaram a democracia mereciam Miguel Relvas?

Quinta pergunta: porque o Zeca não merecia?

Qual o problema de um país - afogado em impostos, dívidas, desemprego e as consequências de uma crise que o deixou a sentir-se perante o FMI e a UE como se sentiu perante a Inglaterra no Ultimato de 1890 - cantar a canção fundadora do seu atual regime político como quem diz "apesar de tudo, a democracia portuguesa ainda existe, e está nas mãos de todos que cantam estas palavras"? E qual o problema de propagar essa mensagem?

Aparentemente, nenhum, pois nem a polícia sabe com que crime justificar a identificação que fez de alguns dos manifestantes.

Mas confesso que, de tudo o que li, nada me intrigou tanto como o comunicado da JSD, principalmente porque me pareceu tão idiota, mas tão idiota, que a dada altura confirmei se o site em que o estava a ler não era o do Inimigo Público. Aqui seguem algumas passagens ilustrativas (mas muito pouco ilustres).

"Nos últimos dias, pessoas têm recorrido à perseguição e impedido o direito constitucional de um ministro expressar a sua opinião."
Ir a locais de acesso aberto onde o ministro discursa é perseguição? E, como já perguntei antes, o direito à manifestação dos detentores do poder soberano não é mais importante do que o direito de expressão do seu executor?

"A democracia vive do contraditório e nele se baseia, de forma a respeitar todo o tipo de pensamentos. Não há contraditório quando só uma parte fala (ou grita), e quando não há contraditório a democracia não funciona!"
Não é um pouco exagerado falar em "contraditório" quando falamos da relação entre o ministro e o seu povo - ainda para mais quando a mensagem daquele não parece ter sofrido grandes variações ao longo do tempo? Se não for, pensando que as manifestações respondem às políticas do Governo, não são elas um exercício de "contraditório" pelos cidadãos?
Já agora, há um tom de voz correto para protestar contra o Governo? A JSD conhece-o? Pode divulgá-lo, por favor?

"As pessoas que se manifestaram têm organização, mas carecem de mobilização".
Só para confirmar, estamos a falar das pessoas que fizeram algumas das maiores manifestações do Portugal democrático? Estamos, né?

"A atitude dos manifestantes configura "censura"."
Aqui, por acaso, não tenho perguntas. Só observo que cantar à frente de um ministro parece ter tudo a ver com julgar, arrancar unhas e mandar para o exílio quem diz coisas desconfortáveis para o regime.

Democracia não é um Governo, e um Governo não é democracia. Por isso, o que está em risco quando o povo protesta contra o Governo não é a democracia - é o Governo. Quando a JSD confunde as duas coisas, revela-se ingénua, impreparada e simplória. Mas, acima de tudo, revela medo. Não um temor, um receio, mas o medo infantil de perder alguma coisa. E isso é muito, muito idiota.

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