janeiro 2021

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COBRA KAI s03 (2021)

As temporadas anteriores de Cobra Kai levaram a história do Karate Kid a um delírio delicioso enquanto faziam algo inacreditável: recuperar um formato de entretenimento que parecia condenado a sobreviver na pura nostalgia e recuperá-lo para o presente utilizando o seu anacronismo e a sua cafonice como uma força. Dito isso, pareceu-me que os novos episódios perderam um pouco a força e entraram perigosamente no terreno do "mais do mesmo". Apesar de momentos muito simpáticos (a viagem de Daniel a Okinawa fará sorrir qualquer pessoa que viu os filmes originais) e de esclarecer a história como a do "bromance" entre Daniel e Johnny, as personagens adolescentes começam a parecer meros sacos de pancada que são empurrados de um lado para o outro. Esperemos que a temporada seguinte feche esta audaciosa aventura audiovisual melhor do que está agora.

O que vi esta semana

The 40-Year-Old Version (2020). Um filme muito pessoal sobre teatro, hip hop e poesia que é também uma comédia sensível e extremamente divertida. Se o tivesse visto antes, é bem possível que o tivesse posto na minha lista de melhores de 2020. Aproveitem enquanto ainda está na Netflix.

Never Rarely Sometimes Always (2020). Não se aventura pela agudeza trágica de 4 luni, 3 săptămâni și 2 zile, de Cristian Mungiu, mas o estilo documental faz dele um filme exemplar para mostrar como o aborto nos EUA, embora liberado, continua a ser um desafio terrível para muitas mulheres. 

The Exorcist 3 (1990). É um erro esperar dele uma simples continuação de The Exorcist. O que William Peter Blatty fez aqui é puro "arthouse film" com um tom bem teatral (no bom sentido) e diálogos sofisticadíssimos, tanto que os seus desequilíbrios têm muito a ver com pedidos do estúdio para que a coisa ficasse mais do mesmo. 

The Trip to Greece (2020). A verdade nua e crua, para o bem e para o mal, é que The Trip é sobre dois homens, ingleses, brancos e ricos a envelhecerem. Pode-se não gostar da premissa ou não achar graça a Rob Brydon e Steve Coogan, mas uma coisa é inegável: The Trip é um caso raro na forma como expõe o humano por trás da celebridade, e muito disso deve-se à realização elegante e respeitosa de Michael Winterbottom. As séries e filmes da franquia são como os filmes do Woody Allen: de uma forma ou de outra, já sabemos o que vamos ver, mas vemos de qualquer forma, como se fosse um remédio periódico. Belas paisagens, comida incrível e imitações de gosto duvidoso? Estou dentro. 

Lorena (2019). Li algumas críticas a este documentário da Amazon Prime que apontavam a falta de crítica ao contexto cultural e social que levou a que Lorena Bobbitt pudesse ter sido abusada e estuprada pelo marido durante anos antes que ela lhe tivesse cortado o pénis e a ridicularização a que foi sujeita depois. Parece-me uma crítica injusta, considerando que o documentário é mais expositivo do que argumentativo e, desse ponto de vista, faz um bom trabalho condensando o antes, durante e depois dos julgamentos que, nos idos anos 90, fizeram todo o mundo parar e pensar um pouco sobre violência doméstica.

North By Northwest (1959). Um ano antes, Hitchock realizara Vertigo. Um ano depois, realizaria Psycho. Que colheita, senhoras e senhores, que colheita.