outubro 2012

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Fafá e Lollo









4 coisas sobre José Cardoso Pires, que hoje faria 87 anos


Verão de 2003. Estava a acabar o meu Interrail e lia O Delfim no comboio que me levaria a Coimbra. Era a edição de bolso, Alexandra Lencastre e Rogério Samora na capa e tudo. À minha volta, só gente a dormir. Estava absorto a ler aquilo, a admirar como três linhas temporais podem ser tão perfeitamente sobrepostas num monólogo interior. Uma miúda entrou no comboio com o namorado e procuraram os lugares deles. Entre um passo e outro, ela reparou na capa do livro. Sorriu. Também devia andar a correr a Europa há uns tempos. O livro lembrou-a de que a sua casa estava próxima.

Há 6 anos, pouco depois de me ter mudado para Lisboa. Passeando no Rossio à noite, alguém me diz que a estátua de D. Pedro IV não é dele, mas de um imperador mexicano. "Foi o Cardoso Pires que falou, no Lisboa Livro de Bordo".

Abril de 2011, British Bar do Cais do Sodré, durante umas semanas fora de São Paulo. Eu sabia que o Cardoso Pires ia lá (até porque têm um retrato dele na parede). Só não sabia que a minha mesa preferida - a que fica entre as duas portas - era a mesa preferida dele. Enquanto o empregado explicava isso a um freguês curioso e apontava para mim, eu estava a escrever no meu caderno. O retrato do escritor na minha frente, como que me olhando.

Na minha adolescência, lendo a Balada da Praia dos Cães, achando o livro chato, escuro, muito português-como-de-costume. Mas houve um momento que nunca mais me saiu da cabeça: a cena de masturbação do inspetor Elias. A minha mente era jovem e qualquer coisa sexual era sinónimo de alegria e expansão. Prazer e angústia não poderiam ser simultâneos. Desde então, podem.