O anúncio do bolinho de bacalhau do Habib's

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Amigos brasileiros, vamos lá a ver se nos entendemos: eu acho que este anúncio está engraçado e, sendo estereotipado, não é preconceituoso. Tudo bem, ri-me e tudo, sim senhor. Mas...

1. Em Portugal, ninguém com menos de 60 anos usa camisas e coletes como este "Manuel", a menos que seja um estudante de Design de Moda com espírito saudosista.

2. Ao longo da minha vida, eu (e só porque cresci no norte de PT, e não em Lisboa, como diz o anúncio) devo ter conhecido meia dúzia de pessoas que diziam "óito" em vez de "ôito" e provavelmente já estarão todas mortas de velhice.

3. O que, eu já percebi, é impossível que vocês entendam é: se querem mesmo imitar o sotaque português, aprendam a modular as vogais. Nós não as fechamos ao ponto de dizer "belinhos", "becalhau", "fela". Definitivamente não as abrimos como vocês, por isso também não dizemos "mais", "restauranti", "piádista". Esta é sempre a grande armadilha em que caem os brasileiros que querem imitar o sotaque português. Aprendam, que eu não duro sempre.

4. Ambos os lugares são muito bonitos. Mas Lisboa não é Olinda, ou Salvador, ou seja lá qual for o centro histórico em que aquelas mulheres estão. Vê-se logo. E, aliás, se elas morassem numa casa daquelas em Lisboa, elas não estariam secando a roupa na varanda, porque teriam um batalhão de domésticos que as secariam com os próprios hálitos.

5. Ninguém ouve vira em Portugal. Para ouvir vira, é preciso ir a um baile de uma aldeia do Norte no Verão e, mesmo assim, ainda vai ser mais fácil ouvirem uma versão de um forró qualquer do que vira. Por isso, parem com o vira. Tipo, acabou. Ok? Ok. Beijos.

O butelo


Um amigo meu, português, mas que passou os últimos meses comigo no Brasil, regressou ao solo luso na semana passada e fez aquilo que, pelos vistos, está inscrito no nosso ADN: comer todas as comidas que, por dificuldade de execução ou por falta de ingredientes, lhes estiveram vedadas na estadia no exterior. Foi o mesmo instinto que me levou a devorar uma chamuça meia hora depois de ter chegado; a comer uma francesinha em cada uma das vezes que parei no Porto; e o levou ontem a perseguir um butelo.

Um butelo é o enchido que se exibe aqui em cima, típico de Bragança e confeccionado com pedaços de carne de porco com osso. Confesso que nunca tinha ouvido falar de tal coisa até que ele me enviou um e-mail dizendo "vou malhar um butelinho com cascas, simplesmente o melhor prato da gastronomia mundial". Disse-lhe que não sabia o que era um butelo. Ele respondeu dizendo que o meu conhecimento da alta culinária tradicional portuguesa era medíocre - eu, que até comia a crista do galo cozida quando a minha avó fazia cozido! audácia! - e anexava a receita. Relatei-a com muito interesse à senhora minha mãe, que reagiu da seguinte forma: "Grande coisa! O butelo dele é o nosso pedro!". Ao que parece, o mesmo enchido era executado aqui no noroeste, também usando o bucho e, como variante, a bexiga do porco, mas o nome diferia. Portanto, um pedro do Minho é um butelo de Trás-os-Montes. Dada a incidência de emigração da região trasmontana para o Brasil, percebe-se porque há tantos nomes estranhos naquela terra.



Do que tenho visto, já não se faz o pedro pelo Minho, mas os trasmontanos não desistem do butelo nem do seu acompanhamento predilecto, as "cascas" ou "casulas", ou seja, vagens de feijão. Parece interessante e revela bem o poder de decisão do povo nordestino. Um minhoto levanta-se à noite com insónia e pensa "o que me apetece é um leitinho e uma fatia de broa com presunto". Um trasmontano levanta-se à noite e pensa "o que me apetece é encher uma barriga de porco com carne e osso, deixá-la a defumar vinte dias, cozê-la duas vezes durante três horas e comê-la com vagens que ficaram um dia de molho antes de serem cozidas e alouradas". Poder-se-ia chamar-lhe teimosia. Eu chamo-lhe resiliência.

Seja como for, um abraço e muita força para o meu amigo. Fico ansioso por provar essa iguaria um dia e espero sinceramente que ninguém lhe chame preguiçoso por decidir comer as cascas com os feijões ainda dentro.

Estudo para personagem

Eu gostaria muito de te ter aqui, mas há uma força que nos obriga a andar.

Dantes, para as vacas ganharem força para puxar pedra e assim, dava-se-lhes vinho por uma garrafa. Mas tinha que se ter cuidado, senão a vaca mordia e partia a garrafa. O meu pai chegava-lhes com o dedo, punha-lho na boca para lhes apartar a pele e punha-se a garrafa de lado enquanto outro lhes agarrava o focinho para elas beberem. Mas o meu pai não lhes dava vinho, dava-lhes urina de homem. E farinha, milha.

Eu tenho uma uma coisa, sonho muito. Sonho que estou nalgum lugar, depois acordo. Mas dantes desesperava, agora não. É o que Deus quer, é assim.

Tinha na Bela e aqui muitos campos, que era uma coisa que gostava muito. Agora não os vejo.

Eu estou a pensar uma coisa, que tenho sonhado muito com eles. Ó Jorge, levas pressa? Quero-te perguntar, tens comido nuns campos lá em cima? Tu e a São... Não? Devem ser sonhos.

Quando fui para a tropa, levei presunto, cozido e lampreia seca fumada. Cozia-se a lampreia com presunto, passava-se em açúcar e enrolava-se. Depois ficámos lá todos a comer.

Fiz a tropa no Porto. Pesava 120 quilos quando me pesei na balança. Estive lá 12 dias. Quando nos mandavam encerar o chão, espalhávamos a cera, pegávamos numa passadeira, um deitava-se no fundo e os outros puxavam. Eu era sempre o que ia para o fundo.

Quando me quis ir embora, o meu tio pagou ao Sargento Vasconcelos, que era de Valença. Como não era tempo de guerra... Tinha de se ir a uma Junta. Na Junta estava um coronel, um tenente-coronel e um major e quem mandava naquilo era o major. Mas o sargento tinha-os na mão. Perguntaram-me "de que se queixa?". Eu respondi "da veia da urina". Fui-me embora ter com o meu tio.

Depois disso é que fui tirar a carta a Lisboa para começar a conduzir camiões. O teste foi na Graça. Eles queriam-me passar a perna e puseram-me num lugar difícil para dar a volta, mas eu fiz a manobra só com um braço.

Quando eu estava em Lisboa, uma vez estava com fome lá pelo Areeiro. Entrei num café, viro-me para o homem que lá estava e digo "dê-me um trigo com presunto, se faz favor". O homem virou-se para mim e disse "você deve ser lá de cima, de Coura, Monção, por aí". E eu "sou de Monção, como soube?". "Porque aqui não se diz 'trigo'. Se falar assim ainda se riem de si". E eu "ai os filhos da puta".

Hoje já vai ser um dia de sonhos.

Objetos do Brasil: o chuveiro elétrico


Ao contrário de alguns visitantes desprevenidos das terras de Vera Cruz, nunca tive nenhum problema com o chuveiro elétrico, que considero até muito eficiente. Na generalidade dos países que conheci (ou seja, em todos menos o Brasil), juntar as ideias de água e eletricidade não era coisa muito recomendável. Isto, reconheço agora, é medíocre e limitador. Afinal, sempre permitiria adiantar algumas tarefas matinais. Enviar um e-mail ao mesmo tempo que nos ensaboamos. Secar o cabelo da nuca enquanto ainda lavamos o da frente. Pôr as torradas a tostar enquanto nos esfoliamos.

No Brasil, ainda não se leva a torradeira para o banho. Porém, um dia alguém ligou o foda-se e disse "porque não?". São as frases que iniciam toda as grandes revoluções da vida moderna. Assim nasceu a democracia grega. Assim nasceu a revolução egípcia. E assim nasceu o chuveiro elétrico.

O chuveiro elétrico, está bom de ver, é um chuveiro que aquece a água através de uma resistência elétrica, não precisando de gás. Foi uma solução inteligente para aquecer a água a multidões e multidões que não podiam pagar a instalação de outros sistemas mais dispendiosos, incluindo esquentadores. Ou seja, uma espécie de Bolsa Família só para o momento do banho. As implicações políticas são óbvias: o chuveiro elétrico permitiu que o pobre se começasse a sentir classe média logo no quentinho do duche. Hoje, o chuveiro elétrico é transversal à sociedade brasileira. O seu uso é como comer rissóis: por muito rico e chique que se seja, de vez em quando passa-se por ele.

Lembro-me da primeira vez que usei um chuveiro elétrico como se fosse hoje. Imaginem a situação. Jorge Vaz Nande pendura a toalha na porta e, nu, fica a olhar para aquele estranho e volumoso objecto branco sobre a sua cabeça, preso à parede por um tubo e dois parafusos, do qual sai um grosso cabo elétrico que parece rir-se para ele como quem diz "ahah vou-te foder". Ele estica a mão com medo, já sentindo o frio da manhã no corpo, mas com receio de que a água demore tanto a aquecer na geringonça e o atinja com tanta crueza que ele não consiga reprimir um grito efeminado. Enche-se de coragem e roda a torneira. A água cai, de início fria... mas, em segundos, bem mais depressa do que com qualquer esquentador fajuto, ela fica quente. Nobremente quente. Regiamente quente. Jorge Vaz Nande põe-se por baixo da torrente e leva com ela na cara, logo experimentando a excitação das suas terminações nervosas. Enquanto ele pensa, rindo, em todas as vezes que um esquentador mau o deixou agarradinho a um fraquejante fiapo de mornura, ele repara que a água está a ficar demasiado quente. Ele olha para a parede, procura a torneira de água fria - mas ela não existe! Isto é um chuveiro elétrico, só tem uma torneira! O que fazer? O que fazer?! Sentindo a cara a ficar queimada, chegando-se já ligeiramente para o lado, Jorge Vaz Nande tem uma ideia- abrir ainda mais a torneira. É a única ação possível, a única que faz sentido - e funciona! A água fica, de repente, no seu ponto certo e Jorge Vaz Nande pode-se lavar, pensando que só falta inventarem chuveiros elétricos para as torneiras da cozinha, para assim ele não precisar de levar a louça suja para o banho.

Já agora, se procurarmos "chuveiro elétrico wikipedia" no Google, este remete-nos para a história dele logo no primeiro link. O segundo link é a definição de "lavagem vaginal". Apesar de o Brasil ser um país onde a higiene pessoal é muito valorizada, ainda não consideramos este um objeto do Brasil. Porém, quem sabe, talvez um dia falaremos sobre o tema.

Vida atribulada

O bom de vir a casa é que podemos encontrar revistas Maria de 1988 que contêm cartas como esta:
VIDA ATRIBULADA
Somos três amigas que vivem juntas e as nossas idades estão compreendidas entre os 15 e os 18 anos. Temos três problemas que gostaríamos que nos ajudassem a resolver. Arriscámos a fazer fotografias nuas e o fotógrafo tentou violar-nos. Estamos cheias de medo e sem saber o que fazer. Há rapazes que têm a mania que nós somos a Ninon e a Rosaly do 'Roque Santeiro', e então tentam agredir-nos. Finalmente, o último problema diz respeito à droga. Uma vez ofereceram-nos e como nós recusámos assaltaram o nosso apartamento.
Carla, M.S. - Porto

Nocturno

em são paulo olho à noite para o cruzamento da pacaembu com o minhocão enquanto ouço a paranoid android do brad mehldau e lembro-me que

em lisboa há dois anos distraía-me com o pátio quieto da academia militar a ouvir a summertime da jesca hoop e

há sete anos em coimbra olhava o ponto em que a praça da república se encontra com a sá da bandeira enquanto no bar do tagv se ouvia algo como a by this river do brian eno mas

há catorze anos olhava para uma esquina de um caminho de terra em troviscoso com a fonte mais abaixo casas em toda a volta todos se conhecendo

a tocar

eram os radiohead

a paranoid android

Objetos do Brasil: o Nextel

Ah, Brasil, Brasil. Terra de tantos e tão agradáveis sons. Os grasnares de tucanos. O zunido da moriçoca. E os "piris" dos nexteis. Um passeio pela Avenida Paulista chega para comprovar: os dois primeiros podem não ter muita expressão na selva urbana de São Paulo, mas o terceiro domina. "Piri". "Piri". Se estivéssemos em Portugal, até picava na língua.

Eu adivinho porque é que o Nextel nunca chegou à Tugalândia. Imaginem um telemóvel com a função de não pagar chamadas. Não é pagar pouco. Não é pagar mais ou menos dependendo de onde estiver a outra pessoa. É mesmo não pagar chamadas. Nunca. Mesmo que a pessoa que chamamos esteja nos Estados Unidos ou no Japão. Sim, jovens meninas adolescentes, os milagres existem. Mas nenhum operador de telecomunicações português vai querer abrir esta caixa de Pandora. Até porque, em Portugal, a expressão é "boceta de Pandora", o que chamaria as atenções indevidas de muito brasileiro. Por outro lado, como com o Nextel é fácil fazer chamadas para Tóquio, tudo fica certo.

Para além do encanto que os trocadilhos infames sempre trazem consigo, o Nextel tem para um homem o apelo de tornar qualquer um numa espécie de Schwarzenneger em pleno "O Predador". É que a função gratuita não funciona com base na rede normal de telemóvel, mas num sistema de radiotransmissão. De modo muito semelhante - ou melhor, exactamente como um walkie talkie. Daí o "piri" que se ouve quando o nosso interlocutor acaba de falar e que só faz apetecer responder coisas como copy, over, charlie, delta, tango. Como um walkie talkie, ele inclui-nos num grupo, numa quadrilha, numa irmandade. Podemos combinar negócios, planear reuniões, mas também, quem sabe, tomar o poder. Ou, pelo menos, brincar a tomar o poder. Ou seja, o Nextel permite ser profissional e imaturo ao mesmo tempo, adulto e criança. Não é por acaso que a actual presidente é uma ex-combatente: ao que parece, cada brasileiro tem em si um pequeno guerrilheiro, sempre à espera de vir ao de cima. E o Nextel apazigua-o. Roger.

Objetos do Brasil: a comanda


No Brasil, os portugueses são conhecidos como os donos de padarias. É um daqueles preconceitos que acabam por se revelar verdadeiros, como o de que as mulheres falam e pensam demais ou o de que os homens falam pouco e pensam menos ainda. Mas, é preciso que alguém o diga, uma padaria no Brasil não é só um pequeno estabelecimento com estantes que ostentam pães. Na verdade, elas estão mais próximas de um híbrido mutante de café, snack-bar e minimercado. Dependendo do estabelecimento, pode haver um balcão e uma zona com cadeiras para se provarem as iguarias requintadas que são feitas na hora e que podem ir desde meras sanduíches até refeições elaboradas. Ou um balcão com a comida que se paga a peso. Ou uma zona de estantes que exibe desde batatas fritas até vinhos importados. Ou uma prateleira refrigerada com iogurtes, bolinhos e bebidas energéticas. Assim, não é que as padarias só vendam pão - mas essa é a única coisa que todas elas parecem ter em comum. Isso, e o dono português, é claro.

Já que este tipo de espaços permite vários tipos de experiência - podemos tirar um suco da geladeira, mas também podemos pedir um ao empregado; podemos fazer o prato a nosso gosto, mas também podemos pedir uma refeição - e o Brasil é especialista em facilitar a vida ao cliente, foi por aqui inventado um poderoso auxiliar de consumo: a comanda. A comanda é uma ajuda metafísica à experiência de consumo. Cada pessoa tem uma alma, um espírito, uma personalidade. Ora, num ambiente comercial, esta precisa de se traduzir comercialmente. E daí nasce a comanda. A comanda é a personalidade de cada um aplicada à experiência de consumir.

A comanda varia em forma e estilo. Há-as em papel. Há as que são a face visível de um maquiavélico sistema de tecnologia sem fios. Há as que incluem uma listagem do que se consumiu e as que se compõem só de um número. Há-as coloridas, a preto e branco, quadriculadas, redondas, para escrever, para furar. Já me deparei com uma que era apenas um pedaço de papel com um número escrito. E, não, não importa nada que se chegue à caixa, o empregado não tenha apontado nada daquilo que consumimos ou o sistema não funcione e se acabe com a moça da caixa a perguntar quem nos serviu e o quê. Isso de nenhuma forma põe em causa a existência da comanda. A comanda comanda.

Esse é o momento em que nos perguntamos: então, para que serve a comanda? Porque não vão registando o consumo da mesa e no final pagamos a conta ao empregado ou na caixa? Porque a comanda coisifica-nos com ela. No final, somos todos democraticamente só um número, independentemente de sermos brancos, morenos, índios, japoneses, baixos, altos, gordos, magros. Só se formos bolivianos é que não, até porque, se formos bolivianos, passamos o dia a trabalhar numa sweat shop e depois nem dinheiro temos para cigarros, quanto mais para ir à padaria de um sovina de um português que nem o chorinho vai oferecer. Não é?

Augusta, graças a Deus, entre você e a Angélica eu encontrei o Décio Pignatari

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Aconteceu que no Sábado eu estive na festa do Santo Forte e, logo na primeira vez que ia sair para refrescar a cara daquele lugar diabólico sem ar condicionado e com falta de bebidas, começou a tocar a "Angélica, Augusta e Consolação" do Tom Zé e não consegui sair enquanto não acabou. No Domingo, enquanto procurava uma pulseira de couro na Paulista, dei um salto à Cultura e descobri um livro que até parece uma justificação teórica do que fazemos nos Smokers, "o que é comunicação poética", de um senhor chamado Décio Pignatari. Hoje, no trabalho, apeteceu-me ouvir de novo a canção e comecei a ler sobre a "Angélica, Augusta e Consolação", principalmente sobre o álbum onde apareceu, "Todos os Olhos". Este álbum tem uma capa bem famosa, com uma fotografia do que seria um cu com um berlinde enfiado lá dentro, simulando um olho. E, fuçando, fuçando, descobri que a ideia para essa capa foi do próprio Décio Pignatari, que com certeza já estaria a executar as ideias sobre as quais mais tarde escreveria. É que se isso não é comunicação poética não sei o que é.

Canção do Asilo (a partir de Gonçalves Dias)

Minha terra não tem palmeiras
Lá não canta o sabiá
Não tem esfiha nem coxinha
Maniçoba ou vatapá

"É assim" é nosso "então"
O "OK" é "entendi"
A saudade que lá existe
É a mesma que existe aqui

Não encontro prazer lá
E não sei se o há aqui
Minha terra é um sonho em pó
Acordei, logo esqueci

Se esta terra tem primores,
Parabéns, mostrem-mos lá.
Não me falem "ora pois"
Nem me falem do que não há
Não sabemos o que é viver
Não aqui e nunca lá

Não tem Deus que traga a conta
Do consumo de maná
Não tem pai que nos corrija
Do erro que a gente fará
Não sabemos o que é viver
Não aqui e nunca lá

NOTA: Disse este poema no dia 21 de Novembro no espectáculo dos Social Smokers no SESC Pompéia. É a (in)versão possível de um português a viver em São Paulo no século XXI da famosa "Canção do Exílio" de Gonçalves Dias, um brasileiro que estudava Direito em Coimbra no século XIX.