O poema

Sim, eu perdi. A partir de Manuel de Freitas, Jorge Melícias e João Luís Barreto Guimarães.

Os poemas antigos

Para recordar tempos de masoquismo.

5 microcontos sobre o desejo

Escritos para o número 11 da revista Minguante.

O Parênteses

Um pequeno conto escrito para os leitores do meu antigo blog. Joaquim Nando ainda teve continuação.

Um microconto de Natal

A minha primeira incursão pelos terrenos da micronarrativa.

People try to put us down

Não consigo concordar com Samuel Úria, com quem partilho geração. Não seremos progressistas no futuro porque não o somos agora e metade dos adultos que conheço, à frentex para o seu tempo e parceiros de revoluções ou movidas e coisas parecidas, queixam-se dos filhos que se querem casar, perguntando quem é que se casa. Sim, quem é que se casa, a não ser um exército que cresceu a ouvir contos de fadas? Olho à volta e não vejo progresso. Nos olhos há medo, nos ânimos confusão. We know not what tomorrow will bring e, sim, pode sempre arguir-se que a necessidade aguça o engenho e, entregues a nós próprios, menos dependentes do conforto da vida persistiremos. Mas a minha geração não vai ter velhos jarretas, nem censores do restelo, nem reaccionários quadrados? Achas mesmo, Samuel? Fechamos os olhos ao presente ou devemos contar com um futuro que nos regenere?

It's just a restless feeling by my side

Fala-se de melancolia, mas perfeição é esta, a da ainda-manhã de domingo, com o lastro desarrumado da semana à minha volta e as pernas frias a sofrerem da preguiça do dono. Há dias escrevi algures a nota "começamos a entrar na idade em que as coisas se vão perdendo", mas não sei exactamente o que isso queria dizer. Isto, porém, nunca se perde: o silêncio, o prazer de um tipo se sentir solidamente consigo no meio de uma desarrumação reversível. A solidão, insuportável à noite, é apetitosa agora.

A meio, o fim

Quanto tempo demora até que tudo fique igual, ouço perguntar dentro da minha mente (o que não quer dizer, atenção, que a pergunta seja minha). De outro modo, poder-se-ia dizer que é precisamente por estes meados de Janeiro que se descobre que resoluções de ano novo valem ou caem por completo. Eu, por mim, fiz uma. Tem-se aguentado, com algum sacrifício. Se assim não fosse, o falhanço seria total. É o problema de se ser pelo fatalismo no mundo e achar que não há nada de muito sólido, ou que se desmanche no ar, ou que se chame poder transformador da mente. Quanto tempo demora até que tudo fique igual? Resposta rápida: nenhum.

O regresso

Entre viagens planeadas e viagens feitas, um tipo começa a perguntar qual é o sentido disto tudo, o que ajuda a compreender porque é que a assistência das igrejas é de faixa etária mais avançada. Aí ainda não cheguei, mas tenho de me sentar nalgum lado a esquecer-me da vida, por isso fui ao cinema comer pipocas. O Avatar do Cameron não é tão fascinante como o Avatar do Carnivale. O eyeware, ainda assim, é mais à maneira. Ainda me lembro de uma transmissão muito anunciada d'O Monstro da Lagoa Negra na televisão, aí para 1986. Até a TV Guia andara na distribuição de óculos de armações de cartolina com lentes de acetato vermelho e azul e depois não deu em nada, já não sei porquê. Ora, os do Avatar não só funcionam como são de armação de plástico de massa com lentes escurecidas. Durante aquelas horinhas, podemos fantasiar a gosto que somos o Woody Allen ou o Pinochet e optar por soprar no clarinete ou mandar entrar a caravana da morte. O problema é que o filme acaba, a Michelle Rodriguez não se dá bem e um tipo pergunta-se qual é o sentido daquilo tudo, o que implica outra viagem e, claro, um sítio diferente para se sentar.

Um clássico

Na casa natal, vi passar na televisão um Concerto de Ano Novo da Filarmónica de Viena. Chamou-me a atenção a valsa "Vinho, Mulheres e Canções", que não consigo de pensar como eufemismo de Strauss para se referir a huren und grüne wein na Viena novecentista. O meu avô é sempre o grande responsável por se deixar ficar no canal com música clássica e também descobri porquê: foi amigo do maestro Miguel de Oliveira, líder da banda musical durante vinte anos. Compôs De Cádiz a Tanger e teve um primo do meu avô na trompa. Este primo, curiosamente, chamava-se Fausto.