THE SERPENT AND THE RAINBOW (1988)

É preciso dizer já que Wes Craven era um autor dos pés à cabeça, e quem tiver dúvidas que veja o extraordinário "Wes Craven's New Nightmare". A sua estética elaborada está aqui presente, desde a sua característica de marcar a divisão entre o real e o sonho até nomear as suas presumíveis influências nos sobrenomes das personagens: Durand (o mitólogo que estudei no mestrado e que, em algum momento, me fez levar as mãos à cabeça), Duchamp, Mozart, Celine, Peytraud... Porém, fiquei muito dividido com este filme. Por um lado, é de admirar a coragem de quem foi filmar no Haiti logo após a queda de Baby Doc e tentou captar o que seria um pedaço da vida real no país, além de recorrer a um elenco maioritariamente negro numa década de representatividade diminuta no cinema de terror . Por outro, reproduzem-se clichês raciais que já não valem para nada hoje: os EUA da ciência vs o Haiti da magia, o branco salvador, o negro sacrificial, etc. Também se pisa um terreno perigoso de apropriação cultural do vodu haitiano, ainda que seja notório o esforço de Craven para não ser vago e desrespeituoso. Resumiria assim: no que acerta, o filme continua a acertar muito.