Presidente fraca contra os brutos

A história é feita pelos vencedores e, neste momento, os vencedores estão à direita do PT. Não importa que o percurso do indiciado Eduardo Cunha seja dos mais sinistros na política brasileira, não importam os exageros alucinados de Bolsonaro ou Feliciano na defesa de visões trogloditas. O país só tem olhos para o fim do que há agora. As manifestações do 13/3 são anti-corrupção ou anti-Dilma? Ninguém sabe já muito bem. Não importa mais. As pessoas estão mais interessadas em sair do impasse em que se encontram. E, digam o que disserem os defensores do PT, Dilma tem muita culpa desse impasse.

No segundo mandato, Dilma mostrou que não está à altura de lidar com a crise econômica, muito menos com a deserção política dos aliados. É surpreendente, para uma mulher que sempre pareceu tão forte, mas revelador: Dilma sabe resistir, mas não sabe mexer-se. Foi ineficaz no jogo político e deixou que um congresso adverso e oportunista a encostasse ao canto. Ela passou esse segundo mandato paralisada politicamente, e a renúncia não seria surpreendente.

Ironicamente aguentando Dilma no cargo, parece-me, está o mesmo pedido de impeachment que a tem ocupado e desgastado. Exagerado e com uma base muito discutível, ele sempre foi mais um instrumento de pressão contra ela do que um processo urgente para repor a justiça, mas hoje ele é uma razão forte para ela não abdicar do posto. Dilma disse que pedirem a renúncia dela é admitir que o impeachment não tem base, e o contrário também é verdade: ela resiste a renunciar, porque fazê-lo agora seria admitir que o impeachment tem base.

No Brasil e no mundo, hoje e sempre, líderes e partidos vêm e vão e, enquanto isso, os povos sofrem mais ou menos. Nada de novo, portanto. O preocupante é o que pode ascender ao poder depois que este status quo passar.

Lula foi forçado a depor usando uma lei que só deveria ser usada se ele se tivesse recusado a fazê-lo antes, e, sabemos agora, assim aconteceu com a maioria dos alvos da Lava Jato, assim revelando como mera desculpa a justificativa de Sergio Moro de que se tentava evitar o tumulto social que daria a marcação de um depoimento agendado do ex-presidente. O Ministério Público pediu a prisão preventiva de Lula sem que houvesse base jurídica suficiente e, em bloco, juristas e políticos ligados à oposição e ao Governo reprovaram. Talvez alguns só tivessem percebido então o tamanho do monstro que ajudaram a criar. Dois dias depois, a Polícia Militar entrou numa reunião de um sindicato que fazia um ato de solidariedade a Lula.

Não se trata de pôr em causa os méritos da investigação, das provas e dos argumentos jurídicos contra Lula. Trata-se de pensar no que foi revelado. A articulação próxima do judicial com a política, o atropelo dos direitos processuais básicos de acusados e ações intimidatórias da polícia (sempre com a desculpa de manter a estabilidade social, de evitar tumultos - em suma, de paternalmente defender a sociedade dela mesma) são mecanismos típicos das ditaduras. Fala-se muito em “golpe”, e talvez na sombra ele esteja a acontecer mesmo. Se Dilma é uma péssima jogadora do jogo político democrático, os seus adversários parecem não ter nenhum problema com atropelar as suas regras.

As manifestações do 13/3 superaram, segundo o Datafolha, as das Diretas Já. Nelas, Aécio Neves e Geraldo Alckmin, políticos de direita controversos, mas relativamente moderados, foram vaiados em São Paulo. Já o quase extremista Bolsonaro foi aclamado como “mito” em Brasília. O ódio específico contra o PT - não contra os corruptos, não contra os políticos, mas contra o PT- vem do quê? Não entendo, e também não entendo este afã por figuras de força bruta que não trazem nada de novo ou construtivo além do ódio. Se o objetivo de tudo isto é abrir um novo caminho no Brasil, com correções de falhas antigas, ele está irremediavelmente condenado a falhar.

Ir de bicicleta dobrável para o trabalho em São Paulo

Isto é só um complemento às dicas preciosas da Sabrina Duran.

Lisboa, um dia de 2008. Chego a casa frustrado por perceber que é impossível enfrentar a subida até à Graça, onde moro, com a bike que comprei. Penso que poderia ter gasto um pouco mais e comprado uma dobrável, que, se dobrada, é considerada bagagem e, portanto, pode entrar a qualquer hora nos transportes públicos.

Corta para São Paulo, 2016. Na última Black Friday, comprei uma Durban One, uma bike dobrável bem simples, de uma marcha. Passei um mês pedalando para a produtora e reduzindo a caminhada de 20min para metade. Mas vou gravar um programa em breve, o que significa um percurso até ao estúdio de caminhadinha-metrô-trem-caminhada. Então, decidi testar essa integração da dobrável com os transportes.

Veredicto: funciona.

Assim que cheguei ao metrô, no momento em que punha a dobrável do outro lado da porta de quem passa de cadeira de rodas ou com carrinhos de bebês, um funcionário avisa-me: "tem que estar embalada". Já sabia disso. Passo na catraca, tiro da bolsa o saco de lixo que pedi ao porteiro no dia anterior e ponho a bicicleta dentro. Sim, o saco de lixo serve como "embalagem". E o resto do percurso de trem será assim.

A dobrável no saco, esperando o trem parar.

Isso da bicicleta ser embalada parecia-me frescura da CPTM e do Metrô, mas dou o braço a torcer, faz todo o sentido. Uma bicicleta tem metais saindo, correia com óleo, rodas com poeira. É uma exigência absolutamente razoável para que, no aperto, ninguém suje a calça nela sem querer.

A Durban dentro do trem.

Há outras regras de "etiqueta de usuário ciclista" que eu poderia não ter seguido, porque a bike dobrada e embalada deixa de ser "bicicleta" e passa a ser "bagagem", mas a verdade é que elas também acabaram por me facilitar a vida. É mais confortável pegar o último vagão, porque normalmente tem menos gente. E é bom esperar todas as pessoas embarcarem ou desembarcarem, porque evita bater com a bike em alguém e faz a tarefa de carregá-la bem mais confortável.

No trabalho, a bike ficou num cantinho, sem incomodar ninguém.

Em suma, o tempo das caminhadas foi reduzido, carregar a bike no metrô não foi complicado e, no final, deu tudo certo. E, só para desfazer possíveis enganos, apesar de não ter alergia a me mexer, não sou nada "Geração Saúde". Odeio academias, fumo e como tudo o que dizem que não se deve comer. Mas acho que a vida deve ser prática, e a bicicleta dobrável sem dúvida torna a vida na cidade bem mais prática. Por isso, é importante dizer que usá-la não é para superpessoas.

A loucura dos outros (contínuo)

(07-02-2016, Domingo de Carnaval)
e o Thiago França dedicou uma música aos moradores de rua do Anhangabaú, e eles festejaram lá mesmo na frente do palco, sem camisas, um ou outro com os sacos pretos meio cheios de latinhas, e as pessoas limpas começaram a dançar em volta, e os da rua dançavam também, um tinha um balde na cabeça e passava uma escova pelo balde imaginário, e outro olhava calado e bêbedo as mulheres limpas que não costumava ver assim porque nos outros dias elas não chegam tão perto, e outro era gordo e tinha um boné caído sobre os olhos e o rapaz limpo abraçava-o e os amigos tiravam fotos rindo, e o homem posava porque nos outros dias ninguém lhe tira fotos, e então o gordo tentou abraçar todas as pessoas limpas para lhe tirarem mais fotos, mas algumas não quiseram e fugiram. Quando o Thiago França acabou o show, toda a gente foi embora, mas não os homens da rua, porque eles ainda pegaram nos sacos pretos e acabaram de enchê-los com as latas que as pessoas limpas tinham deixado no chão do no vale do Anhangabaú.

(03-02-2016)
O farol está verde para os carros. Uma moça estilo compro-artesanato-na-rua-com-o-dinheiro-que-meu-pai-me-dá atravessa a faixa sem ligar muito para o moço estilo leio-a-Veja-toda-semana-e-gosto-de-bebidas-com-energético que subia a rua de carro e já estava bem próximo dela. Ela ainda manda um sorrisinho e acena para o moço, mas ele não trava, ou não consegue travar, e passa encostadinho nela. O sorriso dela cai e, em protesto, bate com força no carro. O motorista avança uns metros, para não arriscar um pontapé, talvez, e grita "vaca!". Ela manda-o tomar no cu. Ambos seguem os seus caminhos,

O aborto

Depois da excelente entrevista de Drauzio Varella sobre o aborto:

Eu não gosto quando alguém aborta. Se isso acontecesse na minha vida privada, eu preferiria trazer a criança ao mundo.

Mas a nossa opinião sobre o aborto não tem a ver com o que queremos para a nossa vida. Tem a ver com o que queremos para a vida dos outros.

Proibir o aborto não para o aborto. Os dados que o artigo da BBC indica ("uma brasileira morre a cada dois dias por conta de procedimentos mal feitos e um milhão de abortos clandestinos seriam feitos no país todos os anos") comprovam isso.

Ou seja, a proibição só entrega a mulher que aborta à clandestinidade e a arriscar a saúde e a vida nas mãos de pessoas que não pode processar se o fizerem mal (porque se arrisca a ser ela própria presa e condenada).

E proibir o aborto não tem nada a ver com a questão "uma mulher deve poder abortar?". Tem a ver com a questão "uma mulher que aborta deve ser presa?". Gostaria que o Brasil entendesse isso, como Portugal entendeu há alguns anos.

Se você acha que não conhece ninguém que tivesse abortado, pergunte a uma amiga, à sua mulher, à sua namorada, e talvez se surpreenda ao descobrir que alguém bem próximo de você o fez. Muito provavelmente, você vai descobrir que a situação que levou essa pessoa a se submeter a uma intervenção clandestina não foi fácil, que ela não o fez feliz e contente, que, na verdade, o fez com muito custo e sacrifício.

E depois pense: essa pessoa merece ser presa? Se você acha que não, não deve ser presa ou punida porque já foi punição suficiente submeter-se a essa provação, então, seja qual for sua opinião sobre o aborto na sua vida privada, você é favorável a uma despenalização. E é isso que está em causa.

4 coisas que não vão mudar em 2016

OS POLÍTICOS NÃO VÃO MUDAR. Há 2 mil anos que a política é a arte de se servir e você acha que isso vai acabar por meia dúzia de mimimis em redes sociais? Isso é como querer que sua casa fique limpa porque você está no sofá se queixando. Se quiser lidar com a sujeira, aprenda a sujar-se antes.
 
O MUNDO NÃO VAI MUDAR. Se acha que acordos resolvem as crises do mundo, vá contar os acordos de paz que já houve entre Israel e Palestina ao longo das décadas. E, se acha que trocar um governo pelo outro vai resolver sua situação, pense que você não é nem pobre o suficiente para inspirar misericórdia nem rico o suficiente para inspirar respeito. Também pense que, até há uns 200 anos atrás, a classe média a que você pertence não existia e você teria muito mais chance de ganhar a vida escavando bosta de vaca. Detalhe: a vaca não seria sua.
 
OS OUTROS NÃO VÃO MUDAR. Pode desejar o que quiser, mas aquele tipo de coisas irritantes e patéticas que você leu no Facebook em 2015 vai continuar a aparecer em 2016. Os idiotas continuarão idiotas e o máximo que a virada vai inspirar neles é uma bebedeira.
 
VOCÊ NÃO VAI MUDAR. Não interessa a filosofia new age de meia tigela que você descobriu, o gif inspirador que viu ou as “iluminações” que teve. Você vai continuar a ser uma criatura imperfeita trilhando um caminho incerto num mundo hostil que continuará a parecer querer expulsar-te dele. Aprenda a apreciar a sua imperfeição e a ligar o foda-se e siga em frente.

35 anos

Morei em dois países, visitei mais dez, estive em dezenas de cidades e em 3 continentes. Habitei dez casas, seis em Portugal, quatro no Brasil. Morei com uma pessoa durante oito anos, estive em repúblicas com mais 30 pessoas e há quatro anos que moro sozinho. Namoradas, tive seis. Só vi um jogo de futebol num estádio - um belo jogo, por sinal. Nunca fui bom com desporto, mas era bom a jogar ao pião. Trabalhei em sete lugares. Fiz um curso na universidade, mas não segui a carreira. Sou pós-graduado, mas não me serviu de nada. Vendi discos numa loja, fiz transcrições de texto, fui jurista, advogado, sou argumentista, sou roteirista, gosto de escrever e sei que isso será algo que vou fazer de uma forma ou de outra até o corpo ou a vida me faltarem. Escrevi eventos corporativos, poesia, programas de televisão, filmes, óperas. Publiquei dois ou três livros. Não tenho dívidas. Sou a pessoa que não gosta de dirigir numa família em que há uma escola de condução. Tive duas bandas, lancei um disco com a segunda. Fui a vários concertos e festivais de música, incluindo Vilar de Mouros em 1982, mas não me lembro deste. Uma vez, fiz uma direta para poder ver um concerto em Coimbra e estar em Monção na manhã seguinte. Fui do jornal universitário, onde escrevi crítica de cinema e uma coluna bastante lida. Também era editor de fotografia, e orgulho-me de ter entusiasmado para a área alguns amigos que hoje vivem dela. Fotografei muito a sério e parei quando percebi que já estava bom. Fui membro de um grupo de poesia e do conselho de redação da respectiva revista. Escrevi um blog durante anos e parei de escrever quando deixou de me interessar. Fiz poetry slam, fui a uma final europeia. Ganhei concursos de escrita. Festivais de cinema, ganhei dois prémios num e fui jurado três vezes (não do que ganhei). Consigo tocar guitarra mais ou menos, e às vezes engano bem o suficiente para parecer que toco melhor. Cumprimentei o Mário Soares e o Jorge Sampaio (fui bem) e o Cavaco Silva (fui mal). Gosto de livros, de filmes e de séries. Conseguiria viver com café com leite e pão com manteiga. Não preciso de muita coisa, quanto menos tralhas melhor. Segurei uma pessoa enquanto ela morria, mas nunca segurei alguém acabado de nascer. Já perdi todos os meus avós e o meu tio. Adoro histórias, verdadeiras ou não, e gosto mais das pessoas que também gostam delas. Não gosto de joguinhos amorosos, mas agrada-me a política e suas jogadas de bastidores. Gosto de lavar louça, mas não de arrumá-la. Passar roupa a ferro aborrece-me e só faço a cama se souber que vem visitas. Sou de esquerda, mas agnóstico. Gosto de documentários sobre História mais do que sobre Natureza. Tive uma Mega Drive e defendia a Sega contra a Nintendo, apesar de ter tido um Game Boy já na universidade. Depois, comprei uma PSP, mas nunca joguei muito nela. Às vezes, queria conseguir mostrar mais que amo as pessoas que amo. Tenho poucos arrependimentos. Está tudo certo.

O dia

Tinha reunião de manhã, acordei com um resfriado surpresa. Lá fora, enquanto comprava cigarros no boteco da esquina, percebi que não tinha o cartão do banco na bolsa. Paguei com dinheiro, voltei para o apartamento. Revirei coisas, não o encontrei. Fiz contas ao dinheiro que tinha, planejei só cancelar o cartão no dia seguinte se não o encontrasse à noite. Saí de novo. Passei pela farmácia, comprei paracetamol e gotas para o nariz. No caminho, uma montanha de pessoas por baixo do Minhocão, perto do Hirota. Expressões entre curiosas e consternadas. Um ônibus do lado, parado no corredor. Acidente? Talvez, se fosse avaria elas caminhariam até ao ponto seguinte para pegar outro ônibus, estava perto. Tentei olhar, mas tinha hora e a multidão era muita, não vi nada. Tive reunião, os olhos resfriados piscando. Fiz contas de novo, com o dinheiro vivo que tinha dava para almoçar e ainda conseguia esticar para o dia seguinte. Almocei. Disseram-me que morreu alguém por baixo do Minhocão, um homem, um ônibus. Pensei que passei pelo ônibus, pelas pessoas, pelo corpo que não consegui ver. O resfriado, os olhos piscando, o mau humor de sempre. Resfriado é a minha TPM. Voltei para casa ao fim da tarde, mais cedo do que o normal. No Minhocão já não havia pessoas, não havia corpo, a vida imparável doía. Um casal saiu da loja chinesa com a filha pequena, ela trazia um brinquedo brilhante na mão. Entrei em casa, o meu cartão estava caído ao lado do sofá. Os olhos piscando, lembrando: estás resfriado, estás vivo, estás resfriado, estás vivo, estás resfriado, estás vivo.

18 conclusões sobre Paris

1. Há quem insista em lembrar que mortes em Paris não valem mais do que mortes no Brasil. Quem insiste tem razão.

2. Há quem lembre que as mortes que todos os dias acontecem no Médio Oriente não valem menos do que as de Paris. Essas pessoas também têm razão.

3. A segunda parte desse raciocínio é que as mortes de Paris também não valem menos do que as do Brasil ou as da Síria.

4. Este atentado foi uma intervenção planeada e executada por uma organização político-militar que controla uma área maior que a Grã-Bretanha com um exército de milhares de soldados.

5. As mortes de civis na Síria são crimes de guerra. Este atentado não, pois não se lhe aplica a Convenção de Genebra.

6. Este atentado foi uma peça de teatro de terror, que começou com explosões durante um jogo que estava a ser visto por todo o mundo e terminou com o Estado Islâmico a gabar-se do seu ataque à "festa da perversidade" que era um show de rock e pessoas saírem à noite.

7. Estes psicopatas são bullys e nada mais do que isso. A civilização que estes proclamam defender é só eles mesmos e a sua leitura distorcida dos preceitos do Corão.

8. Quem do outro lado insistir que esta é uma guerra civilizacional só está a defender a si mesmo e à sua xenofobia. Esta é uma guerra contra um bando de bullys.

9. As 2as gerações de imigrantes sempre sentiram que não pertenciam a lugar nenhum e os países europeus não souberam lidar com isso. Os atentados são uma ampliação monstruosa dos carros quebrados no centro de Paris que se vêem há uns 20 anos.

10. Quem achar que em Portugal está tudo bem porque somos ótimos a integrar imigrantes deveria pensar na Cova da Moura ou do que aconteceu na Quinta da Fonte em 2008.

11. O passaporte sírio de um dos terroristas é provavelmente um truque do Estado Islâmico para acirrar os ânimos contra os refugiados e aumentar o seu poder de recrutamento no seio destes.

12. A guerra na Síria é um quebra-cabeças diplomático que o eixo EUA-Europa deixou andar até as consequências lhes baterem à porta.

13. Os refugiados que entram na Europa estão a fugir das mesmas pessoas que fizeram isto em Paris.

14. Acolher os refugiados é importante e a única solução humana possível.

15. Acolher os refugiados é tratar um sintoma, não curar a doença. A doença é a guerra na Síria.

16. A causa da doença é a manipulação eterna das políticas no Médio Oriente segundo os interesses do eixo EUA-Europa.

17. Eu tenho parentes e amigos em Paris. Temi por eles. E eu não gosto de temer que parentes e amigos sofram as consequências de um atentado terrorista.

18. A 2a Guerra Mundial também foi feita contra bullys. Os Aliados ganharam-na com maior força bélica, com melhor estratégia, com melhor diplomacia e com melhor espionagem. E essa, parece-me, é a forma de ganhar esta guerra.

Por mim, a TAP pode ir à vontade

Aqui vai a minha primeira queixa do Governo de esquerda em Portugal: eu não faria o mínimo esforço para impedir a privatização da TAP. Não conheço mais nenhuma companhia aérea estatal, não vejo a necessidade de uma companhia aérea ser estatal e não entendo porque a TAP tem que ser estatal. A ligação ao setor público não implica que os preços dos bilhetes sejam menores, não implica que o serviço seja melhor ou pior do que o de outras companhias e só serve para carregar o Estado com os prejuízos de um setor muito volátil às flutuações do mercado e que nem de longe se pode considerar transporte público. O que nunca deveria ter sido privatizado era a EDP, os serviços de saúde, as estradas. Agora, a TAP? Porquê?

Porque eu sou por um governo de esquerda

O meu avô ensinou-me a não confiar em políticos e, ao longo da minha vida, os políticos não fizeram grande coisa para me fazer mudar de ideias. Quero dizer, não à partida. Há três coisas de que gosto num político: ter princípios, não ter medo e saber-se mexer. Se me convencem disso, ótimo, e há muito tempo que não me convencem. Apesar disso, eu vejo com bons olhos a possibilidade deste governo de esquerda. Confio que governar acompanhado vai frear aquele impulsozinho chato do PS no poder de distribuir alegremente cargos e dinheiros aos amigos próximos. Quanto ao medo dos comunistas, só posso dizer que por uma vez sinto-me feliz por ter nascido depois do PREC e não ter esses fantasmas a pesarem-me nos ombros. Não acho que o PCP tenha maior capacidade de me decepcionar do que outro partido qualquer. De qualquer forma, nunca achei que comunistas fossem gente sem palavra - nem vi ninguém dizê-lo -, portanto, o respeito à Europa, até prova em contrário, está seguro, certo? Quanto ao resto, há uma frase de Camus que copio sem reservas: "sou de esquerda, apesar de mim e apesar da esquerda". Por favor, então, senhor Cavaco, com quem tenho uma bela história em comum, dê-me a satisfação imeeeeeensa de vê-lo acabar a sua presidência e a sua carreira política a mandatar um Governo de coligação de esquerda, ok?