MEDIANO a concurso no Festival Silêncio


Depois de ter sido exibido na sexta-feira no Filmagens, no Festival Silêncio, MEDIANO, a curta-metragem que gravei com o meu grande amigo Victor Lemos, está a concurso para o Prémio de Público. Para votar, é só clicar na imagem acima (ou aqui) e fazer "Like" ali do ladinho direito.

O Festival Silêncio é um evento pelo qual tenho muito carinho. Foi lá a primeira vez que fiz slam e que conheci o resto dos Social Smokers. Foi ele que me permitiu ir ao European Poetry Slam em 2009, a Berlim, e chegar à final para dizer o meu poema à frente de 500 pessoas. É uma honra ter um filme lá. E é uma honra estar a pedir-vos para o verem.

Retrato do artista enquanto Zapeão


Foto de Tide Gugliano
Fazer crescer uma cena nunca é tarefa fácil, ainda para mais se estivermos a falar de algo que, pura e simplesmente, não existe. Apesar do tamanho e do cosmopolitismo de São Paulo, o slam só começou a ser organizado enquanto tal (poesia + performance + competição) há cerca de três anos, quando a Roberta Estrela D'Alva organizou os seus comparsas do Núcleo Bartolomeu de Depoimentos, ali pertinho da Pompéia. Como o mundo é um penico, a Roberta é amiga desde a infância do Newton Cannito, um dos maiores responsáveis pela minha vinda para o Brasil, e, interessada pela proposta dos Social Smokers, aproveitou os conhecimentos comuns para meio que se auto-convocar para nos acompanhar quando a banda esteve no Brasil em Novembro do ano passado. Foi então que conheci o Núcleo e o ZAP!, a noite de slam mensal que eles organizam. Já lá tinha ido uma vez, mas só como jurado - fiquei na mesma mesa de um gaúcho e, curiosamente, éramos sempre os dois a dar as notas mais baixas, o que nos fez temer pela nossa integridade física face ao pessoal da Zona Leste. Ainda bem que poesia é amizade. Mas aconteceu que, na última quinta feira, deu-me uma vontade de fim de tarde de ir à competição e, contra todas as minhas expetativas, a noite acabou comigo a ser o Zapeão, ao mesmo tempo que a Roberta Estrela D'Alva sacava o terceiro lugar na Copa do Mundo do Slam em Paris. Ganhar é sempre bom, mas os minutos em que ouvi a poeta e atriz Ana Roxo fazer este poema foram o momento de slam ou recitais ou saraus ou leituras públicas ou seja lá o que for que mais me emocionaram na vida. Por isso, deixo-o aqui, desejando uma vida longa ao ZAP!
Comecei a escrever aquele texto triste

talvez não seja triste ou não tão triste
quanto deveria ser um texto sobre eu e você
talvez só seja assim, melancólico
com medo do sofrimento
que viria, e veio devagar
começa assim de repente
meio no meio de uma tarde chuvosa e com enchente
depois tem um espaço onde cabe o silêncio
e por onde podem escorrer umas lágrimas
não tem fluxo o texto
começa de supetão
e para um tempão num vácuo
depois fica bonito a beça
eu falo de cores que eu conheço e queria te contar
conto de coisas que vi e vivi
e te faço convites incríveis
descrições inimagináveis de lugares em que estive sozinha
falo de montanhas que são ondas, deuses hindus, mitologias inventadas
animais fantasiosos, deuses pagãos, sagas heróicas,
dançarinas de vários braços, de um homem com três bocas cantantes
do dia em que o capeta me paquerou
e de como os deuses as vezes descem a terra e brincam com a gente
conto quase tudo de impensável
e nessa parte eu te impressiono.
Depois vai ficando mais cafona,
porque meu repertório não é tão bom assim.
Mais pra frente fica triste e bonito de novo.
Eu vou dizendo que te amo de vários jeitos
primeiro clichês e mais pra frente novos,
que nem aquele dia
que eu disse eu te amo só com o olho,
no meio de uma frase e você não esperava
(porque eu passei grande parte da nossa história
inventando jeitos diferente de dizer eu te amo
então nada mais justo do que colocar isso naquele texto)
Coloco um mar no meio, pra deixar mais água
e nessa hora fica feio, um pouco infantil
eu me fragilizo muito e digo
que foi tudo culpa minha
como se a culpa existisse mesmo e eu acreditasse nisso
mas é só pra você se impressionar de novo
e ficar mais um pouco do meu lado.
Mas nem assim adianta
você parte mesmo assim
e talvez até por causa disso
(no final dos meus textos você sempre vai embora)
mas aí no texto eu minto
dizendo te dei um mais beijo
e disse tchau com muita dignidade
(e não chorei nem fiquei aflita
nem me joguei no chão
e quis tomar formicida)
ou talvez eu coloque uma piada
não sei, eu ainda não terminei o texto.
Mas acho que no fim
eu saio com uma desculpa esfarrapada
dizendo por exemplo
que eu ainda não terminei.

Canções do exílio: "São Paulo 451"

httpv://www.youtube.com/watch?v=Dj9bhGxlyIg
Belle Chase Hotel foi das bandas que mais acompanhei. Estive em 1998 em Paredes de Coura, quando eles foram o primeiro grupo não editado a tocar no palco principal. Fossanova foi a minha banda sonora para os tempos iniciais de Coimbra, numa altura em que a cena musical lá se dividida entre a pop de cabaret deles e o rockabilly dos Tédio Boys. O segundo álbum, La Toilette des Étoiles, sumarizava na perfeição o espírito que se sentia por aqueles tempos. E, curiosamente, quando em Março deste ano andei por Portugal a atuar com os Social Smokers, o próprio Jp Simões (vocalista da banda, entretanto desfeita) veio-nos acompanhar nalguns concertos. Por isso, companhia por companhia, eles estiveram sempre lá. Cantei São Paulo 451 várias vezes por aqui, principalmente em coro com amigos portugueses, para provar aos brasileiros que há canções portuguesas em PT-BR. Pelo menos uma, vá. E, não, o Roberto Leal não conta.

Canção: São Paulo 451
Intérprete: Belle Chase Hotel
Álbum: La Toilette des Étoiles

Letra:
Naquela praça suja com merda de pombo,
patrulhada pelo sexo,
ele chega às quatro
polindo o sapato
p'ra vender o seu amplexo

E os homens passam,
notam seu bigode,
mas na coxa se extravasam.
Veio sua amiga,
a loira José,
convidando para o café.

E ao segundo brande,
já José se expande,
esboroando seu baton:
"Amanhã não estaremos aqui,
veja se bebe um pouco e sorri
tira esses olhos do chão!
O futuro é lindo: eu já vi!
E o avião vai directo para lá!
Vamos embora dessa aflição!".

E Manuel morena
tomou os seus calmantes
por causa dos joanetes.
E disse cansado que estava assustado
pois nunca tinha voado:
"E se há um acidente?
E se o passaporte?
Será que não sentes o medo da morte?
Me dá um cigarro!
Me dói a cabeça!
P'ra quê tanta pressa?
E a depilação?".

"Amanhã não estaremos aqui
veja se bebe um pouco e sorri
tira esses olhos do chão!
O futuro é lindo: eu já vi!
E o avião vai directo para lá!
Vamos embora dessa aflição!".

No dia seguinte
num canto da praça
quem passou podia ver
duas prostitutas tão deselegantes
acenando p'ra você.

O primeiro ato da ópera Deu-la-Deu: vídeo

httpv://www.youtube.com/watch?v=Eqy1yE1O1n8&feature=share
A qualidade de som e imagem não é a melhor, mas a Valença TV gravou a ópera Deu-la-Deu na íntegra. É uma ideia bem aproximada do que foi o espectáculo que aconteceu no sábado nas muralhas de Monção e que será interpretado na íntegra a 12 de Agosto.

Canções do exílio: "Meu Mundo Caiu"

http://www.youtube.com/watch?v=f_2MtwlnLg0
Maysa Matarazzo, ou simplesmente Maysa, casou-se aos 17 anos com um homem de 34 duma família bem numerosa - numerosa, entenda-se, de uns bons biliões de dólares. Felizmente, ela teve o bom senso de se separar 4 anos depois, porque ele não aprovava a sua carreira artística. Acabaria por se tornar uma das cantoras mais carismáticas e uma das mulheres mais desejadas do Brasil, o que talvez fosse fruto de um truque que ela fazia em palco chamado "cara de quem quer dar". Pelo menos, foi o que li numa entrevista recente a uma cantora a quem ela ensinou a habilidade. Desse ou não desse, quando interpretava Meu Mundo Caiu Maysa tinha uma violência e uma arrogância fora do comum, o que talvez tenha a ver com o facto de ela ter lançado esta canção imediatamente a seguir à sua separação. Há dignidade na sua interpretação, a de alguém que não se deixa rebaixar. É esse confronto - ao contrário da submissão que, por exemplo, a sua equivalente portuguesa Simone de Oliveira tem em Sol de Inverno - que a torna única.

Canção: Meu Mundo Caiu
Autor e intérprete: Maysa

Letra:
Meu mundo caiu
E me fez ficar assim
Você conseguiu
E agora diz que tem pena de mim

Não sei se me explico bem
Eu nada pedi
Nem a você nem a ninguém
Não fui eu que caí

Sei que você me entendeu
Sei também que não vai se importar
Se meu mundo caiu
Eu que aprenda a levantar

O primeiro ato da ópera que eu escrevi estreia amanhã


Uma ópera popular, invocando Deu-La-Deu Martins, heroína de Monção, vai ser apresentada no sábado nas muralhas da vila, contando com a inédita participação de 200 pessoas, inclusive grupos de bombos e gaitas de foles.
Escrevi Deu-la-Deu a pedido da Câmara Municipal de Monção, a minha terra natal. O curioso disto de se mudar de terra é que, ao mesmo tempo, eu já deixei a terra e, ao mesmo tempo, eu nunca a deixarei. Ou seja, já não sou monçanense, mas, ao mesmo tempo, monçanense é aquilo que eu nunca deixarei de ser. Por isso, quando me foi proposto que revisse o mito fundador da minha vila para a comemoração dos 750 anos do foral com que D. Afonso III a reconheceu como município, eu não podia deixar de refletir isso. Como poderia repetir uma história que ouvi vezes sem conta, sobre a qual já seria difícil ter algum poder de objetividade, e, ao mesmo tempo, torná-la interessante para quem também já a ouviu vezes sem conta? Fiz análise histórica, vi tratados de genealogia espanhóis e portugueses, almanaques com centenas de anos - e, depois, quando já tinha bem separada a História da lenda, ficcionei a minha ficção por cima para a fazer universal. A proposta de encenação das Comédias do Minho, integrando os grupos corais e de bombos locais, faz ainda mais sentido, faz todos os sentidos. Agora, ela já não é monçanense, mas, ao mesmo tempo, monçanense é aquilo que ela nunca deixará de ser.

O primeiro ato da ópera Deu-la-Deu será interpretado amanhã, sábado, em Monção. Vão vê-la, pois eu não posso.

As declarações de Passos Coelho à Rádio Renascença


Passos Coelho quer reavaliar lei do aborto e admite novo referendo
Afinal, ele pode ser liberal na economia, mas é conservador nos costumes. Também tenho uma ideia. E se mudássemos o Código de Trabalho para que, sempre que se despede um trabalhador contratado até 10 semanas antes, se vá para a cadeia? Não era fixe? Bora lá? E depois cantamos ópera juntos enquanto folheamos a Caras. Vai ser tão bom. Ou isto é só para roubar votos ao CDS e, a bem dizer, ele está-se a cagar para o que diz ou para como a lei fica desde que seja primeiro ministro? Isso é que não. Se é para ser retrógado, vamos sê-lo a sério. Pensando bem, direito de voto às mulheres para quê? A dele, já se viu num vídeo, até nem diz grande coisa. Vamos lá acabar com isso tudo. A sério, Passinhos, não desistas. Daqui a 4 anos, se tudo correr bem, podemos viver o sonho que outra pessoa sonhou por nós. Força, muita força.

Canções do exílio: "Mr. P. Mosh"

http://www.youtube.com/watch?v=hDYsPPtnNFs
Porque a minha mãe se queixou que ando a pôr músicas muito tristes, decidi pôr esta canção hoje. Assim, ela fica a saber que eu não sou triste. Poderei ser um porco, mas triste não. Descansa, mãe.

Conheci os Plastilina Mosh depois de uma sessão de "mostra canções do teu país" com um amigo mexicano com quem morei. Comparados com a Mariza, acho que eles ficam a ganhar, até porque a cor de cabelo deles é bem mais fixe. O mexicano, a quem toda a gente chamava Pancho, conhecia Buraka Som Sistema. Uma vez, partilhei com ele um jantar que tinha feito e que, por azar, me saíra muito salgado. Eu estava triste, mas, depois de ele ter comido, disse "salado pero bueno!". Eu pensei "valeu, Pancho" e fiquei mais contente, sem que para isso importasse que ele estivesse mais defumado do que um salmão.

Este é o segundo vídeo para esta música, composto por um outtake do primeiro. O que esta gente se ri aqui fá-lo merecer a primazia do olhar. Não consegui identificar o sexo da criatura que dança entre os Plastilinas, nem quero. De algumas coisas é melhor não falar.

Canção: Mr. P. Mosh
Autores/Intérpretes: Plastilina Mosh

Letra:
Anda pachuco king señorita linda
mi coche echa lumbre, mi corazon cosas bonitas
soy el hombre de la noche soy la sombra de la vida
mi sangre es la comida que te hace estar dormida.
pero no me hagas caritas solo busco otra salida.
bailando y cantando es tu castigo por ser viva
soy el verdugo de tus sueños
no soy malo soy veneno
no me mires a los ojos
porque puede que no encuentres nada mas que tu reflejo
Yo soy tu infierno

En el lenguaje del amor yo era el verbo en carne viva
yo era el dueño de estos bailes pero todo termino por:
Mr. p m.o.s.h

Soy la luz de este momento
no respiro soy de fierro
no me busques yo te encuentro
no me toques o te quemo
ya no quiero ser asi yo quiero estar junto a ti
pero asi es mi destino soy el rey de este camino
solo veanme pasar no me imiten es mortal
no me busquen o si no su calavera va a llegar

Lo queremos conocer es mi amor es mi querer
cada que vamos a fiestas de lejos se puede ver
es mr. p m.o.s.h

Ahora si todos conmigo vamos a bailar
Ráaascale mi jason
mr. p. m.o.s.h.
Mr. lópez
mr. t
mr p. mosh

Canções do exílio: "Bom Dia, Tristeza"

[youtube https://www.youtube.com/watch?v=AU02ib4ur5U&w=425&h=349]
Uma das melhores canções para se ouvir em momentos de solidão. Se é isto que acontece quando um carioca e um paulista se juntam, talvez isso deve-se acontecer mais vezes (mesmo que, segundo Vinicius, o samba viesse a São Paulo para morrer, mas pronto).

Canção: Bom dia, tristeza
Autores: Vinicius de Moraes e Adoniran Barbosa
Intérprete: Roberto Ribeiro
Letra:
Bom dia, tristeza
Que tarde, tristeza
Você veio hoje me ver
Já estava ficando
Até meio triste
De estar tanto tempo
Longe de você

Se chegue, tristeza
Se sente comigo
Aqui, nesta mesa de bar
Beba do meu copo
Me dê o seu ombro
Que é para eu chorar
Chorar de tristeza
Tristeza de amar

The Burning List com a pessoa que aqui escreve

O programa The Burning List, da Rádio Universitária do Minho, contou há umas semanas com a minha participação e seleção de músicas. Espero que gostem.
[audio:http://podcast.rum.pt/uploads/The_Burning_List/2011-05-14 - JORGE VAZ NANDE.mp3]