A poética dos dedos de Tony Iommi


Tony Iommi é o guitarrista dos Black Sabbath e, como saberá qualquer um que fazia parte das gentes que faziam rodas de violão e tinham cabelo comprido, ele perdeu duas falangetas da mão direita enquanto trabalhava numa fábrica. Ele pensou que isso o impediria para sempre de tocar, mas ele colocou umas próteses plásticas, o que acabou por definir a guitarra dos Sabbath: riffs grandiosos e lentos (já que ele não conseguia tocar muito depressa), e um som pesado, que as novas pontas postiças dos dedos facilitavam, porque, sendo canhoto, conseguia bater as cordas com muito mais força do que qualquer outro guitarrista.

Agora, pensemos: os Black Sabbath são de Birmingham, cidade fortemente industrializada, onde as opções eram ser operário de fábrica, patrão de fábrica, dono de fábrica - e para os membros da banda só a primeira era viável. O som deles é repetitivo e grande, tal como o barulho de máquinas industriais produzindo sem parar, e esta influência não é só deles. Já ouvi o James Hetfield dos Metallica, que trabalhou numa fábrica quando era puto, dizer exatamente a mesma coisa e até a expressão "heavy metal" foi criada, ao que parece, quando um crítico disse que a música do Jimi Hendrix era como "heavy metal falling from the sky".

Ou seja, há uma ligação direta entre o metal da indústria e o da música, como se este fosse a consequência musical no século XX da Revolução Industrial do século XIX. E nada incorpora tanto essa ligação como os dedos de Tony Iommi. O acidente que ele sofreu e o que ele conseguiu fazer com ele transformaram-no em História feita em corpo. E isso é bem bonito.