Chegar

Recém chegado a São Paulo, uma coisa me saltou logo à vista, ou melhor, às glândulas sudoríparas: está calor. Bastante calor. Não tanto como esperavam aqueles que me diziam "mas no Brasil está sempre quente" e não sabiam que eu cheguei a andar com um cachecol amarrado na cabeça em Julho. Ainda assim, está bem quentinho. O que significa que, como eu saí ontem de casa com uma mochila, cheguei ao trabalho com uma mancha de suor muito bonita desenhada nas costas. Felizmente, como estou com jet lag e o meu cérebro está quatro horas adiantado em relação ao horário local, cheguei cedo demais, ainda não estava ninguém no escritório e pude ir para a varanda deixar que as costas me secassem ao sol. Sim, havia sol, até chegar o final da tarde com o seu smog anestésico, mas antes ainda conheci o novo estagiário da produtora, que me disse que em Portugal já não havia dinheiro. Eu ri-me e disse "é verdade", mas tinha percebido mal: ele tinha dito que em Portugal não havia "gelo", e alguém soltou um "porquê?" e ele respondeu "porque a senhora que fazia perdeu a receita". Por isso, como eu sou uma pessoa cruel e sem coração, mandei-o logo fotocopiar-me um livro. Mentira, ele até é bom rapaz. Respondi só com a piada de brasileiros que me contaram ainda em PT, da senhora que quer registar a filha com o nome "Arquibancada do Corinthians" e, perante a recusa do homem do registro, exclama "ué, mas meu vizinho registrou o filho como Geraldo Santos!". Ele não se riu muito, por isso, mandei-o mesmo fotocopiar-me um livro.

Yorumlar

  1. Quem assim agarra as realidades mais cruéis merece ter a maior inspiração para nos deliciar e continuar o seu percurso nas letras e nas palavras. Parabéns.

    ResponderExcluir