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THE HAUNTING OF BLY MANOR (2020)

Sobre terror, tenho um lema: se não me assustar, que me fascine; se não me fascinar, que me assuste; se não me fascinar nem me assustar, que me entretenha. Esta série cumpriu a última opção, ainda que, a dado momento, tenha parecido que começou a complicar sem necessidade aquilo que parecia simples.

THE TRIAL OF THE CHICAGO 7 (2020)

Gosto muito do Aaron Sorkin e, mesmo que não gostasse, um filme de tribunal escrito e realizado pelo homem que escreveu a frase "you can't handle the truth" é sempre de saudar. Nos seus "biopics", ele nunca foi um maníaco pela fidelidade às datas, por isso não vale a pena entrar na onda da verificação histórica. De resto, Sorkin entrega aquilo a que nos habituou: um bando de ótimos atores a interpretar personagens carismáticas com excelentes diálogos no contexto duma história política muito bem contada. Porém, tenho que dizer que o final me pareceu precipitado e sentimentalista, bem aquém do resto do filme.

WE ARE WHO WE ARE (2020)

Nunca fui o maior fã de Luca Guadagnino, e parece-me que aqui ele sofre o mesmo problema que o seu conterrâneo Paolo Sorrentino sofreu quando desenvolveu "The Young Pope": a dificuldade de passar dos ritmos próprios do Cinema para a linguagem televisiva, que pede um estímulo constante (ainda que não necessariamente narrativo) e ganchos mais fortes. O primeiro episódio é desconcertante e marca pela originalidade, mas depois reina uma sensação estranha, como se supusesse que o grande ponto de interesse fosse um realizador a fazer exercícios de estilo autoral. Isso não é suficiente. Se os próximos episódios me fizerem mudar de ideia, eu aviso.

RATCHED (2020) e ONE FLEW OVER THE CUCKOO'S NEST (1975)

Pode ser por "American Horror Story: Coven" ter esgotado a minha paciência para o Ryan Murphy, pode ser por ver os mesmos trejeitos narrativos e estilísticos a repetirem-se série após série, mas não acho que esta nova enfermeira Ratched seja comparável à personagem nada glamorizada e esvaziada de compaixão que Lousie Fletcher interpretou no filme clássico de Miloš Forman. Nalgumas coisas, definitivamente, menos é mais.

THE SOCIAL DILEMMA (2020)

O debate sobre este filme nas redes sociais foi mais um daqueles que se fazem por não haver muito mais a falar. Não diz nada de novo? Talvez não, mas manter o público em alerta constante sobre os perigos da partilha de dados nas redes sociais e a forma como elas podem ser usadas para atingir objetivos odiosos é hoje uma necessidade tão premente como a de lembrar sempre as pessoas que o cigarro faz mal.  Ainda assim, a ficção e o tom final de "vai ficar tudo bem" espetacularizam a mensagem de forma dispensável.

CHEF'S TABLE: BBQ (2020)

A gente diz que o Chef's Table está velho, mas depois ele atira-nos com uma velhinha norte-americana que faz um brisket que sai da churrasqueira a derreter e com mulheres maias que nos ensinam a "cochinita pibil" e vamos fazer o quê? Comer pelos olhos, certamente.

I'M THINKING OF ENDING THINGS (2020)

Vi-o há algumas semanas, um dia depois da estreia. Nessa mesma ocasião, escrevi a anotação: "quem gosta de Charlie Kaufman vai adorar. Quem não gosta vai odiar. Quem não sabe se gosta ou não gosta, nunca viu Charlie Kaufman". É um filme que encanta e assombra e fica a pairar na alma, e acho que em breve o vou ver outra vez.

I MAY DESTROY YOU (2020)

Saber que Michaela Coel sofreu o abuso aqui abordado enquanto escrevia a 2ª segunda temporada de "Chewing Gum" deixa um travo amargo. "I May Destroy You" impressiona, não só pela honestidade bruta com que aborda o tema, mas também pela forma (assumida) como, de história sobre consentimento, se transforma em história sobre o próprio ato de contar uma história, em tudo o que este tem a ver com a memória e a reconfiguração do tempo segundo a perspetiva humana. O seu episódio final é uma obra-prima.

ILANA GLAZER: THE PLANET IS BURNING (2020)

Gostava muito de "Broad City", principalmente das primeiras temporadas. Por isso, quando vi este especial de stand-up da Ilana Glazer no catálogo da Amazon Prime, não resisti, mas antes tivesse resistido. Glazer tem um grande problema que nunca consegue resolver (apesar de começar o "set" falando sobre ele): a distância entre a sua personagem na série e ela própria. O seu "delivery" do texto é preguiçoso, como se ela não tivesse conseguido dominar o tempo específico do stand-up, e, enquanto fala sobre menstruação e sexualidade, não diz nada de novo ou de particularmente engraçado. Além disso, o público não ajuda. Aquelas pessoas estão lá mais para ver Glazer, rainha dessa espécie em vias de extinção que é o hipster de Brooklyn, do que para ouvir o seu número. É só ela gritar «xana!» ou «gosto 60% de homens e 40% de mulheres» que toda a gente irrompe numa saraivada de aplausos e vivas. Muito, muito fraquinho.

THE HATER (2020)

Conhecido no Brasil como "Rede do Ódio", é um filme que vem a calhar para estes tempos de divisões e que mostra bem como as redes sociais — surgidas como promessa de uma comunicação sem obstáculos entre as pessoas — são espaços de manipulação e distorção com consequências terríveis no mundo. Uma espécie de "Nightcrawler" (2014) do mundo digital, não resiste a alguns clichês, mas é interessante na sua crítica ao jogo político, da esquerda caviar à direita nacionalista, e termina com uma moral curiosa: num mundo de imagens, quem se esconde é rei.

STREET FOOD: LATIN AMERICA (2020)

Gosto muito de Chef's Table, mas os anos passaram e ela acabou ficando com a fórmula à vista e algo institucionalizada. "Street Food" é a sua irmã mais nova, mais informal e divertida. Na 2ª temporada, ela propõe-se descobrir a comida tradicional de seis cidades da América Latina e dá o protagonismo a mulheres fortes e admiráveis. E agora eu quero muito comer uma fugazzeta argentina!

LIGUE DJÁ: O LENDÁRIO WALTER MERCADO (2020)

Se o império de Walter Mercado chegou a Portugal, sinceramente passou-me ao lado, mas o entusiasmo que correu os meus grupos de Whatsapp esta semana só demonstrou a popularidade que ele teve no Brasil. O documentário perde força a partir do momento em que revela o seu gancho inicial (o motivo por que Mercado desapareceu subitamente da televisão), mas vale pelo apelo à nostalgia.

SEARCH PARTY (s03, 2020)

A série mais millennial que conheço e, ao mesmo tempo, a sátira mais mordaz da cultura e dos valores millennials que já vi. Confesso que pouco mais do que espreitei as duas primeiras temporadas enquanto a Cyntia via, mas tenho prestado mais atenção à terceira muito por causa desta atriz. Arrisco (com confiança considerável) que toda a equipe de gravação esperava ansiosamente as cenas com Shalita Grant. A sua composição da personagem é magistral e o seu controlo do ritmo é perfeito — o que é só uma forma rebuscada de dizer que a mulher é muito engraçada!

NADIE SABE QUE ESTOY AQUI (2020)

Tem um toque de realismo mágico e trabalha bem os seus símbolos: a água que rodeia a fazenda anuncia a inacessibilidade do protagonista, a obesidade deste representa o peso moral que carrega, o seu silêncio revela a dor de quem teve a sua voz roubada. Não é um filme pesado, antes tem aquele agridoce de sorriso triste bem latino-americano.

EUROVISION SONG CONTEST: THE STORY OF FIRE SAGA (2020)

É claro que, sendo europeu, a minha memória afetiva da Eurovisão é tão grande e irrazoável quanto a que um brasileiro tem de carne louca. A Eurovisão é um lugar estranho: todos sabemos que aquilo é piroso e o espetáculo mais artificial que pode haver, mas, em algum momento, todos entramos numa discussão sobre qual deve ser a canção escolhida. Há algo de muito comunitário nesse ritual, e o filme soube captar isso muito bem, talvez porque o Will Ferrell, ao que parece, tem esposa sueca e acompanha o festival há anos. As aparições de verdadeiros vencedores da Eurovisão (incluindo o Salvador Sobral) devem ser lidas por aí. O filme é uma homenagem simpática a este universo, com purpurina, luzes, cores e a exaltação das emoções desbragadas. Mais do que rir, faz-nos sorrir — mas sorrimos muito..

DARK (s03, 2020)

Ainda não vi a última temporada de Dark por inteiro. Porém, há um pensamento que me tem inquietado durante estes novos episódios. No género da viagem no tempo, há, digamos, um eixo de complexidade. Quando é baixo, consiste em simplesmente definir um conjunto de regras básicas e apostar na narrativa, à Back From The Future (ou à Bill & Ted). Quando é alto, a ciência e os paradoxos temporais acabam por dominar a história, à Primer. Eu sei que viagens no tempo que apostam na complexidade alta são boas para gerar "fandom", mas sempre me parece que elas correm um risco grande de entrar em contradição: por um lado, elas têm que formular uma hipótese racional sobre como a viagem no tempo poderá funcionar e, por outro, precisam manter a ambiguidade narrativa, acabando assim por colocar um espectador perante um resultado que parece tão aleatório como seria aquele em que a ciência não estivesse presente. Ao longo das suas temporadas, eu diria que Dark foi subindo nesse eixo, complexificando o seu universo num jogo de duplos e espelhos com ressonâncias místicas e religiosas, e multiplicando as suas personagens em diferentes encarnações históricas. Nestes novos episódios, parece-me várias vezes que é demais: há tempos demais, pessoas demais, enredos demais, e, em vez de as regras deste universo nos serem explicadas pouco a pouco, parece que novas regras são constantemente inventadas para lidar com a montanha de possibilidades que se levantou. Isto parece-me muito prejudicial para aquilo que é uma das principais qualidades da série: o tom e ambiente admiráveis, com um suspense de cortar à faca. Se tudo é possível, nada é fatal, e a tensão não será então mais do que um elaborado joguinho de luz e som.

Após terminar: foi um final muito bonito para uma série extremamente truqueira.
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KIDDING, S02E05, "Episode 3101" (2020)

Para definir o género de algumas grandes séries atuais, sempre me lembro de um título do Nuno Costa Santos: "melancómico". Prefiro-o a "dramedy" ou tragicomédia, porque não me parece que haja muito drama ou tragédia em Derek, After Life ou Ramy. Em todas, a observação satírica dos tipos ainda parece mais importante do que acompanhar o percurso do protagonista através de obstáculos até um grande objetivo ou do que ver a húbris das personagens sofrer um belo castigo divino. É como se o Coiote continuasse a perseguir o Papa-Léguas, mas fosse um pouco triste sempre que não conseguisse. Ora, Kidding cai redonda no género. As suas personagens passam por cirurgias, mortes, divórcios e, no entanto, melhor ou pior, lá vão seguindo em frente. Parece-me um tom extremamente próximo do da vida quotidiana, onde o tempo gosta de transformar o amargo em agridoce. A recente 2ª temporada não surpreende tanto quanto a primeira, mas continua uma série encantadora, e este episódio, dirigido pelo próprio Michel Gondry, é nada menos do que uma pequena maravilha..

TALES FROM THE LOOP (2020)

A trilha desta série é do Philip Glass, no seu primeiro trabalho para televisão, e pode-se dizer o mesmo tanto da música quanto da série: belíssima e tão triste que, de vez em quando, fazia falta só um raiozinho de sol.

The Last Dance (2020)

22 anos depois de ser gravado, finalmente se juntou a fome com a vontade de comer e ele saiu. Isso adicionou-lhe um interesse especial: o de ver como aqueles basquetebolistas são agora pessoas cuja sombra se estende muito para trás e que existem mais no que foram do que no que são. Considerem apenas o seguinte: a espera entre a gravação e a estreia desta série foi mais longa do que toda a carreira de Michael Jordan na NBA. É um documentário repleto de conteúdo e de figuras "larger than life", mas confesso que achei o vaivém entre épocas um pouco cansativo.

Homecoming s02 (2020)

Este projeto paralelo do Sam Esmail já tinha sido das melhores coisas a estrear em 2018, e a 2ª temporada é um portento. Um longo episódio de Twilight Zone com um toque dos anos 70, atores ótimos, trilha poderosíssima..