THE DUKE OF BURGUNDY (2015)

Os filmes de Jean Rollin e Jess Franco poderiam ser categorizados como "sexploitation", apesar de eu preferir o termo "eurotica". De qualquer forma, foi com essa estética que Peter Strickland vestiu o seu filme de 2015. Digo "vestiu" porque, apesar de a referência ser óbvia no estilo e na temática, "The Duke of Burgundy" é uma história de amor que explora a humanidade das suas personagens em tudo o que ela tem de afetuoso, obsessivo e contraditório. Note-se, por exemplo, a cena em que Cynthia repete a cena de "roleplay" com cuidado para não falhar as suas deixas enquanto Evelyn, no outro quarto, lhe limpa as botas, mostrando a inversão dos papeis de dominadora e submissa. Strickland, que não incluiu personagens homens, usa este tipo de pormenores para construir um olhar que desmonta o género que referencia: mais do que um corpo feminino que passou de objeto a sujeito do desejo, trata-se aqui de performar a rotina dos afetos que está oculta e que impossibilita qualquer fantasia.