A loucura dos outros (contínuo)

(07-02-2016, Domingo de Carnaval)
e o Thiago França dedicou uma música aos moradores de rua do Anhangabaú, e eles festejaram lá mesmo na frente do palco, sem camisas, um ou outro com os sacos pretos meio cheios de latinhas, e as pessoas limpas começaram a dançar em volta, e os da rua dançavam também, um tinha um balde na cabeça e passava uma escova pelo balde imaginário, e outro olhava calado e bêbedo as mulheres limpas que não costumava ver assim porque nos outros dias elas não chegam tão perto, e outro era gordo e tinha um boné caído sobre os olhos e o rapaz limpo abraçava-o e os amigos tiravam fotos rindo, e o homem posava porque nos outros dias ninguém lhe tira fotos, e então o gordo tentou abraçar todas as pessoas limpas para lhe tirarem mais fotos, mas algumas não quiseram e fugiram. Quando o Thiago França acabou o show, toda a gente foi embora, mas não os homens da rua, porque eles ainda pegaram nos sacos pretos e acabaram de enchê-los com as latas que as pessoas limpas tinham deixado no chão do no vale do Anhangabaú.

(03-02-2016)
O farol está verde para os carros. Uma moça estilo compro-artesanato-na-rua-com-o-dinheiro-que-meu-pai-me-dá atravessa a faixa sem ligar muito para o moço estilo leio-a-Veja-toda-semana-e-gosto-de-bebidas-com-energético que subia a rua de carro e já estava bem próximo dela. Ela ainda manda um sorrisinho e acena para o moço, mas ele não trava, ou não consegue travar, e passa encostadinho nela. O sorriso dela cai e, em protesto, bate com força no carro. O motorista avança uns metros, para não arriscar um pontapé, talvez, e grita "vaca!". Ela manda-o tomar no cu. Ambos seguem os seus caminhos,