Canções do exílio: "Melodia Sentimental"

Hoje, dia 22 de Maio, faz um ano que pus o pé no Brasil. Efemérides devem comemorar-se e, na falta de fundos públicos para construir uma representação fálica de mim mesmo, durante um mês vou pôr aqui algumas das músicas que mais me encheram os ouvidos durante estes tempos.

Esta versão da Melodia Sentimental é - sem exageros - uma das canções mais belas que ouvi. A vulnerabilidade que o quarteto de músicos lhe dá, reduzindo-lhe o corpo com que ela fica com a orquestra na sua versão original de ópera, intensifica a noite que nela há, o escuro do mundo, a lua prateada lá em cima, um homem sozinho cá em baixo esmagado pela beleza de tudo. É perfeitamente possível ver onde estamos. Já o canto do Ney Matogrosso, claro, mas dolente e despojado, acentua aquilo que uma interpretação mais orelhuda esconde: um tema atravessado pela solidão.

http://www.youtube.com/watch?v=AQPddEHfLHs
Canção: Melodia Sentimental
Disco: A Floresta do Amazonas de Villa-Lobos (Assis Brasil)
Músicos: João Carlos Assis Brasil, piano; Ney Matogrosso, voz; Wagner Tiso, piano e sintetizadores; Jaques Morelenbaum, violoncelo; Jurim Moreira, percussão.

Letra:
Acorda, vem ver a lua
Que dorme na noite escura
Que surge tão bela e branca
Derramando doçura
Clara chama silente
Ardendo meu sonhar

As asas da noite que surgem
E correm no espaço profundo
Oh, doce amada, desperta
Vem dar teu calor ao luar

Quisera saber-te minha
Na hora serena e calma
A sombra confia ao vento
O limite da espera
Quando dentro da noite
Reclama o teu amor

Acorda, vem olhar a lua
Que brilha na noite escura
Querida, és linda e meiga
Sentir meu amor e sonhar