Canções do exílio: "Vampiro Doidão"

http://www.youtube.com/watch?v=eepgPWVxeL4
Quando comecei a frequentar as festas da república onde fui morar quando cheguei a São Paulo - que tem o descritivo nome "Um Dia A Casa Cai" - e me passavam o violão, punha-me normalmente a tocar blues. Isso porque gosto, mas também porque o blues toca-se com 3 acordes que dão para tudo. E havia sempre alguém que chegava e, no embalo, tocava o "Vampiro Doidão". Raul Seixas, que eu só conhecia de saber que o Paulo Coelho tinha escrito letras para ele, é uma das lendas mortas do rock brasileiro, a tal ponto que gritar "toca Raul!" a alguém que está a atuar é um dos pilares da interação público/performer do país (uma espécie de "ò Elsa!" dita diretamente ao rabequeiro). E uma letra que dá a maconha como explicação para tudo na vida nunca deixará de espantar o sucesso.

Canção: Vampiro Doidão
Autores (pelo que consegui apurar): Os Impossíveis
Intérprete: Raul Seixas

Letra:
Puta que pariu, meu gato pois um ovo,
Mas gato não põe ovo, puta que pariu de novo.

Eu sou o vampiro doidão,eu sou o vampiro doidão
Passo o dia dormindo e a noite eu fumo um baseadão

Se droga fosse álcool eu morria de cirrose
Se álcool fosse droga eu morria de overdose

Sou vampiro doidão, sou o vampiro doidão
Eu to muito louco, etá baseado do bom!

Estava no escurinho, comemdo a empregada
alguém abriu a porta e eu comi a bunda errada

Eu sou o vampiro doidão, eu sou o vampiro doidão
Só faço sexo dentro do caixão

Gosto das moças virgens e das moças honrradas
Mas o que eu gosto mesmo é me infesta com a putalhada

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Só chupo sangue de menstruação.

Quando eu nasci, no bico da cegonha,
Na minha mamadeira foi dois quilos de maconha.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Eu fumo todas, e não abro mão.

Não sei como é que eu posso, não sei como é que eu pude,
Comer caco de vidro e cagar bola de gude.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Eu quero morrer todo peladão.

Marcelo é meu amigo, Marcelo é meu colega,
Eu vou fazer com ele o que o cavalo fez com a égua.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Passo o dia dormindo e a noite eu fumo um baseadão.

Eu vi papai Noel, montado num urubu,
Tomando Coca-cola e arrotando pelo cu.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Eu to muito louco, eita baseado do bão.

Humberto era careta, um cara retardado,
Fumou bosta de vaca e ficou muito pirado.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Só faço sexo dentro do caixão.

Eu fui ao cemitério e sentei na catacumba,
A puta da caveira beliscou a minha bunda.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Só chupo sangue de mestruação.

Pulei de pára-quedas, o pára-quedas não abriu,
Mandei o fabricante para puta que pariu.

Eu sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Eu fumo todas e não abro mão.

Quando eu morrer não joguem flores no caixão,
Podem jogar maconha que é pra eu subir doidão.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Eu quero morrer todo peladão.

Larica não tem hora, também não tem lugar,
Larica ta me dando mais vontade de fumar.

Sou vampiro doidão, eu sou vampiro doidão,
Passo o dia dormindo e de noite eu fumo um baseadão.

Canções do exílio: "Melodia Sentimental"

Hoje, dia 22 de Maio, faz um ano que pus o pé no Brasil. Efemérides devem comemorar-se e, na falta de fundos públicos para construir uma representação fálica de mim mesmo, durante um mês vou pôr aqui algumas das músicas que mais me encheram os ouvidos durante estes tempos.

Esta versão da Melodia Sentimental é - sem exageros - uma das canções mais belas que ouvi. A vulnerabilidade que o quarteto de músicos lhe dá, reduzindo-lhe o corpo com que ela fica com a orquestra na sua versão original de ópera, intensifica a noite que nela há, o escuro do mundo, a lua prateada lá em cima, um homem sozinho cá em baixo esmagado pela beleza de tudo. É perfeitamente possível ver onde estamos. Já o canto do Ney Matogrosso, claro, mas dolente e despojado, acentua aquilo que uma interpretação mais orelhuda esconde: um tema atravessado pela solidão.

http://www.youtube.com/watch?v=AQPddEHfLHs
Canção: Melodia Sentimental
Disco: A Floresta do Amazonas de Villa-Lobos (Assis Brasil)
Músicos: João Carlos Assis Brasil, piano; Ney Matogrosso, voz; Wagner Tiso, piano e sintetizadores; Jaques Morelenbaum, violoncelo; Jurim Moreira, percussão.

Letra:
Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar

As asas da noite que surgem
E correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar

Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor

Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar

Impressões da Vila Madalena



Imagem gentilmente roubada daqui.

Até ontem, estive a morar na Vila Madalena, graças àquilo que se pode chamar uma coincidência feliz. A amiga de uma amiga decidiu viajar pela Europa e precisava de alguém para ficar na casa dela. Como ela partiu precisamente no dia anterior ao da minha re-chegada a São Paulo, eu acabei por ser o corpo presente que substituiu o corpo ausente dela.

A minha mãe não gostou quando lhe disse que ia morar na Vila Madalena. Talvez eu não lhe devesse ter dito, quando ela ouviu esse bairro ser mencionado numa novela, que era uma zona de bares e vida noturna. Como eu nunca tinha saído de casa à noite - nunca, em momento algum da minha vida - ela tinha razão em preocupar-se. Curiosamente, a minha passagem pela Vila prova a bela e contraditória natureza humana: durante o meu mês lá, não saí para os bares que povoam a região uma única vez, a não ser para comer alguma coisa e beber uma cervejinha na Mercearia São Pedro, que é o único boteco no mundo onde é possível comer-se um bauru ao mesmo tempo que se ouve Leonard Cohen. Ou seja, é o único boteco do mundo onde ao mesmo tempo apetece encher o estômago e cortar os pulsos.

Morei na parte alta da Vila, muito próxima da Heitor Penteado. O meu prédio estava rodeado de parquezinhos pequenos e muito verdinhos e casinhas com piscinas e pessoas que faziam as suas corridinhas ao fim da tarde ou no fim de semana com os cãezinhos ao lado levados pelas trelas e que faziam os seus cocozinhos na rua e algumas pegavam os cocozinhos que os cãezinhos cagavam com uns saquinhos e essas pessoas era boas pessoas, mas as outras que não pegavam não eram. Também não foi boa pessoa o motorista de ônibus que uma noite, depois do trabalho, não parou apesar de eu lhe ter acenado, obrigando-me a esperar uns 40 minutos pelo ônibus seguinte e tirando-me a vontade que levava de cozinhar. Graças a ele, experimentei pela primeira vez a sensação do criador romântico/pós-industrial de aquecer uma sopa de tomate Campbell's e comê-la. Considero que a lasanha de peito de peru da Sadia devia ter merecido mais a atenção dos artistas pop.

Tive uma colega de casa, que quase nunca estava lá, o que era espectacular, porque assim podia fazer coisas loucas como ver o Comédia MTV nas alturas e comer sopa de tomate da Campbell's sem que alguém saudável me viesse meter juízo na cabeça e dizer "olha lá que isso vai-te fazer doer a barriga". A sopa, não a Comédia. A Comédia é o melhor programa de humor do Brasil em ex-aequo com as entrevistas da Funérea e, quanto muito, vê-la nas alturas só me faria dor de ouvidos. Mas, voltando, a minha colega era muito boa pessoa e ensinou-me, entre outras coisas, qual a configuração ideal de um pano de prato. Agradecer-lhe-ei para todo o sempre, se bem que continue a não entender muito bem porque é que um trapo limpo não poderia servir para uma emergência.

Enfim, tudo o que é bom tem o seu fim. Tal como a Grécia, a amiga da amiga vai sair da Europa amanhã e reclamar a propriedade do imóvel. No entanto, fica aqui a devida vénia: acho que nunca estive num banheiro tão requintado numa casa particular, nem no Brasil nem em lugar nenhum. Com azulejos vermelhos, uma bancada larga e claridade abundante, foi um regalo tomar banho e fazer tudo o resto lá. Ele era tão bom que toda a gente o devia apreciar. Por isso é que não me importava nada quando os vizinhos se punham à janela a olhar para mim todo pelado. Como se diz na minha terra, o que é bom é para mostrar - e aquele banheiro era realmente ótimo.

Fala de Alberto João Jardim a uma nação chorosa


Não quero saber nem do FMI nem da troika nem de nenhum desses senhores que nos vêm dizer o que temos de fazer. Ninguém me diz o que fazer. Governo esta terra há décadas, sou eleito pelo povo. Quem vai dizer que o povo não tem razão? Ele nunca se engana. Se eu decido pelo povo e ele me reelege em democracia, e se a democracia é o regime em que o povo mais manda, então as minhas decisões são democraticamente corretas e nem eu nem ninguém tem o direito de as censurar. O FMI é que é ditador, porque vem mandar em nós sem ser eleito. Alguém elegeu esta gente? Não. Então porque devemos aceitar que mandem em nós? Se eu quero desviar sete milhões de uma empresa falida para outra para construir um campo de golfe, com que autoridade me vêm dizer que não o posso fazer? Onde é que estavam eles quando a minha ilha foi inundada e tivemos de reconstruir tudo, tudo? O campo vai trazer turistas, que vão trazer dinheiro. Vou construí-lo e trazer fortuna para todos os meus eleitores. Eu próprio cavo os 18 buracos, se for preciso! E na inauguração, quando todos estiverem a olhar para mim, se me apetecer baixar as calças e me cagar no FMI e na troika e no Governo central, me cagarei. Porque, se o povo me reelege continuamente, é porque todas as minhas decisões são democraticamente corretas - e essa também será.

Adiantando-me às teorias de conspiração sobre a morte sem cadáver de Osama Bin Laden


Bin Laden não morreu. Ele foi recolhido pelos Marines e levado para uma instalação americana de alta segurança, onde ficará oculto e anónimo até ao final dos seus dias. Foi a conclusão duma operação secreta que se alargou durante mais de 30 anos, desde que Bin Laden iniciou a sua relação com a CIA durante a guerra soviético-afegã. Enquanto ela apoiava os Mujahedin e os munia de armas e fundos, Bin Laden ia planeando uma trajetória que fundamentaria a política externa americana durante décadas, numa relação cúmplice em que ele se assumiu como um inimigo e a face do Mal, mas que, no fundo, serviu apenas para permitir que o setor do armamento e da guerra crescesse, com injeções de capital recorrentes pelo Governo americano. Após a queda da URSS (que ele, na guerra afegã, ajudou a precipitar), era necessário fabricar uma cenoura que fizesse o burro América andar - e ele foi essa cenoura. Apesar de Clinton não apoiar muito a ideia, a Administração Bush encontrou nela a desculpa perfeita para fazer crescer a sua base de apoio e conseguir garantir um segundo mandato depois de uma assustadora primeira votação em que foi preciso o irmão Jeb Bush dar um empurrãozinho na Florida para que o voto colegial valesse sobre o popular. Foi a própria Administração Bush que fez cair as Torres Gémeas através de um sistema de implosão (que elas tinham já desde a construção, pois esperava-se que no futuro fosse necessária uma ação deste tipo) e, aproveitando-se do milionário saudita como bode expiatório, orientou toda a sua política externa e interna para uma fase restritiva e securitária, que distraiu os ânimos da liberalização económica e permitiu que a bolha do imobiliário crescesse sem que ninguém percebesse, porque estava tudo muito preocupado com a guerra do Iraque, que, ainda assim, valeu pela deposição do ditador anti-xiita Saddam Hussein. Porém, as recentes revoluções democráticas no Médio Oriente e a crise nas finanças públicas americanas fizeram com que Bin Laden estivesse a sair demasiado caro a Obama, que decidiu que ele deveria sair lá da mansão pseudo-secreta e vir para os Estados Unidos, onde lhe serão oferecidos como compensação um cesto de fruta por dia e a Whitney Houston.

É curioso como...

...o primeiro de Maio teve a primeira justificação nos Estados Unidos (na Revolta de Haymarket, em que a polícia disparou sobre uma manifestação pacífica de trabalhadores na Chicago de 1886), mas os Estados Unidos não fazem feriado nesse dia, preferindo celebrar o Labor Day na primeira segunda-feira de Setembro porque o presidente Grover Celeveland não queria reavivar sentimentos negativos ligados ao fato.

Também é curioso como, ontem, depois da Cidade aTravessa na Casa das Rosas, fui beber cervejas com os amigos cariocas que fiz mais os amigos portugueses que já tinha e, entre uma história e outra, os portugueses lá cantámos os "parabéns a você" português (com mais uma quadra do que o brasileiro) e eu fiz questão, como faço sempre - porque, no fundo, no fundo, serei sempre um socialista utópico - de cantar o "parabéns" com a música da Internacional Socialista, que é aquilo que as boas maneiras mandam que se faça a amigos de esquerda. Sempre me surpreendi com o fato de as pessoas não conhecerem bem esta variante, por isso gravei um vídeo onde exemplifico.
http://www.youtube.com/watch?v=sGLrxcN6dYY
Sempre maravilhado pelo modo como esta música encaixa tão bem na letra, lembrei-me de algo que nunca tinha pensado: será que cantar a letra da Internacional Socialista com a música dos "parabéns" também resulta? Experimentei: resultou.
http://www.youtube.com/watch?v=0hmHtNyrvwo
Bom primeiro de Maio, camaradas, e parabéns.

Acidentes

heitor penteado, ao lado do martelinho de ouro: um anão acende um cigarro.
Poderia ser um poema surrealista ou as palavras de um louco. Mas foi isso que eu vi: na avenida Heitor Penteado, junto a uma oficina chamada Martelinho de Ouro, um anão acendia um cigarro enquanto franqueava o portão de uma casa. Isto me importa porquê? Uma das citações que tenho no meu perfil do Facebook é de uma carta que W.H.Auden escreveu a Frank O'Hara, onde ele o aconselha e ao John Ashberry para terem "atenção àquele que é sempre o grande perigo de qualquer estilo 'surrealista', nomeadamente o de se confundir autênticas relações não-lógicas, que causam espanto, com as acidentais, que causam uma mera surpresa e, no final, cansaço". Mas os acasos como o do anão lembram sempre que o surrealismo é diminutivo de super-realismo - a realidade vista de tão perto que a perspetiva se perde e ficamos apenas com isso mesmo: a realidade em macro, sem foco, bruta e absurda. As cabeças com flores no casamento do rei. O elástico que abraça um lápis. A madeira na perna de Roberto Carlos. Tudo no mundo pode ser revelação de deus ou do diabo. Estas palavras também.

eMorte

Lendo "O Museu Darbot e Outros Mistérios", de Victor Giudice, deparo-me com a frase ‎"Ninguém resolve a vida ou a morte numa quinta-feira". Pelos vistos, a frase também se aplica ao facebook, já que, alguns minutos depois, ele perguntou-me se quero ser amigo do Carlos Pinto Coelho. Afinal, temos 66 amigos em comum e o facebook trata disso mesmo: amigos. Vida e morte não passam por lá.

A última frase que Fernando Pessoa escrevinhou antes de a cirrose o vencer foi "I know not what tomorrow will bring", o que acabou por ser uma das suas citações mais frequentes depois do "primeiro estranha-se e depois entranha-se" com que ele introduziu a Coca Cola em Portugal durante o seu breve período enquanto copywriter. Aliás, se me recordo bem do "Fazer Pela Vida" de Mega Ferreira, esse período terminou devido a esse próprio slogan, que levou a que Ricardo Jorge, diretor de saúde de Lisboa, desconfiasse das propriedades narcóticas da nova bebida e mandasse atirar ao mar todo o stock que tinha chegado a Portugal, proibindo a sua comercialização. Como nenhuma agência quer trabalhar com um copywriter que faz com que o produto anunciado acabe com os peixes (a menos que se trate de coisas para aquários, mas não foi o caso), Pessoa nunca mais conseguiu trabalhar com publicidade. Mas, regressando: Pessoa era um poeta, conhecido, respeitado por um grupo de amigos fiéis, e escreveu uma última frase num papel, que alguém guardou, porque, enquanto poeta, a sua aproximação da morte expressa em palavras era considerada de valor para toda a gente. Mas todos nós temos blogs, facebooks, twitters. Todos hoje podemos ter o nosso "I know not what tomorrow will bring". Aliás, pode até haver plágios de citações post-mortem, o que poderá levar à criação de um tribunal de direitos inteletuais no Além. Basta que, em vez de pedir um papel e um lápis, peçamos um laptop.

Depois de os nossos corpos se extinguirem, o que acontecerá a esses espelhamentos da personalidade que ao longo de anos fomos distribuindo por aí? E-mails, sites, fotografias, coisas de que já nem me lembro, ocultas por pseudónimos atrás de pseudónimos, de passwords e perguntas secretas. Um cadáver, material, duro, pode ser devorado por bichos e destruir-se organicamente a si mesmo. Mas este mesmo texto que estás a ler, leitor, só desaparecerá se alguém souber o meu nick e a minha password e o destruir. Ou, pelo menos, se um grupo organizado de velhas georgianas com machados cortarem estrategicamente linhas de fibra ótica por esse mundo fora. Dos dois fatos, não sei qual será o mais provável. Ou, por outras palavras, I know not what tomorrow will bring.

Cidade aTravessa


Hoje venho aqui só para vos dizer que sábado, dia 30, farei spoken word no Cidade aTravessa. Será na Casa das Rosas, na Avenida Paulista nº37, às 20h.

Os panos dos sexos

Convém dizer que aproveitei a ida duma amiga brasileira para a Europa para ficar um mês no apartamento dela. Estou a dividi-la com uma outra amiga dela, que chegou uns dois dias depois de mim e, durante a mudança, me pergunta
Jorge, você sabe se tem pano de prato?
Como assim, pano de prato? Para enxugar a louça?
Isso.
Havia um em cima da torneira
- e vou andando para lá.
Não, esse é de limpar a pia.
Tens razão. Então, mas... - procurando nos recantos de uma casa ainda meio desconhecida - olha tantos aqui ao lado destas esponjas!
Não, Jorge, esses são panos do chão.
Ok... mas estão lavados e secos. Para uma emergência...
Imagina. Não é complicado, amanhã eu compro um. Custa só uns cinco reais!
Hmmm, mas espera! O fogão estava fechado e tinha uma cafeteira por cima. Ora, sob a cafeteira estava este pano, que poderia perfeitamente...
Jorge, esse pano é decorativo. É de viscose, não absorve.

e esse é o momento em que solto um desanimado
Mulheres!
precisamente ao mesmo tempo que ela solta um sentido
Homens!
e fomos cada um para o nosso respetivo quarto chorar.