Tudo o que precisas saber

Podes ter uma vida só, que não se mexe e não sai do lugar.

Podes ter muitas vidas ao mesmo tempo. Isso não é necessariamente bom. Uma pessoa que conheci em tempos e que hoje passa na TV e tudo disse-me que tu podes ser qualquer coisa que quiseres, desde que sejas suficientemente bom a manipular a aparência do que és. Eu quis acreditar que a essência é mais importante, mas isso não é verdade. Tu não tens controlo sobre a tua essência. Tu és aquilo que o mundo te deixa ser e só podes decidir o resto dentro desse quadro de limites. Se cresceste a ouvir coisas más sobre ti e com a paranóia de que te comentassem, vais aprender a ligar pouco às opiniões dos outros. Vai ser a tua estratégia de sobrevivência. Claro, isso faz-te dizer "o importante é o que sou". Mas tu só o dizes em reação ao fato de não poderes contar com ninguém. Se o mundo te ensinou a estares sozinho, é isso que vais aprender, quer queiras quer não.

Podes ter muitas vidas seguidas. Podes ser um pai e um marido num determinado lugar e tempo. Podes estar sem família e sem amigos noutros. Não é tão impossível que, num ano, sejas engenheiro e Israel e no próximo um vagabundo em Barcelona. Não é mesmo impossível e, quando for assim, vais pensar em tudo aquilo que já foste antes. Filho dedicado, mau trabalhador, bom trabalhador, agredido, agressor, santo, assassino, contabilista dos dias, pintor da vida dos outros. Tudo isso se soma. Tu estás sempre a superar o que foste, a caminho de algo que não prevês nem antecipas e, provavelmente, não desejas particularmente. É uma viagem cujo destino te é escondido: uma versão ou sequela, não particularmente valiosa ou especial, do que já és. As memórias, tem-las sempre. E a esperança também.

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