JVN, futurólogo dos livros
Lembra-me o Facebook uma série de posts que escrevi há exatamente dez anos onde falava sobre o futuro do livro, da publicação e das livrarias. Na altura, ainda pensava bastante no assunto, porque a minha experiência com a Sinapses — a "primeira editora portuguesa de livros online", dizem — estava relativamente fresca.
Previa então que não haveria massificação do mercado de e-books enquanto os e-readers não baixassem até aos 150€ (193 dólares da época). Creio ter acertado: em 2017, venderam-se 266 milhões de e-books só nos EUA, e o grande salto entre 2010 e 2011 (de 69 para 165 milhões) coincidiu com o lançamento do Kindle Keyboard a 139 dólares e do Touch a 99 dólares. A Amazon entendeu que a criação estruturada de um mercado mundial de e-books dependia da disponibilidade da oferta e que o seu verdadeiro produto, mais do que o Kindle, era os próprios livros. Antes do smartphone, era preciso distribuir o Kindle pelo mundo para criar um canal de vendas. Por isso, a empresa nunca lucrou muito com o aparelho, que continua bem barato (na Amazon espanhola, o Kindle mais barato custa 90 euros), mas com os livros que vende para ele.
A segunda parte da minha previsão não se concretizou, ou melhor, concretizou-se ao contrário. Sabendo da dificuldade e custo das livrarias e editoras para administrar o estoque físico, imaginei que estaria por vir uma grande abertura das mesmas às novas possibilidades tecnológicas. As livrarias seriam equipadas com telas, com um catálogo de ebooks disponível para consulta, e impressoras para print-on-demand. O cliente chegaria, escolheria o livro que queria comprar e este seria impresso em alguns minutos. Seria o fim de edições esgotadas, de livros que desaparecem das estantes duas semanas depois do lançamento, do "podemos fazer a encomenda e receber daqui a uns dias".
O setor poderia ter aproveitado para matar dois coelhos de uma cajadada — acompanhar os tempos e diminuir os custos do armazenamento físico —, mas isso não aconteceu. Se tivesse sido diferente, talvez hoje as livrarias vendessem tanto livros físicos quanto ebooks com um custo menor e talvez não tivéssemos visto a decadência da Barnes & Noble, da Fnac ou da Cultura.
Previa então que não haveria massificação do mercado de e-books enquanto os e-readers não baixassem até aos 150€ (193 dólares da época). Creio ter acertado: em 2017, venderam-se 266 milhões de e-books só nos EUA, e o grande salto entre 2010 e 2011 (de 69 para 165 milhões) coincidiu com o lançamento do Kindle Keyboard a 139 dólares e do Touch a 99 dólares. A Amazon entendeu que a criação estruturada de um mercado mundial de e-books dependia da disponibilidade da oferta e que o seu verdadeiro produto, mais do que o Kindle, era os próprios livros. Antes do smartphone, era preciso distribuir o Kindle pelo mundo para criar um canal de vendas. Por isso, a empresa nunca lucrou muito com o aparelho, que continua bem barato (na Amazon espanhola, o Kindle mais barato custa 90 euros), mas com os livros que vende para ele.
A segunda parte da minha previsão não se concretizou, ou melhor, concretizou-se ao contrário. Sabendo da dificuldade e custo das livrarias e editoras para administrar o estoque físico, imaginei que estaria por vir uma grande abertura das mesmas às novas possibilidades tecnológicas. As livrarias seriam equipadas com telas, com um catálogo de ebooks disponível para consulta, e impressoras para print-on-demand. O cliente chegaria, escolheria o livro que queria comprar e este seria impresso em alguns minutos. Seria o fim de edições esgotadas, de livros que desaparecem das estantes duas semanas depois do lançamento, do "podemos fazer a encomenda e receber daqui a uns dias".
O setor poderia ter aproveitado para matar dois coelhos de uma cajadada — acompanhar os tempos e diminuir os custos do armazenamento físico —, mas isso não aconteceu. Se tivesse sido diferente, talvez hoje as livrarias vendessem tanto livros físicos quanto ebooks com um custo menor e talvez não tivéssemos visto a decadência da Barnes & Noble, da Fnac ou da Cultura.