Sobre não saber falar com as pessoas

Eu sou daqueles que têm algum jeito com palavras, não tanto com pessoas. Ou seja, quando inspirado, consigo comunicar bem as minhas idéias e até, quem sabe, divertir ou emocionar os outros. Para mim, comunicar tem sempre um objetivo. Eu quero que esta pessoa se sinta melhor com ela própria ou com o mundo, quero combater o ponto de vista dela ao ponto de ela se sentir humilhada por ter dito tamanha idiotice, quero convencê-la de que há melhores maneiras de pensar nas coisas e na humanidade. Ou, se ela for o Durão Barroso, quero ridicularizá-lo na frente dos outros. Nessa perspetiva, tudo é válido.

Mas entender, em relações ou momentos concretos, o que é que as pessoas querem sentir é sempre um mistério para mim. Um desafio permanente, como um jogo de xadrez que nunca acaba. Esse desencontro entre o conhecimento do objetivo e o da técnica é uma equação que estás sempre a tentar resolver. E por isso às vezes magoas quem não queres, e por isso dizes as coisas erradas.

A tua ingenuidade pode ser de diversa ordem. Não entenderes o que as pessoas querem de ti pode fazer com que peques por excesso ou por defeito, por dizer demais ou por dizer de menos. E, por muito que gostasses de pensar o contrário, entre a sinceridade e a mentira existem muitos níveis. O fato de não teres sentimentos maus dentro de ti contra alguém (exceto, ocasionalmente, o Durão Barroso) não quer dizer nada. Tens constantemente que escolher as palavras. Ou, então, escolher o silêncio. Isso pode significar pecar por defeito. Mas às vezes é a melhor solução.