Alô, alô, estupro, Brasil

Os fatos são que uma moça ficou bêbeda no Big Brother, andou aos amassos com um rapaz, foi dormir e ele saltou para baixo dos lençóis. Desde essa noite, o Brasil anda a discutir se ela foi estuprada. Se uma mulher bêbeda pode ser violada, os limites do consentimento, se o rapaz estava bêbedo também, se um bêbedo pode estuprar, etc. A Globo não mostrou nada na versão editada e, se não fosse o pessoal que viu tudo no pay per view e fez barulho nas redes sociais, talvez a polícia nem tivesse sido chamada.

Talvez seja o final da reality TV nos moldes que conhecemos dos últimos 15 anos. Parece-me claro que um programa que chega ao ponto de tornar tópico de discussão se uma mulher foi estrupada ou não em frente às câmeras foi longe demais. O formato BB assenta em fazer coisas acontecer para gerar fofoca, esse é a motivação dele. Um noticiário informa, uma novela conta histórias, o BB gera fofocas. Tudo bem. Ninguém é santo, a fazer TV muito menos. Mas permitir-se colocar pessoas numa condição em que este tipo de dúvida pode surgir é chegar no puro vazio. O atrativo que o BB poderia ter foi-se. A fantasia que ele criava, o mundo além do mundo que, como a Disneylândia, ele arquitetava, desfez-se quando ele se perdeu dentro dele mesmo e bateu de frente contra o real. E essa fantasia nunca mais se recuperará, porque mais ninguém volta a acreditar no Papai Noel depois que sabe que ele é o tio com uma barba.

Marcelino Freire tem razão:
Acho que virei puritano,
melhor eu ficar na minha.

Só não posso concordar
que apenas o negro
tenha de pagar pelo abuso
coletivo.

Por debaixo dos panos,
todas as noites,
sempre foi este
o nosso programa
preferido.