Não acredito em ter vida privada

Pelo menos, enquanto escritor. Por duas razões, ou talvez três. É preciso trabalhar muito, sentado a escrever e de pé a viver. Mesmo quando se vive, trabalha-se, porque o nosso trabalho é conhecer o mundo, as pessoas, os temperamentos. Sair à noite e conhecer alguém, amar alguém, quebrar um coração ou ter o teu quebrado, tudo isso é trabalho. Como todo o trabalho, tem objetivos a serem cumpridos. O nosso é dominar o conhecimento da polpa humana. Mas o escritor também não pode ter vida privada porque a vida do escritor é pública. Tudo o que se vive vai alimentar o que se produz. Por isso não acredito em vida privada.