Apeteceu-me rever este filme sobre a capitulação de um país dominado por um déspota desequilibrado, que distribuía cargos a torto e a direito e que tinha desprezo absoluto pelo seu povo. Não sei porquê.
22 anos depois de ser gravado, finalmente se juntou a fome com a vontade de comer e ele saiu. Isso adicionou-lhe um interesse especial: o de ver como aqueles basquetebolistas são agora pessoas cuja sombra se estende muito para trás e que existem mais no que foram do que no que são. Considerem apenas o seguinte: a espera entre a gravação e a estreia desta série foi mais longa do que toda a carreira de Michael Jordan na NBA. É um documentário repleto de conteúdo e de figuras "larger than life", mas confesso que achei o vaivém entre épocas um pouco cansativo.
Revi-o depois de, à vontade, umas duas décadas e percebi que talvez tenha sido a primeira vez que vi o Morgan Freeman. Já não me lembrava de como tem pormenores divertidos, como a mistura das aventuras de Robin Hood com bruxaria e pactos com o demónio, e os efeitos pré-CGI (o Terminator 2 estreou poucas semanas depois dele, tornando-o de repente uma coisa do passado). Porém, aquele plano que acompanha a flecha até à árvore ficara-me na memória. Acho que finalmente descobri como o fizeram e deixo a resposta que escrevi para o Quora aqui nos comentários..
Este projeto paralelo do Sam Esmail já tinha sido das melhores coisas a estrear em 2018, e a 2ª temporada é um portento. Um longo episódio de Twilight Zone com um toque dos anos 70, atores ótimos, trilha poderosíssima..
Um belo filme de terror. Quem gostou de A Bruxa vai gostar também. Recomendo para quem se interessar por pelo menos três dos seguintes itens: bruxaria; o Feminino; maternidade; os Alpes; dialetos austríacos.
Logo no início, cita-se Bazin: «O cinema substitui o nosso mundo por um mundo que corresponde aos nossos desejos». Corta para Bardot nua e Piccoli dizendo-lhe que a ama por completo. Nela JLG tem a estrela que Anna Karina não era. Mostrar BB é fazer o espectador participar de uma reflexão sobre a sua relação com o corpo feminino na tela e, por outro lado, com a própria Bardot enquanto fenómeno. Que arte esta, que faz de alguém fenómeno apenas mostrando-lhe a existência. Como diria Žižek, isto é o Cinema ensinando-nos o desejo, mas também é só um aspecto de um pensamento maior sobre uma sua contradição essencial: a de tentar revelar a verdade necessariamente através (ou no seio) da ilusão. A impossibilidade da comunicação entre personagens reflete, precisamente, essa frustração essencial. Lang, o cineasta dos espaços abertos, interpreta-se a si mesmo num filme cujo Cinemascope só serve para revelar a solidão intrínseca das pessoas que os percorrem. E eu revi-o puxando a cor e o contraste ao máximo, como me lembro de tê-lo visto há 20 anos no TAGV, em Coimbra..
Foi-me recomendada por um amigo, comecei a ver e só depois é que descobri que está a ser adorada por montanhas de pessoas. No início, torci um pouco o nariz: "o que é isto, o Morangos com Açúcar na Irlanda?". Revelou-se-me depois a rara sensibilidade e realismo com que ela mostra um primeiro amor da adolescência à juventude — ou seja, o anti Morangos com Açúcar, se quiserem. Bonita série..
Acabei de rever a 1ª temporada. O seu brilhantismo está em fazer precisamente o contrário de House of Cards: em vez de uma pessoa má conquistar o poder para se beneficiar, vemos como o mero exercício do poder é suficiente para transformar uma pessoa com boas intenções. Ainda uma das mais fascinantes séries dinamarquesas que vi e com certeza uma das melhores ficções políticas de sempre..
Cacei de um comentário de um amigo no Facebook e fui ver na Netflix. Uma paródia norueguesa de "Vikings", com a particularidade (rara hoje em dia) de ter sido gravada simultaneamente em norueguês e em inglês. Reparem como logo na cena inicial (em que um escravo reclama da dificuldade de comunicação a bordo do dracar) se sublinha uma sátira que tem como alvos não só o presente e o passado mas também a forma como o passado é representado hoje em dia. Quase um Asterix para o século XXI. Tonta e deliciosa..
No musical Une Femme Este Une Femme, "Angela" era uma figura essencialmente da ilusão e do espetáculo. Aqui, "Nana", prostituta por não conseguir ser atriz, está antes do cinema, antes da ilusão. Ou será Nana a Angela depois de falhar os seus sonhos? Godard neorrealista, mas, acima de tudo, construindo e desvendando o fenómeno Anna Karina.
Spike Jonze filma Ad-Rock e Mike D lembrando o seu percurso, homenageando Adam Yauch e pedindo desculpas por um dia terem sido misóginos. Enternecedor e divertido, mas achei o hype exagerado. Don't believe the hype.
Há um mês, Godard foi entrevistado para uma live. Está velhinho e parece ter um Parkinson leve. Diz tranquilamente que está a perder a memória de curto prazo e e até já se vai esquecendo de algumas palavras. Mas ainda manda umas bocas ótimas.
"Não sei se isto é uma comédia ou uma tragédia, mas, em todo o caso, é uma obra-prima". Godard engraçadinho.
Revi uns episódios da 1ª temporada ontem. Sempre defendi. Ainda é claro que, sob a capa de uma sitcom bobinha, é um grande artesanato sobre a arte de contar histórias. Porém, uma coisa sobressaiu: como a personagem do Ted é INSUPORTAVELMENTE chata.
Durante a quarentena, terminamos Friends e, pelo meio, comecei a rever Cheers. Friends faz-me rir, mas Cheers é sitcom para gente grande. Pensem que este episódio sobre um ex-jogador de basebol que se assume gay passou na TV aberta americana em pleno início do pânico da AIDS. É um triunfo de coragem. Cheers tinha personagens de carne e osso em episódios que, considerando tudo, são peças de teatros de 2 atos. Toda a gente ali é meio falhada, meio melancólica, meio triste. Que série incrível.
Li uma vez que o primeiro do Godard tinha envelhecido mal. Discordo. É um filme com energia, luminoso, tão inconsequente quanto relevante. Ou seja, jovem para sempre..