março 2016

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Presidente fraca contra os brutos

A história é feita pelos vencedores e, neste momento, os vencedores estão à direita do PT. Não importa que o percurso do indiciado Eduardo Cunha seja dos mais sinistros na política brasileira, não importam os exageros alucinados de Bolsonaro ou Feliciano na defesa de visões trogloditas. O país só tem olhos para o fim do que há agora. As manifestações do 13/3 são anti-corrupção ou anti-Dilma? Ninguém sabe já muito bem. Não importa mais. As pessoas estão mais interessadas em sair do impasse em que se encontram. E, digam o que disserem os defensores do PT, Dilma tem muita culpa desse impasse.

No segundo mandato, Dilma mostrou que não está à altura de lidar com a crise econômica, muito menos com a deserção política dos aliados. É surpreendente, para uma mulher que sempre pareceu tão forte, mas revelador: Dilma sabe resistir, mas não sabe mexer-se. Foi ineficaz no jogo político e deixou que um congresso adverso e oportunista a encostasse ao canto. Ela passou esse segundo mandato paralisada politicamente, e a renúncia não seria surpreendente.

Ironicamente aguentando Dilma no cargo, parece-me, está o mesmo pedido de impeachment que a tem ocupado e desgastado. Exagerado e com uma base muito discutível, ele sempre foi mais um instrumento de pressão contra ela do que um processo urgente para repor a justiça, mas hoje ele é uma razão forte para ela não abdicar do posto. Dilma disse que pedirem a renúncia dela é admitir que o impeachment não tem base, e o contrário também é verdade: ela resiste a renunciar, porque fazê-lo agora seria admitir que o impeachment tem base.

No Brasil e no mundo, hoje e sempre, líderes e partidos vêm e vão e, enquanto isso, os povos sofrem mais ou menos. Nada de novo, portanto. O preocupante é o que pode ascender ao poder depois que este status quo passar.

Lula foi forçado a depor usando uma lei que só deveria ser usada se ele se tivesse recusado a fazê-lo antes, e, sabemos agora, assim aconteceu com a maioria dos alvos da Lava Jato, assim revelando como mera desculpa a justificativa de Sergio Moro de que se tentava evitar o tumulto social que daria a marcação de um depoimento agendado do ex-presidente. O Ministério Público pediu a prisão preventiva de Lula sem que houvesse base jurídica suficiente e, em bloco, juristas e políticos ligados à oposição e ao Governo reprovaram. Talvez alguns só tivessem percebido então o tamanho do monstro que ajudaram a criar. Dois dias depois, a Polícia Militar entrou numa reunião de um sindicato que fazia um ato de solidariedade a Lula.

Não se trata de pôr em causa os méritos da investigação, das provas e dos argumentos jurídicos contra Lula. Trata-se de pensar no que foi revelado. A articulação próxima do judicial com a política, o atropelo dos direitos processuais básicos de acusados e ações intimidatórias da polícia (sempre com a desculpa de manter a estabilidade social, de evitar tumultos - em suma, de paternalmente defender a sociedade dela mesma) são mecanismos típicos das ditaduras. Fala-se muito em “golpe”, e talvez na sombra ele esteja a acontecer mesmo. Se Dilma é uma péssima jogadora do jogo político democrático, os seus adversários parecem não ter nenhum problema com atropelar as suas regras.

As manifestações do 13/3 superaram, segundo o Datafolha, as das Diretas Já. Nelas, Aécio Neves e Geraldo Alckmin, políticos de direita controversos, mas relativamente moderados, foram vaiados em São Paulo. Já o quase extremista Bolsonaro foi aclamado como “mito” em Brasília. O ódio específico contra o PT - não contra os corruptos, não contra os políticos, mas contra o PT- vem do quê? Não entendo, e também não entendo este afã por figuras de força bruta que não trazem nada de novo ou construtivo além do ódio. Se o objetivo de tudo isto é abrir um novo caminho no Brasil, com correções de falhas antigas, ele está irremediavelmente condenado a falhar.