This is the end

Angélico Vieira não era uma pessoa que me dissesse muita coisa. Sim, vi em 2005 a meia temporada em que ele espontou nos Morangos com Açúcar, a mesma que revelou a Cláudia Vieira e a Rita Pereira, o que só prova que trabalhar como jurista no setor público não me estava a fazer muito bem à cabeça. Enfim, ele era uma celebridade, famoso não por ter algum especial supertalento. A música que fazia não era especialmente inovadora e, enquanto entretenimento, não era particularmente espetacular. As suas participações na televisão foram em novelas, onde interpretava tipos. No cinema o título mais respeitável que fez foi o 20,13 do Joaquim Leitão, que sinceramente não vi, mas nunca me constou que ele fosse impressionantemente bem nele. De resto, namorava com atrizes e mulheres cobiçadas, publicitava moda, as revistas publicavam fotografias dele em eventos.

Mas há uma coisa que não se está a dizer muito acerca desta morte pública. Angélico Vieira, bom ou mau gosto à parte, era um homem bonito. Ele tinha uma cara bonita, ele tinha um corpo bonito. Era isso que subjazia a tudo o que ele fazia e, às vezes, uma cara bonita vende uma canção melhor do que uma grande voz ou uma personagem-tipo numa novela melhor do que um ator do Método. A questão é que ele era uma celebridade, mas não era grande. Marylin Monroe será grande, porque havia uma dor enorme dentro dela: a de querer provar ser mais do que a loira burra que toda a gente pensava que ela era. Angélico Vieira não teve tempo para ganhar essa dor ou, pelo menos, para integrá-la no seu percurso de artista. Assim, ele acabou por ser só a superfície em que sempre foi representado.

Enquanto artista e figura pública, ele nunca teve complexidade e até pode ser que ela nunca lhe chegasse. Mas, ao rapiná-lo assim, a morte tirou um homem bonito a oportunidade de explorar tudo o que podia ser. A morte tirou a Angélico Vieira a oportunidade de ser interessante, de ser grande. E isso tem tudo a ver com toda a gente.