dezembro 2015

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4 coisas que não vão mudar em 2016

OS POLÍTICOS NÃO VÃO MUDAR. Há 2 mil anos que a política é a arte de se servir e você acha que isso vai acabar por meia dúzia de mimimis em redes sociais? Isso é como querer que sua casa fique limpa porque você está no sofá se queixando. Se quiser lidar com a sujeira, aprenda a sujar-se antes.
 
O MUNDO NÃO VAI MUDAR. Se acha que acordos resolvem as crises do mundo, vá contar os acordos de paz que já houve entre Israel e Palestina ao longo das décadas. E, se acha que trocar um governo pelo outro vai resolver sua situação, pense que você não é nem pobre o suficiente para inspirar misericórdia nem rico o suficiente para inspirar respeito. Também pense que, até há uns 200 anos atrás, a classe média a que você pertence não existia e você teria muito mais chance de ganhar a vida escavando bosta de vaca. Detalhe: a vaca não seria sua.
 
OS OUTROS NÃO VÃO MUDAR. Pode desejar o que quiser, mas aquele tipo de coisas irritantes e patéticas que você leu no Facebook em 2015 vai continuar a aparecer em 2016. Os idiotas continuarão idiotas e o máximo que a virada vai inspirar neles é uma bebedeira.
 
VOCÊ NÃO VAI MUDAR. Não interessa a filosofia new age de meia tigela que você descobriu, o gif inspirador que viu ou as “iluminações” que teve. Você vai continuar a ser uma criatura imperfeita trilhando um caminho incerto num mundo hostil que continuará a parecer querer expulsar-te dele. Aprenda a apreciar a sua imperfeição e a ligar o foda-se e siga em frente.

35 anos

Morei em dois países, visitei mais dez, estive em dezenas de cidades e em 3 continentes. Habitei dez casas, seis em Portugal, quatro no Brasil. Morei com uma pessoa durante oito anos, estive em repúblicas com mais 30 pessoas e há quatro anos que moro sozinho. Namoradas, tive seis. Só vi um jogo de futebol num estádio - um belo jogo, por sinal. Nunca fui bom com desporto, mas era bom a jogar ao pião. Trabalhei em sete lugares. Fiz um curso na universidade, mas não segui a carreira. Sou pós-graduado, mas não me serviu de nada. Vendi discos numa loja, fiz transcrições de texto, fui jurista, advogado, sou argumentista, sou roteirista, gosto de escrever e sei que isso será algo que vou fazer de uma forma ou de outra até o corpo ou a vida me faltarem. Escrevi eventos corporativos, poesia, programas de televisão, filmes, óperas. Publiquei dois ou três livros. Não tenho dívidas. Sou a pessoa que não gosta de dirigir numa família em que há uma escola de condução. Tive duas bandas, lancei um disco com a segunda. Fui a vários concertos e festivais de música, incluindo Vilar de Mouros em 1982, mas não me lembro deste. Uma vez, fiz uma direta para poder ver um concerto em Coimbra e estar em Monção na manhã seguinte. Fui do jornal universitário, onde escrevi crítica de cinema e uma coluna bastante lida. Também era editor de fotografia, e orgulho-me de ter entusiasmado para a área alguns amigos que hoje vivem dela. Fotografei muito a sério e parei quando percebi que já estava bom. Fui membro de um grupo de poesia e do conselho de redação da respectiva revista. Escrevi um blog durante anos e parei de escrever quando deixou de me interessar. Fiz poetry slam, fui a uma final europeia. Ganhei concursos de escrita. Festivais de cinema, ganhei dois prémios num e fui jurado três vezes (não do que ganhei). Consigo tocar guitarra mais ou menos, e às vezes engano bem o suficiente para parecer que toco melhor. Cumprimentei o Mário Soares e o Jorge Sampaio (fui bem) e o Cavaco Silva (fui mal). Gosto de livros, de filmes e de séries. Conseguiria viver com café com leite e pão com manteiga. Não preciso de muita coisa, quanto menos tralhas melhor. Segurei uma pessoa enquanto ela morria, mas nunca segurei alguém acabado de nascer. Já perdi todos os meus avós e o meu tio. Adoro histórias, verdadeiras ou não, e gosto mais das pessoas que também gostam delas. Não gosto de joguinhos amorosos, mas agrada-me a política e suas jogadas de bastidores. Gosto de lavar louça, mas não de arrumá-la. Passar roupa a ferro aborrece-me e só faço a cama se souber que vem visitas. Sou de esquerda, mas agnóstico. Gosto de documentários sobre História mais do que sobre Natureza. Tive uma Mega Drive e defendia a Sega contra a Nintendo, apesar de ter tido um Game Boy já na universidade. Depois, comprei uma PSP, mas nunca joguei muito nela. Às vezes, queria conseguir mostrar mais que amo as pessoas que amo. Tenho poucos arrependimentos. Está tudo certo.